Assassinatos caem no Grande Rio e dobram na Barra da Tijuca

O número de homicídios dolosos na área atendida pela 16ª DP (Barra da Tijuca, zona oeste do Rio) saltou de 11, em 2022, para 22, nos oito primeiros meses deste ano — o que exclui do levantamento o assassinato ontem de três médicos num quisque. Na região metropolitana, o total de mortes violentas no mesmo período caiu de 2.062 para 1.521.

O que aconteceu

Quantidade de homicídios dolosos na Barra cresce desde 2021. Naquele ano, a região da 16ª DP registrou 10 casos. De lá para cá, os números aumentaram e voltaram aos índices verificados antes da pandemia de covid-19. Em 2019, a área coberta pela delegacia da Barra registrou 22 casos de assassinato. Os dados são do Instituto de Segurança Pública do Rio.

Apesar da alta nos homicídios dolosos, bairro tem taxa de mortes por 100 mil habitantes menor do que a região metropolitana. Entre janeiro e agosto de 2023, a Barra da Tijuca registrou 6 assassinatos para cada 100 mil habitantes — contra uma taxa de 15 pessoas mortas para cada 100 mil habitantes no Grande Rio. O bairro tem 130 mil moradores, segundo o Censo 2010.

Procurada, a Polícia Civil lembrou que os números atuais da Barra são menores do que os de antes da pandemia. Um representante da instituição destacou que a região da 16ª DP registrou 30 assassinatos em 2018.

Questionada sobre os motivos para a alta recente nos assassinatos, a Polícia Civil informou que a resposta dependeria de um retorno da Delegacia de Homicidios da capital — inteiramente mobilizada para investigação da morte dos médicos neste momento.

Já a Polícia Militar informou que a Barra tem tido seu policiamento reforçado nos últimos anos. Um representante da corporação citou o projeto Bairro Presente, no qual policiais e agentes civis são contratados para incrementar o patrulhamento áreas da cidade e está no bairro em 2019. Ele afirmou ainda que PMs foram deslocados para a região após os assassinatos.

Número de ocorrências varia entre regiões da cidade. Na área da 36ª DP (Santa Cruz), houve 43 homicídios dolosos entre janeiro e agosto de 2023. Já na zona da 15ª DP (Gávea), uma das mais ricas do Rio, o último caso de assassinato foi registrado em julho de 2022.

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Delegado responsável é o mesmo do caso Henry Borel. Henrique Damasceno é diretor do Departamento Geral de Homicídios e investigou assassinato em 2021 de garoto de quatro anos após espancamento pelo vereador Jairo Souza Santos Júnior (Solidariedade), conhecido como Jairinho, em um apartamento na Barra.

A Polícia Civil está se utilizando de todas as ferramentas possíveis para conseguirmos o máximo de provas o quanto antes para darmos a efetiva resposta a esse caso

Henrique Damasceno, delegado e diretor do Departamento Geral de Homicídios, em entrevista coletiva

Aumento da violência reflete disputa por territórios

A zona Oeste tem sido palco de confrontos que opõem milicianos e traficantes. Região abrange áreas nobres — como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes — e bairros periféricos — como Campo Grande e Santa Cruz. Locais como Cidade de Deus, Praça Seca e Rio das Pedras também ficam nessa parte da cidade.

O local onde as mortes aconteceram e o próprio perfil das vítimas não coincidem com aqueles verificados na maioria dos assassinatos que acontecem no Rio. Entretanto, a disputa de territórios por grupos armados na cidade é tão intensa que, eventualmente, transborda das regiões onde está mais concentrada, como parece ter acontecido nesse caso. Se reduzirmos as mortes violentas onde elas são mais comuns hoje, a chance delas acontecerem em contexto onde são menos recorrentes também cai.
Daniel Hirata, professor do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos na Universidade Federal Fluminense

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Guerra começou após assassinato de Wellington da Silva Braga, o Ecko, em 2021. Com a morte do chefe da maior milícia do Rio, o grupo se dividiu. Irmão de Ecko, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, assumiu o controle da Zona Oeste. Outro integrante do bando, Danilo Dias Lima, o Tandera, ficou com a Baixada Fluminense. Diante do racha, os traficantes do Comando Vermelho começaram a disputar territórios com os milicianos nas duas regiões.

Um terço das chacinas na região metropolitana do Rio em 2023 aconteceu na Zona Oeste. Foram 12 ocorrências, com 43 pessoas mortas. Ao todo, o Grande Rio teve 37 chacinas desde o início do ano, que resultaram na morte de 141 pessoas, segundo o Instituto Fogo Cruzado, que monitora dados de segurança.

O que aconteceu na Barra da Tijuca essa madrugada não é um caso isolado. Sozinha, a Zona Oeste do Rio de Janeiro concentrou um terço das chacinas ocorridas em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos. Em 2023 registramos um crescimento de 54% nos tiroteios na Zona Oeste. É uma tragédia.
Carlos Nhanga, coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro

O assassinato dos médicos foi a primeira chacina na Barra este ano. Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro Almeida e Diego Ralf de Souza Bomfim bebiam em um quiosque à beira-mar quando homens armados desceram de um carro branco e dispararam contra eles. Nenhum dos três resistiu. Daniel Sonnewend Proença, que estava com o grupo, foi levado com vida para o Hospital Municipal Lourenço Jorge.

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