Rosto marcado: por que criminosos famosos são mortos após deixar prisão

Assaltos, tráfico de drogas, sequestros, estupros, assassinatos. A lista de crimes praticados pelos mais famosos criminosos brasileiros é extensa. Se, por um lado, enfrentam ameaças e situações violentas nas prisões, por outro, tornam-se vulneráveis ao deixá-las e muitos acabam morrendo logo após deixarem a prisão —após serem soltos pela Justiça ou por fugirem do sistema carcerário.

As regras impostas pelo próprio "código do crime", como retaliações ao cometimento de estupro, delações e ataques cometidos contra outros criminosos, são apontados por criminalistas como alguns dos fatores que elevam o "risco liberdade".

"Criminosos como Playboy atuavam à frente do tráfico de drogas, uma atividade não apenas ilegal, mas que pela própria atuação o colocou em confronto com traficantes rivais", afirma o advogado criminalista Jeyzel Credidio, especialista em direito penal, processo penal e direito militar.

Nomes mais famosos, como Pedrinho matador e Helinho Justiceiro, foram criminosos que caçavam, justamente, outros criminosos.

"Se pensarmos que as facções criminosas estão distribuídas em todo o território nacional, fica ainda mais difícil um ex-presidiário tão famoso se esconder ou buscar proteção, especialmente se cometeu crimes que os próprios criminosos condenam."

A Constituição Federal brasileira prevê no Artigo 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida.

Mas a Justiça brasileira não fornece automaticamente proteção aos ameaçados de morte ainda na prisão, apesar de existirem programas como o de proteção a vítimas e testemunhas, que pode ser estendido a criminosos que já cumpriram pena.

"A proteção é difícil, pois na maioria das vezes os ex-detentos não querem ajuda do Estado", afirma Eduardo Maurício, presidente da Comissão Estadual de Direito Penal Internacional da Abracrim-SP (Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas no Estado de São Paulo) e membro da AIDP (Associação Internacional de Direito Penal) em Portugal e na França.

Esses criminosos costumam viver em um "mundo paralelo", como o especialista chama os presídios federais, "com quase nenhum contato com o mundo externo e sujeitos a controle extremo dentro do cárcere". "Eles saem do presídio revoltados com o sistema e com o próprio Estado", diz.

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"Além disso, ganham inimigos na vida do crime, sendo impossível o Estado conseguir proteger 24 horas por dia um cidadão normal, que dirá indivíduos de alta periculosidade. Eles se sentem mais seguros pela facção criminosa do que pelo Estado", ressalta Maurício.

Há ainda uma dificuldade para quem tenta voltar à sociedade após cumprir a pena —o princípio básico da reabilitação para reduzir as chances de reincidência criminal.

"A lei de execução penal traz como princípio a ressocialização, portanto respeitar os direitos básicos dos ex-detentos é fundamental para promover um sistema de justiça equitativo e evitar a perpetuação do discurso de ódio", lembra Antonio Belarmino Júnior, especialista em direito e governança global pela Universidade de Salamanca, na Espanha, e presidente da Abracrim-SP.

O ideal seria proporcionar oportunidade de se reabilitarem pela educação e treinamento profissional, além da eliminação do estigma associado à condenação criminal, mas sabemos que, na prática, isso ainda está longe de funcionar.

Casos famosos

O UOL listou 3 dos mais famosos criminosos brasileiros que, após uma vida intensa de crimes, foram presos e acabaram tendo um fim trágico após deixarem a cadeia.

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Playboy

Nascido em 1978, o traficante Celso Pinheiro Pimenta, também conhecido como Playboy, liderava a facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos) e controlava o comércio de drogas na favela da Rocinha e em outras comunidades cariocas.

Celso Pinheiro Pimenta, também conhecido como Playboy, liderava a facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos)
Celso Pinheiro Pimenta, também conhecido como Playboy, liderava a facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos) Imagem: Reprodução

Ele se tornou um dos criminosos mais procurados no Rio de Janeiro, levando uma vida de luxo com carros importados, joias e festas extravagantes. Era conhecido por sua brutalidade no comando de sequestros, assassinatos e confrontos com rivais e forças policiais

Em 2008, Playboy foi detido, mas escapou da prisão rapidamente. Permaneceu foragido por anos, envolvido em atividades relacionadas ao tráfico de drogas e outros crimes, até que morreu em confronto com a polícia em 2015.

Bandido da Luz Vermelha

João Acácio Pereira da Costa, conhecido como o "Bandido da Luz Vermelha", tornou-se um criminoso proeminente na década de 1960 após uma série de roubos e homicídios. Ele ganhou esse apelido por usar uma lanterna com luz vermelha para cometer seus crimes e evitar a identificação.

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João Acácio Pereira da Costa, conhecido como bandido da Luz Vermelha
João Acácio Pereira da Costa, conhecido como bandido da Luz Vermelha Imagem: Rogério Soares/Folhapress. Data: 01/11/1995

Nascido em 1942, em Santa Catarina, começou no crime na adolescência. Mudou-se para São Paulo nos anos 1960, quando foi acusado de mais de 100 invasões, quatro homicídios, além de estupros e roubos.

O Bandido da Luz Vermelha foi preso em julho de 1967 após uma intensa perseguição policial, cumprindo pena em várias penitenciárias de São Paulo. Em 1997, após 30 anos de prisão, recebeu liberdade condicional e foi transferido para o regime semiaberto. Foi assassinado em 1998, em Joinville (SC), durante uma briga de bar. Ele estava solto há quatro meses e 20 dias.

Pedrinho Matador

Pedro Rodrigues Filho, conhecido como Pedrinho Matador, é um dos mais notórios assassinos em série do Brasil. Nascido em 1954, em Minas Gerais, ele cometeu mais de 70 homicídios, incluindo vítimas relacionadas ao crime organizado.

Pedrinho Matador, Pedro Rodrigues Filho
Pedrinho Matador, Pedro Rodrigues Filho Imagem: Robson Ventura/Folhapress
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Seu primeiro assassinato foi aos 14 anos, quando matou um vice-prefeito, supostamente em retaliação à demissão de seu pai por motivos políticos. A partir daí, iniciou uma série de homicídios, alegando que estava "limpando" a sociedade ao eliminar criminosos e pessoas envolvidas com o crime.

Foi preso pela primeira vez em 1973. Nesse período, matou seu próprio pai, que também estava detido por homicídio.

Ele foi condenado a mais de 400 anos de prisão, mas a lei brasileira limita a detenção a 30 anos.

Ele ganhou a liberdade em 2007, após 34 anos na cadeia, voltou a ser preso em 2011, por envolvimento em motins e incitação à violência dentro de presídios, e foi solto novamente em 2018, quando chegou a criar um canal no YouTube para comentar crimes.

Em 2023, morreu aos 68 anos, na porta de casa, ao ser atingido por tiros disparados por dois homens usando máscaras. Acredita-se que ele foi um acerto de contas com o PCC.

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