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OPINIÃO

Opinião: Se havia um país, jingle de "Oh Nairon" mostra que não existe mais

Santinho do candidato OooOo Nairon - Divulgação
Santinho do candidato OooOo Nairon Imagem: Divulgação

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

10/10/2020 10h36

O que aconteceu com o Nairon?

É o que um país inteiro se pergunta, ou deveria perguntar, desde que conferiu o novo jingle do candidato a vereador de Esteio (RS).

Em 2016, Nairon de Souza venceria com um pé nas costas o Oscar de melhor clipe adaptado da campanha. Inspirados na obra de Lionel Richie, seus marqueteiros conseguiram um feito que nem Barbara Heliodora conseguiu ao transformar o pentâmetro jâmbico de Shakespeare em versos decassilábicos da língua portuguesa.

Duvida?

Pois tente converter os versos de "All Night Long" em pedido de voto. Pois Nairon conseguiu traduzir "everybody sing" em "somos Nairon, sim". E o refrão homônimo do título em "Oh, Nairon".

Mas nem o Brasil nem Esteio estavam preparados para esta conversa. Nairon não conseguiu ser eleito.

De lá pra cá, muita coisa rolou noite adentro. Mudamos para pior.

O país que hoje vê arenas esvaziadas em disputas modorrentas de futebol já nem se lembra que há quatro anos sediava uma edição dos Jogos Olímpicos.

A campanha de Nairon não só acompanha como simboliza a decadência.

Na nova tentativa de chegar à Câmara do município de 80 mil habitantes, o postulante já não tem no palanque nem os astros da música pop nem inspiração dos hits. Já não dança nem chama os amigos para a noite nem para o dever cívico. Ele sucumbiu ao velho e ruim sertanejo universitário em um vídeo com câmera tremida, rima pobre e automóveis adesivados. Faltou desfilar comendo pão com leite condensado.

Os mais atentos à cena brasileira já perceberam que a crise, amigos, ela é sobretudo estética. Nos tornamos uma nação sem ambições estéticas só para não correr o risco de queda por encrencas com direitos autorais.

Se havia um país aqui, a campanha de Nairon mostra que ele não existe mais.