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Policial que matou colegas recebeu atestado psicológico dias antes do crime

Policial civil suspeito foi preso após se entregar à PM, em Camocim, no Ceará - Reprodução
Policial civil suspeito foi preso após se entregar à PM, em Camocim, no Ceará Imagem: Reprodução

Patrícia Calderón

Do UOL, em Fortaleza

16/05/2023 21h42Atualizada em 16/05/2023 22h18

O policial civil Antônio Alves Dourado, 44, que confessou assassinar quatro colegas policiais dentro de uma delegacia de Camocim (CE) no domingo (14), recebeu um atestado psicológico para se ausentar do trabalho, e família diz que pedido foi negado por delegado. A Polícia Civil nega ter recebido o documento.

O que aconteceu:

De acordo com a psicóloga Aline Spindola Cavalcante, o policial foi atendido no dia 11 de maio, três dias antes da chacina, e lhe foi recomendado afastamento das funções. "Foram 50 minutos de conversa e eu avaliei que, além do descanso do trabalho, ele também precisaria de um acompanhamento psiquiátrico [...] Em nenhum momento ele detalhou problemas pessoais ou profissionais", afirmou ao UOL.

O documento, ao qual o UOL teve acesso justificava a necessidade de afastamento do agente por 15 dias. Entre os sintomas descritos estavam insônia, ansiedade, desânimo e dificuldade de concentração.

A esposa de Antônio, Francisca Niciane dos Santos Silva Dourado, alega que o afastamento foi solicitado, mas, segundo ela, foi negado pelo delegado regional Adriano Zeferino de Vasconcelos. A mulher disse que o superior não quis receber o documento. "Meu marido surtou por tanta perseguição que sofria. Ele sempre foi um bom pai, um bom marido, jamais cometeria essa tragédia. Nada justifica, porém, ele surtou, ele está doente", afirmou.

O UOL procurou diretamente o delegado Adriano de Vasconcelos, que preferiu não se pronunciar e indicou que as justificativas seriam apresentadas pela corporação.

A Polícia Civil negou que Dourado tenha apresentado atestado médico e afirmou que ele "tinha conhecimento dos trâmites de pedidos de licença", porque já havia solicitado o direito três vezes antes: duas por problemas na coluna e uma quando contraiu covid-19.

A instituição também ressaltou que trabalha com a hipótese de que o crime foi premeditado, uma vez que os assassinatos ocorreram quando o policial estava de folga, na madrugada do domingo.

Policial confessou crime e alegou perseguição

Em depoimento, Dourado assumiu ser o autor da chacina e disse que sofria perseguição no ambiente de trabalho. Ele falou que foi "punido" pela instituição após fazer uma denúncia há dez anos sobre as condições de trabalho e usou esse argumento para tentar justificar o crime.

Na madrugada de domingo (14), três policiais foram mortos a tiros enquanto dormiam. Um quarto policial que estava de plantão, tentou fugir, mas acabou morto a tiros pelas costas. A intenção do policial, segundo a PM, era matar os colegas asfixiados com gás, mas ele disparou contra os agentes após ser flagrado por uma das vítimas no primeiro andar do prédio.

O delegado responsável pela delegacia de Camocim (CE) disse que andava de colete à prova de balas por receio do suspeito, e cogitava transferir o policial de unidade. Segundo ele, Dourado sempre deu problema nas delegacias onde trabalhou.

O suspeito diz que sofria assédio moral e que sua denúncia pode ajudar a corporação, servindo de exemplo impedindo que "monstros cresçam dentro de uma instituição de segurança e tirem a vida de cinco famílias, cinco pais de família", disse, incluindo também a si mesmo. A fala consta em vídeo gravado durante audiência de custódia, que circula nas redes sociais.

A reportagem ouviu moradores de Camocim, que relataram que a delegacia permanece fechada desde o dia do crime. Algumas ocorrências no município estão sendo registradas em Sobral (CE), a 120 km de distância.

vitimas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os policiais Gabriel de Souza, Francisco Pereira, Antônio Claudio e Antônio José, vítimas de chacina em delegacia de Camocim (CE)
Imagem: Arquivo pessoal

Quem são as vítimas da chacina

Antônio Cláudio, 46, ingressou na Polícia Civil no ano de 2013. O escrivão prestou serviços nas Delegacias de Sobral e Chaval. Atualmente, o profissional estava lotado na Delegacia Regional de Camocim.

O escrivão Antônio José Rodrigues Miranda, 43, conhecido como "Miranda", ingressou na Polícia Civil em 2011. Ele prestava serviço na Delegacia Regional de Camocim, onde estava lotado desde a sua admissão. Ainda com base no seu registro, antes de ser policial civil, Miranda trabalhou ainda como Guarda Municipal de Camocim.

O escrivão Francisco dos Santos Pereira, 46, também conhecido pelos colegas policiais como "Chicão", trabalhou na Polícia Civil durante 12 anos. Francisco prestou serviços na Delegacia Municipal de Granja e na Delegacia Regional de Camocim, onde estava lotado atualmente. Em seu registro, constavam elogios pelo excelente serviço prestado, bem como pelo bom atendimento ao público.

O inspetor Gabriel de Souza, 36, era natural do Piauí, e ingressou na PC-CE em 2013, onde atuou nas Delegacias de Ibiapina, Tianguá, Jijoca de Jericoacoara e Camocim, onde estava lotado atualmente.