Conteúdo publicado há 2 meses

Entregador baleado por PM abriu os olhos e conversou com família, diz tio

O entregador baleado após um policial militar ter se recusado a descer para buscar o pedido na portaria abriu os olhos e conversou com familiares. Nilton Ramon de Oliveira está internado no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, na zona norte do Rio.

O que aconteceu

O tio do entregador, que preferiu não se identificar, contou que o jovem de 24 anos realizou duas cirurgias. Ele esclareceu que o projétil não precisou ser retirado do corpo de Nilton, já que a bala atravessou a perna dele.

Nesta terça-feira (5), ele acordou e conversou com familiares. "Ele fez todos os procedimentos, graças a Deus está falando, abriu os olhos e falou chamando pela minha filha. Deu um sorriso para minha esposa, que é quem está acompanhando os procedimentos", contou o tio.

A Secretaria Municipal de Saúde esclareceu que o estado de saúde de Nilton ainda é grave. O entregador levou um tiro na perna. De acordo com o tio, o disparo atingiu a veia femoral, o que o levou a perder muito sangue. "Na cirurgia de ontem, os médicos reconstruíram a artéria, mas de ontem para hoje, não deu certo. Foi necessário fazer outro procedimento, conhecido como bypass", explicou.

"Um menino de bom coração", diz tio

Conhecido pelos familiares como "Niltinho", o entregador trabalha no ramo há quase quatro anos. O tio conta que ele teve poucas oportunidades na vida, mas que é um menino esforçado. "Não foi criado pela mãe, passou pouco tempo com o pai, um menino esforçado, largou os estudos para trabalhar, que era o que ele estava fazendo, um menino muito esforçado, um menino de bom coração, sabe?", disse.

O tio explicou que nunca imaginou que o sobrinho fosse ser baleado durante o trabalho. "Minha cunhada veio me avisar dizendo que seria um acidente. Eu troquei de roupa rapidinho, peguei o carro e fui até o encontro dele. No caminho, descobri que ele tinha sido baleado", lamentou.

Imagina você receber uma notícia de que um anjo querido teu tomou um tiro, foi parar no hospital, sabe, ensanguentado, sei lá, a gente tomou um susto muito grande, mas Deus é tão bom que ele deu todo o suporte, o menino tá se recuperando bem.
Tio de Nilton

Entenda o caso

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O policial militar e a esposa dele fizeram um pedido de comida por aplicativo, que foi entregue por Nilton. Após a chegada da encomenda, o agente e a mulher teriam se recusado a descer para buscá-la, e o entregador informou que não iria subir até o apartamento deles porque não fazia parte de seu trabalho. As autoridades não divulgaram a identidade do agente, mas, segundo o jornal O Globo, seria Roy Martins Cavalcanti.

Como o PM não desceu, o entregador fez os trâmites de devolução do produto e retornou para o estabelecimento onde a compra foi feita, quando foi abordado pelo cliente, na praça Saiqui. Imagens feitas por Nilton mostram ele e Roy discutindo. O agente está armado e questiona por que o entregador está "com a mão na cintura". O jovem nega que esteja armado, levanta a camisa e fala: "Tô armado não, filho. Sou trabalhador".

Em seguida, o jovem diz estar sendo ameaçado pelo policial. "Ele está tentando me agredir. Mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão", falou o trabalhador.

O agente rebate o entregador e diz que ele teria sido mal-educado com sua esposa. "Trabalhador o caralh*. Minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no seu c*. Seja educado. Não se propõe a fazer entrega? Então seja educado. Minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação".

Posteriormente, é possível ver Nilton caído no chão, ensanguentado, baleado na perna. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier.

O policial se apresentou na delegacia, prestou depoimento no 32º DP de Taquara e foi liberado em seguida. Roy alegou ter agido em legítima defesa. Não foi informado se ele teve a arma apreendida. O caso é investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.

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Em nota, a Polícia Militar informou que a Corregedoria abriu um procedimento para averiguar as circunstâncias do fato e que ocorrência está em andamento.

O UOL não conseguiu localizar o agente ou sua defesa para pedido de posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

iFood bane PM da plataforma e diz que Nilton agiu corretamente

Em nota ao UOL, o iFood informou que a conta do PM foi banida da plataforma. Afirmando "não tolerar qualquer tipo de violência contra os entregadores parceiros", a plataforma disse que o entregador está recebendo apoio jurídico, por meio da atuação de uma advogada do coletivo de defensoras Black Sisters em Law, que acompanhará todo o processo jurídico do caso.

"Nilton agiu corretamente", diz gerente do iFood. Tatiane Alves também informou que a plataforma está em contato com familiares do trabalhador e se colocou à disposição para apoiá-los no que for necessário.

Entregador deve entregar pedido em "primeiro ponto de contato", seja portão da casa ou portaria do prédio. A empresa disse informar os entregadores e consumidores sobre a recomendação. Ainda segundo a plataforma, ela vem promovendo iniciativas ações para conscientização de moradores e capacitação de profissionais de condomínios no Rio. "Esperamos que o caso não fique impune e que Nilton se recupere."

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