Estratégia de candidatos em SP foi polarizar com concorrente específico

Com 11 candidatos no estúdio, os concorrentes à Prefeitura de São Paulo reclamaram do tempo limitado para falar no primeiro debate realizado ontem na TV Bandeirantes. Arthur do Val (Patriota) resumiu a situação dizendo que político sempre acha que podia falar mais, mas que o formato engessou a discussão.

Por este motivo, os candidatos trataram de deixar claro em suas participações com qual adversário queriam fazer contraponto. A estratégia de Guilherme Boulos (PSOL) é um exemplo.

Ele disse que mirou em Celso Russomanno (Republicanos) por ser o concorrente que considera o mais prejudicial para São Paulo. O motivo é representar o bolsonarismo. Satisfeito por atingir este objetivo, completou explicando que, com tão pouco tempo, não é possível desenvolver os raciocínios e apresentar as propostas.

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Andrea Matarazzo é outro que saiu satisfeito por ter mostrado que possui restrições ao modo como o tucano Bruno Covas administra a cidade. O atual prefeito e Russomanno foram os grandes alvos do debate, situação que era esperada porque as pesquisas apontam que ambos estariam em um possível segundo turno.

Houve também a repetição do histórico embate entre PSDB e PT, com citações a Dilma Rousseff (PT) e João Doria (PSDB). Mas a equipe do candidato Orlando Silva (PCdoB) ressaltou que o debate de ontem também mostrou que a disputa entre esquerda e direita não está mais restrita a estes agentes políticos.

Arthur do Val (Patriota) e Joice Hasselmann (PSL) disputam no campo da direita. Guilherme Boulos se juntou aos partidos tradicionais na busca pelo eleitor de esquerda.

Celso Russomanno tinha estratégia diferente. Alvo de todos, foi para o debate para conversar com seu eleitorado, declarou Elsinho Mouco, marqueteiro do candidato. Por isso usou a frase sobre "cuidar das pessoas", repetidamente e não à toa.

Afagos ao final do debate

O debate seguiu a lógica de cumprimento entre candidatos nos camarins na chegada, caninos expostos na frente das câmeras e entrevistas contando vantagem ao final do evento. Mas houve demonstrações de afinidade entre alguns concorrentes. Arthur do Val encontrou um Andrea Matarazzo escapando da chuva embaixo de um toldo e abriu o sorriso. Elogiou o concorrente e afirmou que, se não estivesse no páreo, seu voto era dele.

Orlando Silva caminhava para o estacionamento quando se deparou com Guilherme Boulos. Comentou que o candidato do PSOL foi muito bem e enalteceu seu conteúdo. Começou uma sessão de troca de elogios que logo mudou para brincadeiras e ambos se desejaram "boa sorte na caminhada".

Silva foi para casa com seu adesivo onde se lia "vidas negras importam". O candidato pôde falar do tema quando Bruno Covas dirigiu a ele uma pergunta sobre ser o único negro no estúdio. A equipe dele afirmou que não descartava que o assunto fosse levantado no debate, mas não esperava que isso viesse do atual prefeito.

Questionado se considerava uma atitude eleitoreira ou sincera de Covas, o time de Orlando Silva declarou acreditar que o adversário realmente se importa com a causa. A equipe do tucano também ficou satisfeita com a pergunta. Disse que ele passou os recados que desejava. Mostrar sensibilidade a respeito deste tema era uma das coisas da lista.

Clima de estádio vazio

O estúdio da TV Bandeirantes tinha somente 28 pessoas nesta quinta-feira à noite. Havia ainda 19 fotógrafos credenciados que precisavam se revezar em grupos de quatro para acessar o local. Tudo por causa da covid-19. O debate teve candidatos trocando farpas, mas com respeito aos protocolos sanitários.

As exigências de saúde esvaziaram um pouco o clima do que sempre foi o debate na TV Bandeirantes, disseram alguns concorrentes. Eles avaliam que sem plateia e apoiadores no lounge, o ambiente ficou mais frio. Compararam a um jogo de futebol: quando o jogo começa, a competição aflora, mas falta um elemento. O espectador.