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Aceno a Bolsonaro e embate com Amoêdo corroeram Sabará no Novo

Filipe Sabará é candidato do partido Novo - Reprodução
Filipe Sabará é candidato do partido Novo Imagem: Reprodução

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo.

22/10/2020 20h45Atualizada em 23/10/2020 16h16

Resumo da notícia

  • Em julho, Sabará afirmou que Bolsonaro se saiu melhor do que Doria no combate à pandemia, o que incomodou Amoêdo
  • Ele também disse, em entrevista, que Maluf foi o melhor prefeito da capital paulista apesar do "rouba, mas faz"
  • Segundo ele, desavenças com o ex-presidente da sigla levaram à sua expulsão
  • Sabará acusa partido de não ter repassado doações para a campanha; partido não se pronunciou

"Bolsonaro, apesar de algumas atitudes questionáveis, se saiu melhor que o Doria no combate à pandemia." A frase de Filipe Sabará, sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo João Doria (PSDB), dita em julho, deu início ao processo de fritura do candidato do partido Novo à Prefeitura de São Paulo até que, ontem, a sigla oficializasse a sua expulsão.

Em nota, o Novo afirmou que a exclusão se deu por "inconsistências" no currículo de Sabará. Filiados e candidatos a vereador pelo partido, por outro lado, listam, sob condição de anonimato, outras razões: um embate aberto com o ex-presidente da sigla João Amoêdo e os elogios à gestão de Bolsonaro. Procurados pelo UOL, o Novo e Amoêdo não responderam aos pedidos da reportagem.

Para ser o candidato do Novo à Prefeitura, Sabará passou por um longo processo seletivo interno — cujas regras não são divulgadas — e foi o concorrente escolhido pelo diretório municipal paulistano.

Empresário e ex-secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito João Doria (PSDB), Sabará, dizem os filiados, tinha um currículo considerado ideal. Amoêdo concordava com isso.

Até então, a relação entre o ex-presidente da sigla e Sabará era descrita como "tranquila". No primeiro semestre de 2020, Sabará chegou a viajar até o Rio de Janeiro para "receber a bênção" do ex-candidato à Presidência e ter seu aval para a disputa pela capital paulista.

Isso mudou quando o Sabará apareceu elogiando Jair Bolsonaro. O aceno fazia parte de uma tática de adotar uma postura mais amigável em relação ao governo federal para conquistar eleitores a ele alinhados. À época, a candidatura registrava 1% de intenções de voto nas pesquisas.

O movimento foi na contramão do que pensa João Amoêdo, que não raramente critica o presidente nas redes sociais. "Foi a partir disso que Amoêdo começou a minar a candidatura", narrou um filiado.

"Sempre tive uma ótima relação com Amoêdo. Ele vinha para São Paulo e a gente se encontrava. Foram vários cafés, encontros, nos falávamos por WhatsApp todo dia. Então, como que não acharam inconsistência no meu currículo em um ano e meio de processo seletivo?", questionou Sabará ao UOL.

Elogio a Maluf

Outro motivo, listado por alguns como a "gota d'água" na relação entre eles, foi uma entrevista à rádio Jovem Pan em que Sabará afirmou que o Paulo Maluf foi o melhor prefeito que a capital paulista já teve apesar de seu nome ser acompanhado até hoje pela frase "rouba, mas faz".

Maluf está preso desde 2017 após ter sido condenado a sete anos e nove meses por lavagem de dinheiro. As irregularidades foram cometidas quando ele era prefeito de São Paulo (1993-1996).

Sabará tomou uma bronca pública de Amoêdo, que publicou no Twitter o vídeo e escreveu que "a citação de um político corrupto como exemplo de gestão é inadmissível". Sabará pediu desculpas e disse que se expressou mal.

Dias depois, começou a rodar entre os filiados um "dossiê", ao qual o UOL teve acesso, que enumera as razões pelas quais o candidato não seria apto para concorrer à prefeitura pela legenda.

O texto ressalta inconsistências no currículo e a retificação na sua declaração de bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

"Tudo leva a crer que as inconsistências curriculares já eram de conhecimento do partido e estava bem guardadinho para queimar ele quando necessário", disse um filiado que solicitou ter a identidade preservada. O caso foi revelado pela revista Crusoé em 26 de setembro.

Tempos depois, o diretório nacional do Novo tentou a impugnação da candidatura de Sabará, processo que ele conseguiu reverter no TSE e seguiu fazendo campanha.

"Existem erros de ambos os lados. Não se sabe como foi feita essa apuração pela CEP [Comissão de Ética Partidária], pois tratam como uma questão sigilosa. Para nós, ficou muito difícil trabalhar com o nome do Sabará. Os mais prejudicados somos nós", disse um candidato a vereador pelo Novo.

Sabará nega irregularidades e diz que resolverá o caso na Justiça. "Fui tirado por desavenças. Eles [o partido] entraram na Justiça para derrubar minha chapa, e eu pedi liminar. Vamos ver, não sei, a Justiça vai ver", afirmou.

Para ele, o desgaste interno começou pelas mãos de Amoêdo, principalmente após os elogios a Bolsonaro.

Sabará ainda acusou o partido de não ter feito repasses de doações. "Na pré-campanha, os doadores fizeram depósitos na conta do partido. Recebi mais de R$ 800 mil de doadores, que eu passei e não recebi. O combinado era que, quando abrissem as eleições, eles depositassem na minha conta, mas eles se recusaram e o dinheiro está lá", disse.