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OPINIÃO

Pegue a pipoca para assistir à troca de farpas entre Boulos e Russomanno

Paródia dos Caça-Fantasmas feita pela campanha de Guilherme Boulos (PSOL) - Reprodução/Instagram
Paródia dos Caça-Fantasmas feita pela campanha de Guilherme Boulos (PSOL) Imagem: Reprodução/Instagram

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

02/11/2020 12h12

Pode ser o clima de Halloween, pode ser efeito das pesquisas. O fato é que Celso Russomanno (Republicanos) já não quer falar dos problemas de São Paulo na TV e nas redes sociais.

O candidato que até então mostrava confiança no apoio de Jair Bolsonaro, com quem batia bola com a camisa 10, e centrava críticas, um tanto genéricas, às gestões tucanas e petistas, agora mostra os dentes a quem aparece logo atrás nos últimos levantamentos do Ibope e do Datafolha. A exemplo do presidente, aposta na criação de espantalhos para ganhar o eleitor pelo medo.

Como numa corrida maluca, Russomanno, 20% no último Ibope, olha para o retrovisor e lança tachinhas a Guilherme Boulos (PSOL), seu alvo preferencial, agora que desfila com 13% das preferências.

O eleitor que já engatava o sono pode buscar a pipoca. Ali vai ser chumbo trocado cabeça a cabeça até a chegada do primeiro turno.

Boulos, é bem verdade, foi quem lançou a primeira bombinha. Levou à propaganda a atendente humilhada pelo adversário num supermercado, postou um rap no Twitter perguntando se o eleitor sabe "quem é esse mano" e chamando-o de "Celso que apalpa" —em uma referência ao vídeo do apresentador de TV com uma foliã no Carnaval.

No Instagram, Boulos protagonizou até uma mini-HQ vestindo uniforme dos Ghostbusters, os Caça-Fantasmas do cinema. No caso, Go Boulos, versão especial Halloween —aliás, Dia do Saci.

No desenho, surge ao lado de Luiza Erundina, sua parceira de chapa, exterminando um Bolsonaro versão zumbi agarrado ao CR10 versão Homem Marshmallow. Pois é.

Na outra ponta, Russomanno puxou a orelha do aliado, chamado por ele de "farsante de esquerda", por usar a caixa de supermercado em sua propaganda. "Que coisa feia, que coisa apelativa."

Em outro vídeo, que já circula nos grupos de WhatsApp, o candidato do Republicanos inverte o trocadilho com o nome do adversário e o classifica como um "Boulos de problemas".

O vídeo tem linguagem de receita culinária. "Pegue uma invasão de residência, junte com a cobrança de aluguel dos ocupantes de um prédio invadido, acrescente o uso de uma moça de supermercado para explorar um vídeo e atacar um adversário. Misture tudo isso com uma omissão de bens à Justiça Eleitoral. Adicione um processo por incentivar a destruição de um centro esportivo e leve ao forno para assar. Você vai experimentar um Boulos que o eleitor paulistano ainda não conhecia."

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Vídeo da campanha de Russomanno usa informação falsa em ataque a Boulos
Imagem: Reprodução

O narrador encerra com um trocadilho que até agora o espectador tenta entender. "O homem em pele de Boulos pode fazer mal", diz no vídeo. (Seria uma referência ao "loubos" em forma de cordeiro? Ou há outra lenda macabra envolvendo bolos, travessuras e fantasmas? Fica a pergunta.)

Em um trecho, Boulos aparece, estilizado como vilão, em meio a chamas de um protesto. A ideia, como se vê, é associar o líder sem-teto a uma figura incendiária e perigosa, em contraponto à figura paz e amor que o candidato do PSOL tenta imprimir na campanha, sobretudo nas redes sociais.

A tréplica veio em forma de postagem nas redes. Boulos chamou de mentiroso o vídeo em que era associado a cobrança de aluguel em um prédio que pegou fogo no centro de São Paulo e compartilhou uma decisão da Justiça Eleitoral determinando a exclusão da peça.

A troca de farpas mal começou. No Ibope divulgado na sexta-feira (30), Russomanno aparece com 38% de rejeição — a mais alta entre os candidatos em São Paulo. Boulos tem 22%.

A desconstrução em curso busca elevar as restrições dos paulistanos a candidato que, até aqui, demonstra chances razoáveis de herdar os votos do petista Jilmar Tatto (6%) e de Márcio França (11%) e ultrapassar Russomanno na reta final do primeiro turno.

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