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De olho em 2022, campanha em SP ensaia 3ª via a bolsonarismo e esquerda

15.out.2020 - Bruno Covas (PSDB) participa de Missa de Ação de Graças pelo Dia dos Professores na Catedral da Sé, no centro de São Paulo - ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
15.out.2020 - Bruno Covas (PSDB) participa de Missa de Ação de Graças pelo Dia dos Professores na Catedral da Sé, no centro de São Paulo Imagem: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

18/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • DEM, MDB e PSDB tentam se contrapor à polarização nas eleições presidenciais
  • Discurso de possível bloco deve ser de centro
  • Vitória de Bruno Covas em SP daria musculatura à estratégia
  • Nome mais cotado é o do governador de São Paulo, João Doria

A cada eleição para prefeito em São Paulo se discute como o resultado ajuda a definir quem será o vencedor do próximo pleito presidencial. Especulação sem respaldo na realidade, segundo líderes partidários que vão do bolsonarismo à esquerda.

Citam como exemplo o caso de Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho de João Doria, eleito em primeiro turno em 2016, que teve, dois anos depois, um desempenho fraco na disputa nacional, com somente 4,7% dos votos.

Mas a disputa na capital paulista em 2020 tem um componente que serve de teste para a tentativa de DEM, MDB e PSDB construírem uma terceira via e se contraporem à esquerda e ao bolsonarismo em 2022. Cientistas políticos e líderes partidários ouvidos sob a condição de anonimato são unânimes em apontar o centro como caminho para a união destes partidos.

Um estrategista do PSDB nacional diz que o desempenho do tucano Bruno Covas, em busca da reeleição, é importante por ter exatamente este perfil. Um bom resultado alcançado pelo atual prefeito sustentaria uma estratégia de apostar fora da polarização.

Para um integrante do MDB, as peças do xadrez político caminham rumo a uma perspectiva de poder. Ganhar na capital derrotando a esquerda e Celso Russomanno (Republicanos), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sinalizaria um bom começo para formar uma chapa forte para 2022.

Bolsonaro - Agência Brasil - Agência Brasil
A avaliação é que Bolsonaro tem até 40% do eleitorado
Imagem: Agência Brasil

Quase metade do eleitorado disponível

De acordo com as projeções de estrategistas do PSDB, o governo Bolsonaro tem algo entre 35% e 40% de aprovação. O lulismo tem histórico de 20% de eleitores, mas Bolsonaro e o auxílio emergencial teriam roubado parte do apoio. Juntos, teriam intenções de voto em torno de 55%, sobrando 45% dos eleitores para o discurso de centro avançar.

Covas já busca diálogo com todos os campos políticos, o que pode ser bom tanto a um possível segundo turno como para 2022.

Os envolvidos na busca pela terceira via também querem identificar vitórias em outras cidades com esse discurso agregador. Sabem que o eleitor urbano é diferente de quem vota nos rincões do Brasil.

Cientista político e professor do departamento de gestão pública da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas de São Paulo), Eduardo Grin afirmou que até o momento não está claro o quanto o eleitorado está aderindo ao embate. As urnas podem ajudar na resposta.

"Será um termômetro se a sociedade chancelar candidaturas mais centradas, vira evidência de que a sociedade faz escolhas que fujam da polarização, que, em 2018, subiu a um grau bastante elevado. Se o eleitor escolher candidatos que se apresentam como pós-polarização e antipolarização, é para prestar atenção", afirma.

Bruno Covas - Adriana Spaca/Framephoto/Estadão Conteúdo - Adriana Spaca/Framephoto/Estadão Conteúdo
Candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas
Imagem: Adriana Spaca/Framephoto/Estadão Conteúdo

Além da eleição municipal

O trabalho tem etapas a superar. Ideias, coalização e força política vão ser os próximos passos. A eleição da presidência da Câmara dos Deputados é particularmente importante e sinaliza a possibilidade de alianças para 2022.

Outra meta é atuar como bloco. Segundo os entrevistados, DEM, MDB e PSDB precisam ter uma pauta conjunta e conquistar visibilidade. Nas palavras de um líder, hoje a população só consegue discernir parlamentares bolsonaristas, esquerda e centrão. Fiscalizar o governo federal tentando criar CPIs e convocando ministros para explicar posições polêmicas seria uma maneira de se mostrar como alternativa.

Deputado federal Baleia Rossi, presidente do MDB - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Deputado federal Baleia Rossi, presidente do MDB
Imagem: Reprodução Instagram

Discurso oficial é mais contido

A formação de uma terceira aparentemente é uma vontade, mas não uma certeza. O tempo aqui é determinante. Integrantes do MDB lembram que faltam dois anos para as eleições presidenciais. Um bom desempenho do presidente Bolsonaro desencorajaria rivais. A atuação do governador Doria também desperta atenção. Os três partidos ainda trabalham com a possibilidade de lançar o apresentador Luciano Huck.

Oficialmente, contudo, o discurso é de espera.

Presidente do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) declarou que não tem compromisso com ninguém e que possíveis alianças serão discutidas apenas no futuro. "Só com resultado da eleição tenho condição de reunir meu partido, reunir minha Executiva e pensar 2022", diz.

Doria - DEYVID EDSON/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - DEYVID EDSON/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O governador João Doria é possível candidato da terceira via
Imagem: DEYVID EDSON/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Dificuldades para ser centro

Professora da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro Braga enxerga Doria já atuando como candidato a presidente em 2022. Mas diz que ele enfrenta dificuldades por ter um discurso liberal, pró-mercado e da defesa dos costumes, o que dificulta o alinhamento com o centro.

Existem também integrantes dos três partidos que enxergam no governador de São Paulo um "engomadinho", o que compromete a identificação com o eleitor, e sem penetração no Nordeste.

A professora ressalta que há assuntos incentivam a polarização, como a liberação de armas, muito presentes hoje, o que tornaria a tarefa de ser centro complicada.

Feliciano - Marco Feliciano (Reprodução) - Marco Feliciano (Reprodução)
Deputado Marco Feliciano não vê viabilidade a terceira via
Imagem: Marco Feliciano (Reprodução)

Bolsonaristas e esquerda duvidam de terceira via

Líder evangélico e com trânsito com o presidente, o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP) não vê possibilidade de uma nova força política e aposta em uma repetição do cenário de 2018.

"Todas as pesquisas mostram que não [há viabilidade de terceira via]. O presidente Bolsonaro estará no segundo turno com um representante da esquerda."

Questionado se existe chance de os eleitores evangélicos aderirem a terceira via, considera a hipótese inviável. "Sem chance. Esse pessoal já governou o Brasil e não deu certo, são muito afastados do nosso segmento. Nos olham de forma preconceituosa até. Tem zero de interlocução."

Por questões diferentes, o PT, principal partido de esquerda, não crê em um candidato da terceira via como um adversário de peso em 2022. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, afirmou que "sempre existirá espaço para um projeto de país, o que não é o caso de DEM, MDB e PSDB". "A agenda deles, de retrocesso e quatro vezes derrotada nas urnas, foi terceirizada para a extrema-direita."