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SP: Júri popular de PM acusado de matar jovem com tiro nas costas é adiado

O júri popular do policial militar Guilherme Tadeu Figueiredo Giacomelli, réu pela morte do jovem Rogério Ferreira da Silva Júnior, de 19 anos, em agosto de 2020, em São Paulo, foi adiado.

O que aconteceu

Júri foi remarcado para agosto. O júri popular do agente foi remarcado para o dia 8 de agosto de 2024, às 13h, no Fórum da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista. A data é um dia antes do dia do aniversário da vítima.

Giacomelli é réu por homicídio qualificado. A qualificadora adicionada na denúncia do Ministério Público, e aceita pela Justiça, foi de recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima. Na denúncia, feita em novembro de 2020, o promotor Neudival Mascarenhas Filho reforçou que a vítima estava desarmada e foi baleada pelas costas, sem qualquer possibilidade de defesa.

Inicialmente, o júri popular estava marcado para começar na terça-feira (5), sendo finalizado até a quarta-feira (6). O júri também ocorreria no Fórum da Barra Funda.

Mudança ocorreu após pedido do Ministério Público. A solicitação foi realizada porque uma testemunha importante para a acusação não compareceu no dia do júri popular e o MP insistiu na oitiva dela, informou ao UOL a advogada de acusação Marina Toth, membro da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio. O magistrado responsável pelo julgamento aceitou o pedido do MP.

Acusação espera que júri ocorra na nova data. "A expectativa é que, com o comparecimento de todas as testemunhas, o júri possa finalmente acontecer e resulte na necessária condenação do PM Guilherme Tadeu, por ter executado a curta distância, com um tiro pelas costas, um menino desarmado e trabalhador, no dia do seu aniversário de 19 anos", afirmou Toth ao UOL.

Mãe da vítima diz que nova data "mexe muito" em razão da proximidade com o aniversário do jovem. "Vai ser um dia antes do aniversário dele, um dia antes de tudo que aconteceu. Mas, com certeza, a vitória vai ser um presente de aniversário", comentou a cabeleireira Roseane da Silva Ribeiro, em entrevista à Ponte Jornalismo.

Defesa de PM diz respeitar a decisão

Defesa de PM diz respeitar a decisão da mudança de data. "A defesa [ainda] manifesta querer o julgamento e estar certa que o Conselho de Sentença saberá apreciar corretamente os argumentos que serão aventados durante o próximo plenário", acrescentou o criminalista Richard Noguera ao UOL.

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Defesa alega "legítima defesa" do cliente. "Ficou claro durante o curso do processo que o soldado agiu em legítima defesa putativa, ou seja, foi uma reação a uma situação que constatou ser de ameaça à sua própria vida", explicam os advogados de defesa do militar, Flávia Artilheiro e Richard Nogueira.

Os advogados apontam que o cliente está sendo "julgado por uma narrativa que não condiz com a realidade dos fatos". Na época do crime, o agente tinha 22 anos e estava há seis meses atuando no patrulhamento de rua, como mostrou o colunista do UOL Josmar Jozino.

PM foi absolvido na Justiça Militar pelas acusações de fraude processual e prevaricação no caso, segundo a defesa dele. Na época, o MP declarou que Guilherme e um parceiro policial "solicitaram apoio [na ocorrência] alegando que se tratava de acidente trânsito, escondendo o disparo de arma de fogo" que atingiu Rogério.

Está comprovado no processo que os policiais solicitaram o socorro imediatamente, assim como é comprovado que houve falha no sistema de comunicação no dia dos fatos. Guilherme era um jovem policial que se defendeu numa situação de perigo e seguiu os protocolos normativos de segurança.
Defesa de PM

Relembre o crime

Jovem foi morto durante uma abordagem policial na região do Parque Bristol, zona sul da capital paulista. De acordo com a polícia, Rogério estava em atitude suspeita, dirigindo uma moto sem placa na Avenida dos Pedrosos. Ele foi abordado por integrantes das Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas), mas não parou. Segundo o boletim policial, ocorreu uma perseguição, durante a qual o jovem teria tentado derrubar uma das motos da patrulha.

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Agentes afirmaram que a vítima desceu da motocicleta e colocou a mão na cintura, simulando estar armado. Neste momento, Giacomelli disparou contra o homem. O jovem chegou a ser socorrido por pessoas que estavam no local, segundo os policiais, acabou levado a um pronto-socorro, onde morreu. Na época do crime, moradores da região fizeram protestos nas ruas.

Na época do ocorrido, Giacomelli alegou que agiu em legítima defesa porque achou que a vítima estava armada e ia tentar fugir da abordagem. Nenhuma arma foi encontrada com a vítima.

Vítima não tinha antecedente criminal. A moto que ele ocupava, emprestada por um amigo, não tinha queixa de furto nem de roubo, e estava em situação regular.

Mãe da vítima disse que PMs não deixaram filho ser socorrido rapidamente. "Ele morreu diante dos meus olhos e sem socorro. Os PMs só deixaram levá-lo depois que ele tinha morrido", contou Roseane da Silva Ribeiro ao UOL, em setembro de 2020. No dia do aniversário de Rogério, Roseane havia acordado o filho de surpresa e mostrou que havia comprado um bolo para ele. Disse que à noite todos comemorariam juntos depois que ela fizesse o cabelo de uma cliente. "Guardei o bolo e fui me arrumar. Dez, 15 minutos depois, chegou um vizinho avisando que tinham atirado nele. O bairro inteiro já estava lá", relatou na época.

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