Conteúdo publicado há 30 dias

Cara Preta, criptomoedas, imóveis e futebol: o que liga Gritzbach ao PCC

Entre as peças que conectam ao PCC (Primeiro Comando da Capital) o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, nesta sexta-feira (8) estão Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o "Cara Preta", além de negócios envolvendo criptomoedas, imóveis e futebol.

Gritzbach havia sido alvo de um atentado no Natal do ano passado, mas não se feriu. Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital).

O acordo de delação premiada foi homologado pela Justiça em abril. As negociações com o MPSP (Ministério Público de São Paulo) duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos.

Na delação, o empresário falou sobre envolvimento do PCC com o futebol e o mercado imobiliário. O empresário também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção, como Cara Preta e Django.

Assassinatos de Cara Preta e Sem Sangue

Vinícius era acusado de mandar matar Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista, em 2021. O homem acusado de ser executor do crime, Noé Alves Schaum, 42, foi assassinado em 2022, no mesmo bairro. Em julho, a Justiça de São Paulo decidiu levar o empresário e o agente penitenciário David Moreira da Silva a júri popular pelos assassinatos.

O empresário teria mandado matar Cara Preta porque recebeu da vítima R$ 40 milhões para investir em criptomoedas, desviou o dinheiro e o golpe foi descoberto.

Segundo o MPSP, Cara Preta era um integrante influente do PCC e envolvido com o tráfico internacional de drogas e outros delitos. Já Sem Sangue era o motorista e braço direito dele.

A dupla chegou a ser presa. Vinícius deixou a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) em junho de 2023, usando tornozeleira eletrônica. A defesa temia pela vida dele e dizia que se Gritzbach ficasse preso, poderia ser morto por integrantes da facção criminosa.

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O empresário respondia ao processo em liberdade —assim como o agente penitenciário—, dizia ser inocente das acusações e prometeu contar ao MPSP tudo o que sabia sobre a célula do PCC no Tatuapé, na zona leste paulista.

Operação com criptomoedas, imóveis e futebol

Na denúncia oferecida contra os acusados do assassinato, o MPSP afirma que Vinícius trabalhava com imóveis e operações com bitcoins e, após conhecer Cara Preta, passou a realizar negócios e fazer investimentos para ele.

Segundo o órgão, Cara Preta suspeitou que o empresário estava se apropriando de parte dos valores e começou a cobrá-lo e a exigir a prestação de contas e devolução de dinheiro.

Além disso, o empresário entregou ao MPSP uma lista de dezenas de imóveis de luxo comprados a preços milionários por narcotraficantes do PCC na zona leste paulistana e em Bertioga (SP).

O delator afirmou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado), subordinado ao MPSP, que Cara Preta adquiriu uma cobertura no valor de R$ 15 milhões no bairro onde foi morto.

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Segundo o empresário, os R$ 15 milhões pagos pela cobertura foram entregues em espécie na sede da construtora responsável pelo empreendimento, em um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas do PCC. Ele acrescentou que o imóvel foi colocado em nome de Ademir Pereira de Andrade.

Vinícius admitiu ainda ter intermediado a compra de dois imóveis em Riviera de São Lourenço, em Bertioga, para Cláudio Marcos de Almeida, o Django, sócio de Cara Preta. Ele também foi assassinado em uma guerra interna do PCC, em janeiro de 2022.

Um imóvel custou R$ 5,1 milhões e o outro R$ 2,2 milhões. O delator afirmou ao Gaeco que as propriedades foram colocadas em nome do tio dele, Douglas Silva Relva, e do primo Douglas Lopes Relva. O empresário confirmou que os valores eram de origem ilícita.

Vinícius já havia detalhado aos promotores de Justiça, em delação premiada, o esquema de agenciamento de jogadores do Corinthians e de outros times do futebol paulista, realizado pela mesma quadrilha da facção criminosa, como informou a coluna de Josmar Jozino em primeira mão.

Assassinado no aeroporto

Gritzbach foi morto ontem (8) em um ataque a tiros no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. Um carro que teria sido usado pelos atiradores foi apreendido por equipes do 3º Batalhão de Polícia de Choque, na Avenida Otávio Braga de Mesquita, em Guarulhos. O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) investiga o caso.

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Perícia é realizada no local onde o empresário foi alvo de um ataque a tiros no aeroporto de Guarulhos
Perícia é realizada no local onde o empresário foi alvo de um ataque a tiros no aeroporto de Guarulhos Imagem: Uesley Durães/UOL

A polícia investiga se ele foi assassinado a mando do PCC. Outras possibilidades não são descartadas, como queima de arquivo, por conta do acordo de delação premiada e de vários inimigos que são agentes públicos, —a quem disse ter pago altos valores em propinas.

Gritzbach dizia a pessoas próximas que temia pela vida. Na delação feita ao MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo), ele disse que um advogado ligado ao PCC ofereceu R$ 3 milhões "pela cabeça" dele.

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