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Among Us e videogames: Candidatos em São Paulo miram no eleitorado gamer

Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo, joga Among Us com artistas - Reprodução
Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo, joga Among Us com artistas Imagem: Reprodução

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

28/10/2020 04h00

Os games invadiram as eleições de 2020. Em partidas ao vivo ou em participação de canais sobre o tema, candidatos à prefeitura e à Câmara de São Paulo têm voltado suas atenções para essas plataformas e trazido o público gamer para o debate.

Neste mês, os candidatos à prefeitura Arthur do Val (Patriota) e Guilherme Boulos (PSOL) participaram de partidas do Among Us, nova febre entre os jogos online, com transmissão ao vivo por canais de jogos e participação de artistas.

"Os games são parte da cultura dos jovens e cabe a nós entender essa cultura e dialogar com ela. Nesse sentido, ela é tão importante quanto outras manifestações culturais, como o hip-hop, o skate e os pancadões", afirma Boulos, que jogou com influencers no dia 14 de outubro.

Ele diz que gostou da experiência, mas que "a correria da campanha" impede que ele se "aprofunde" nos jogos. "Eventualmente acompanho minhas filhas", conta.

Do Val ingressou no Among Us no último domingo (25). Acompanhado de artistas e outros integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), ele diz que também não conhecia o jogo e que decidiu reunir amigos para a experiência.

"É uma campanha muito mais espontânea. Acho que as pessoas se cansaram daquele político tradicional que vai na feira comer pastel e fala aquele texto decorado. As pessoas querem ver quem a pessoa é como ser humano", afirma.

Segundo Do Val, além do eleitorado relevante, é importante olhar para o mercado de jogos. "O Brasil é o terceiro colocado em tamanho de público gamer. Nós temos que explorar esse público, isso faz parte da vocação do brasileiro e do paulistano", diz.

Arthur do Val no Among Us - Reprodução - Reprodução
Arthur do Val (Patriota), candidato à prefeitura de São Paulo, também jogou Among Us com artistas
Imagem: Reprodução

Celso Russomanno (Republicanos) também aborda o tema. Além de buscar o público mais jovem com a identidade visual "CR10" (referência ao jogador Cristiano Ronaldo, o CR7) e com propagandas de futebol, no debate da Band, o candidato equiparou games a esportes e prometeu a criação de centros municipais para atender atletas desta modalidade nas periferias.

Na disputa para a Câmara, games também são pauta

Na semana passada, o vereador Eduardo Suplicy (PT), que concorre a mais um mandato, postou uma foto promovendo a renda básica, uma antiga proposta sua, com uma arte do Among Us em seu Twitter. A resposta da rede foi rápida: com simpatia, os seguidores falaram que a imagem não fazia sentido nenhum.

"Among Us se trata de um jogo em que um grupo de trabalhadores faz cada um sua tarefa e todos têm de se empenhar para bem realizá-la. Vamos supor, num sentido figurado, que essa tarefa seja colocar, num futuro próximo, a renda básica de cidadania, que é meu objetivo de vida", justifica Suplicy sobre a imagem. Ele diz que ainda não sabe jogar, mas deverá aprender no próximo final de semana com o filho de nove anos de um assessor.

Suplicy compõe a Frente Parlamentar de Apoio ao Setor de Games e Jogos Eletrônicos na Câmara Municipal de São Paulo, criada em maio com os vereadores Daniel Annenberg (PSDB), Police Neto (PSD) e Soninha Francine (Cidadania). Todos tentam a reeleição.

"Games são uma fonte fabulosa de recursos, de ferramentas para a educação à geração de empregos e tributos. Podemos desburocratizar, incentivar a instalação de estúdios, publicar editais e promover eventos", afirma Francine, sobre a Frente.

Nesta mesma linha, os candidatos Erick Santos (Rede), Professor Barna (PDT), William de Lucca (PT) também participaram de um debate online promovido por um portal especializado em games sobre o foco que suas campanhas darão ao setor.

Quem tiver um discurso que encontre eco entre eles, que não soe falso, acaba tendo diferencial. Mas a comunicação tem de fazer sentido. Se soar produzido, não cria empatia, cria barreira
Rodrigo Prando, cientista político

Segundo ele, esta comunicação pode ter dois vieses: o mais jovem e prático, muitas vezes de quem cresceu com videogames, como Boulos e Do Val, e o econômico, que veja neste grupo uma forma de estimular a economia, como Russomanno.

O UOL perguntou a Russomanno se Jair Bolsonaro seria sua inspiração, mas não teve resposta.

O presidente aprovou uma nova redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que incide sobre videogames. Já é a segunda em seu governo.