Reeleição credenciaria emancipação política de Covas e relevância nacional
A própria propaganda de TV de Bruno Covas (PSDB), 40, informa que na adolescência ele foi morar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Mário Covas tomou posse como governador em 1995 e levou o neto, que saiu de Santos para estudar no tradicional Colégio Bandeirantes, na capital.
O parentesco com o fundador e um dos principais nomes do partido por décadas abriu várias portas, mas também se tornou uma marca. Ganhar a eleição à prefeitura da maior cidade do país na sequência de comandar o enfrentamento à pandemia de covid-19 viraria esta página completamente. Seria a emancipação política.
Covas é líder nas pesquisas, uma popularidade muito diferente do desconhecimento existente quando assumiu o cargo. Ele tomou posse na prefeitura em 6 de abril de 2018, um dia antes do aniversário de 38 anos. Nesta época, travava uma batalha contra a balança e era um nome bem menos expressivo na política.
Os adversários sustentam que o cenário não mudou muito e o prefeito não decolou. Justificam que a gestão está perto do fim e que Covas não criou nenhuma marca - como Fernando Haddad (PT) ser o prefeito das ciclovias ou Gilberto Kassab (PSD) ser o homem da Lei Cidade Limpa. Para os rivais, é um atestado de má administração. Mas uma eventual vitória na eleição também derrubaria está afirmação.
São estes motivos que fazem o secretário municipal de Saúde de São Paulo, o experiente Edson Aparecido, declarar que ganhar a disputa muda Covas de patamar. A mesma avaliação é feita pelo professor de Ciência Política da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Marco Teixeira.
Ele ainda acrescenta que o triunfo transformaria o atual prefeito em postulante a cargos expressivos como senador, governador e até mesmo sonhar com a presidência um dia. Além disso, para ele, há um impacto partidário: Covas se tonaria um dos principais nomes do PSDB no Brasil.
Política vem de berço
Nos anos em que morou no Palácio dos Bandeirantes durante o mandato do avô, o prefeito acompanhava eventos políticos e cerimônias durante a noite. Era discreto e não buscava contato com os participantes. Mas os anos na sede do governo paulista permitiram ver em ação nomes como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin, vice de seu avô.
Covas também acompanhava bastante a avó, Lila Covas. Atuante na arrecadação do fundo social, ela juntava dezenas de personalidades endinheiradas e não tinha vergonha de passar o chapéu. O neto assistia a tudo. Sabendo circular nos meios políticos e rodas de poder fez da atuação pública um caminho natural.
Figura histórica do PSDB, Ricardo Tripoli viu Covas ingressar nos tucaninhos, o clube do partido voltado a crianças, evoluir para o diretório municipal e chegar a ter influência no diretório estadual. Teixeira, da FGV, afirma que o sobrenome de peso encurta caminhos e facilita na indicação para a primeira candidatura e atuação na política partidária. Foi com estes contatos que Covas se tornou funcionário de Edson Aparecido.
O homem que comanda a Secretaria Municipal de Saúde na cidade durante a pandemia era líder de governo na Assembleia Legislativa de São Paulo em 2005 e recrutou o jovem político. As tarefas de Covas eram de monitoramento de plenário, contato com deputados e avaliação de projetos.
Hoje, os papéis se inverteram. Aparecido diz que Covas brinca afirmando que é um chefe muito melhor que o antigo patrão foi com ele. Este comportamento é considerado um diferencial de quem trabalha com Covas. Tripoli conta que o prefeito tem espírito leve.
Pessoas com menos status político ressaltam que não há humilhações. Citam que ocorre de políticos até xingarem comandados na frente dos outros quando as coisas não saem como esperado, algo que não acontece com Covas.
Tripoli ainda acrescenta que o prefeito tenta formar um time e está aberto a ouvir as pessoas próximas. O secretário de saúde endossa essas palavras e conta que Covas adotou medidas na pandemia mesmo sabendo da impopularidade que causariam.
Oposição vê Covas fraco
Os rivais de Covas interpretam de outra forma. Eles enxergam na figura do prefeito uma pessoa insegura e que hesita muito antes de tomar qualquer decisão. Constroem a imagem de um político que sempre esteve cercado de caciques e não é capaz de exercer liderança.
Esta linha de raciocínio leva a menção de João Doria (PSDB). O hoje governador de São Paulo era cabeça na eleição municipal passada e venceu com Covas de vice. Na avaliação dos adversários, o atual prefeito ainda é tutelado pelo companheiro de partido. Eles pintam Covas como uma pessoa de personalidade passiva e que sempre estará à sombra de alguém.
Os aliados se irritam com esta rotulagem. Aparecido considera as afirmações desrespeitosas e cita que a prefeitura nem sempre seguiu os passos do governo do estado na pandemia. Lembra que havia permissão para retomar as aulas presenciais, e isto ocorreu de forma parcial e bem depois da autorização.
Quem é próximo ao prefeito diz que ele não se incomoda com estas alfinetadas. Argumenta que Covas é uma pessoa discreta que abre mão de protagonizar barracos na imprensa ou nas redes sociais,
Pandemia mudou a imagem de Covas
As pesquisas sugerem que a estratégia dos adversários em apresentar Covas como um prefeito sem marca parece não estar funcionando. Aliados do tucano dizem que a pandemia de covid-19 mostrou ao eleitor um gestor com sensibilidade e de atitude. Quando a cidade estava quase toda parada por causa da quarentena, o prefeito afirmou podia errar, mas não pecaria por omissão.
Teixeira, da FGV, diz que a crise sanitária gerou uma exposição e o fato de não faltar leitos, respiradores ou haver pessoas enterradas em valas comuns cacifaram o prefeito. Combinado a este episódio, existe o drama pessoal do câncer em metástase que Covas enfrenta. Para Teixeira, boa parte da população considera o candidato como um guerreiro, algo que rende muitos pontos numa eleição.
E o cenário nacional é outro componente a trabalhar por Covas. Os políticos costumam dizer que cada eleição tem sua história. Desiludido, o eleitorado votou "contra tudo que tá aí" em 2018. Teixeira lembra que não houve melhora nos serviços públicos e há crises constantes provocadas por falta de tato e compostura. Por este motivo, ele acredita que nesta eleição será a vez de políticos com experiência.
Na avaliação de Teixeira, Curitiba, Belo Horizonte, Florianópolis e outras cidades vão reeleger prefeitos. Ele ressalta ainda que no Rio de Janeiro Marcelo Crivella (Republicanos), um prefeito aliado a nomes da autodeclarada "nova política", está atrás de Eduardo Paes (MDB), que é sinônimo de velha política.
Desta maneira, Covas foi se livrando de marcas que os rivais tentaram colar nele e consegue liderar com folga as pesquisas.
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