'Diziam que cidade ia acabar': há 37 anos, cratera assustava Cajamar (SP)
Uma cratera aberta em agosto de 1986 na cidade de Cajamar, na Grande SP, esvaziou bairros, num processo semelhante ao que ocorre em Maceió pela iminência do colapso de uma mina subterrânea.
O buraco ficou conhecido mundialmente. Falava-se que ia acabar tudo, a cidade inteira...
Ari da Silva Domingues, 79, morador de Cajamar
O que aconteceu
A cratera engoliu oito casas e deixou ao menos 150 inabitáveis, mas ninguém ficou ferido. Em 12 de agosto, moradores da antiga rua Barão do Rio Branco (hoje Waldomiro dos Santos), na região central da cidade, acordaram com barulhos que pareciam trovoadas e explosões. Surgiram rachaduras nas paredes de casas, e um buraco no quintal de um morador rapidamente se alargou.
Decreto de calamidade pública e 22 quarteirões foram esvaziados. O prefeito à época, Aristides Ribas de Andrade, determinou que fossem desabitadas as casas que ficavam na área dos 22 quarteirões mais próximos ao buraco.
A cratera passou de 10 metros de diâmetro para 60 em dois meses, atingindo 13 metros de profundidade. A possibilidade de um terremoto foi descartada por técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) chamados pela prefeitura.
Cerca de 3 mil pessoas foram morar nas escolas da cidade ou na casa de parentes. "Meus pais moravam na rua de trás e vieram ficar na minha casa. Meu pai [Gino Rezaghi] era vereador na época, tinha acesso aos laudos feitos mostrando a gravidade da situação e ficou com medo. Nunca mais quis voltar", relembra a aposentada Ana Maria Eufrasio Rezaghi Novo, 68.
A exploração do subsolo foi apontada como agente detonador do processo. Técnicos do IPT, com auxílio de geólogos vindos dos Estados Unidos, concluíram que o subsolo era rochoso, com cavidades preenchidas por água que era retirada por uma indústria de bebidas e pela Sabesp, o que resultou na fragilização do terreno. Detonações numa pedreira próxima ao local também teriam contribuído.
Como é o local hoje
Não houve mais registro de incidentes no local desde então. O volume da cratera se estabilizou em dezembro de 1986; no ano seguinte, água subterrânea surgiu no fundo do buraco.
Mais de 1.100 caminhões foram usados para aterrá-la, conta o aposentado Ari da Silva Domingues. Ele era diretor de serviços municipais da prefeitura na época e construía uma casa na região, que não foi atingida.
O local onde ficava o buraco virou a "praça do buraco". A praça Alfredo Soria, construída onde ficava a cratera, ganhou esse apelido da população e abriga quadras de futebol e de basquete, além de pista de skate e um playground. Crianças e adolescentes participantes de projeto social brincavam na área de lazer na manhã de quinta-feira (7), quando o UOL visitou o local.
Muitos dos moradores afetados em 1986 voltaram a morar na região. Dono de uma casa na frente de onde ficava o buraco, o aposentado Djalma Rodrigues Costa, 68, diz ter retornado ao bairro cerca de um ano depois. "Não é que podia voltar, mas peguei minhas coisas e vim. Minha casa não sofreu danos, mas foi um transtorno, era casado e já tinha dois filhos. Acho que não tem por que acontecer [de novo], não está extraindo nada", diz.
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Quero receberEle passava de 60 metros (de diâmetro). Isso aqui ficou um deserto, foi terrível, uma situação de total abandono. Foi uma grande tristeza ver a cidade nessa situação.
Ari da Silva Domingues
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