Colado em Bolsonaro, Russomanno tenta, enfim, chegar ao 2º turno
Depois de liderar as pesquisas e acabar em terceiro lugar em duas campanhas seguidas para prefeito, o apresentador e deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) chega ao primeiro turno de 2020 rodeado por bolsonaristas, em quem colocou todas as fichas para, enfim, alcançar o segundo turno em São Paulo.
Russomanno, 64, não estava disposto a se candidatar este ano depois das decepções em 2012 e 2016. Seu plano A era aproveitar a proximidade do Republicanos com as administrações tucanas em São Paulo para ser candidato a vice do atual prefeito, o candidato à reeleição Bruno Covas.
Em agosto, porém, Russomanno acabou preterido pelo prefeito. Enquanto Covas exonerava os indicados do Republicanos em seu governo, o deputado era convencido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a representá-lo em São Paulo. As vantagens em relação às disputas anteriores seriam muitas.
Além de contar com um Republicanos mais rico graças ao número maior de cadeiras no Congresso (o que lhe garante fatia maior do Fundo Partidário), desta vez Russomanno contaria com o apoio de um presidente e ainda teria como trunfo a rede bolsonarista na internet.
Desinteresse na pré-campanha
Contrariado, Russomanno aceitou a missão, mas demorou a mergulhar nela. O candidato recusou-se a fazer pré-campanha, e só pediu votos e concedeu entrevistas depois de 16 de setembro, último dia possível para que sua candidatura fosse lançada em convenção partidária.
O marqueteiro da campanha, Elsinho Mouco, que já havia trabalhado no mandato do ex-presidente Michel Temer (2016-2018), só foi escolhido em 29 de setembro, depois da primeira agenda oficial de Russomanno como candidato.
Quando a campanha finalmente começou, a chiadeira que antes vinha da cúpula passou a ecoar da base: os candidatos a vereadores da sigla reclamavam que ainda não podiam pedir votos porque Russomanno não havia posado com eles para a fotografia do santinho.
Com 29% de intenções de voto nas pesquisas àquela altura, o apresentador mantinha raras agendas e prometia não aparecer em debates com número restrito de candidatos. Enquanto isso, esperava o melhor momento para incluir Bolsonaro na campanha.
Racismo, furto e supermercado
Líder nas pesquisas, Russomanno virou alvo dos adversários, que lembraram de velhas polêmicas. A mais famosa foi o vídeo de uma caixa de supermercado tratada rispidamente pelo apresentador em um programa de TV —a imagem já havia sido explorada na eleilção de 2016.
Mas ele também precisou explicar a dívida de R$ 7,1 milhões em aluguéis não pagos quando foi sócio majoritário de um bar, de onde tentou furtar um gerador de energia, segundo um Boletim de Ocorrência.
Em sabatina do UOL/Folha, Russomanno fez alusão a uma ama de leite, símbolo da escravidão, ao tentar explicar porque classificou de "vandalismo" homenagem ao movimento negro.
Bolsonaro entra em campo
Se na primeira semana de outubro Russomano havia perdido dois pontos percentuais no Datafolha, no fim daquele mês ele já estava com 20% de intenções e caía para a segunda colocação. O pedido de socorro ao presidente logo chegou.
Primeiro, Russomanno visitou Bolsonaro no hospital para uma foto nas redes sociais. Depois eles se encontraram em um aeroporto e gravaram um vídeo para o horário eleitoral.
Na rua, a mensagem principal era clara: "Sou amigo de Bolsonaro desde a década de 1990. A proximidade com o governo federal nos ajudará a renegociar a dívida do município para oferecer o Auxílio Paulistano", disse.
A ideia de Mouco era associar o auxílio emergencial concedido pelo governo federal na pandemia a um programa municipal de distribuição de renda.
Cai apoio no partido
Russomanno, no entanto, seguiu caindo nas pesquisas e viu o apoio do Republicanos minguar. Alinhados a Doria, os deputados estaduais da legenda não se engajaram na campanha do correligionário, que passou a pedir votos praticamente sozinho nas últimas agendas.
Seu vice, o petebista Marcos da Costa, não foi às caminhadas do candidato em Paraisópolis e Heliópolis na última semana de campanha. Nas comunidades, a caminhada foi morna.
Sem o vice e raros candidatos a vereador, Russomanno contava apenas com a companhia de seus assessores, cabos eleitorais empunhando bandeiras e alguma líder comunitária, com quem fazia questão de caminhar de braço dado.
Popular na periferia, o republicano não foi hostilizado pelos moradores, que também não se empolgavam com sua passagem. Cabia a Russomanno entrar no comércio local para cumprimentar eleitores, que só então se aproximavam para fotos.
"Veja se não faz como todo político, que só aparece aqui de quatro em quatro anos", ouviu Russomanno mais de uma vez em Paraisópolis, na segunda-feira (9).
Rede bolsonarista entra na campanha
Sem o apoio financeiro esperado do Republicanos —que liberou R$ 1,2 milhão (Covas recebeu R$ 8,1 milhões do PSDB)—, a campanha precisou recorreu à rede bolsonarista.
Os aconselhamentos esporádicos de Sergio Lima, marqueteiro do Aliança Pelo Brasil (partido que Bolsonaro pretende criar), logo viraram praxe e, na última semana, o bolsonarismo deu as cartas na campanha.
O resultado se refletiu em pedidos de censura contra pesquisas, distribuição de fake news e comunicação agressiva nas redes sociais, ao estilo Bolsonaro.
Na agenda, Russomanno passou a frequentar canais conservadores de mídia —como o Canal do Negão, Brasil sem Medo e Terça-Livre.
Fake news e censura
Sob influência dos bolsonaristas, Russomanno decidiu recorrer à Justiça para impedir a divulgação da pesquisa Datafolha, que indicaria tendência de queda do candidato nas pesquisas.
Embora seu pedido tenha sido aceito pela Justiça provisoriamente na terça (10), o TRE (Tribunal Regional eleitoral) liberou a pesquisa por 6 votos a 0 na quinta (12): Russomanno agora tinha 14% das intenções de voto, atrás de Guilherme Boulos (PSOL), com 16%, e Covas (32%).
Levantamentos do Datafolha e Ibope divulgados neste sábado (14) colocam o deputado em empate técnico no segundo lugar, mas numericamente atrás de Boulos.
O novo estilo de Russomanno apareceu em pelo menos dois debates na reta final. Primeiro, se irritou com pergunta de Arthur do Val (Patriota) sobre gasto parlamentar.
"Você tem de se enxergar antes de conversar comigo, você não é nada!", afirmou um Russomanno no debate promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo.
No dia seguinte, o candidato valeu-se de uma fake news contra Boulos no debate UOL/Folha. Russomanno afirmou no encontro que o rival gastou R$ 528 mil na contratação de "produtoras fantasmas". As empresas, no entanto, pertencem a uma diretora de cinema freelancer, estão registradas e foram declaradas nos gastos da campanha.
A denúncia foi publicada em vídeo por Oswaldo Eustáquio, militante bolsonarista investigado por financiamento a atos antidemocráticos contra instituições como o Supremo Tribunal Federal.
Russomanno voltou a emular Bolsonaro ao culpar a imprensa antes de sair pelas ruas de Heliópolis para pedir votos, na quinta (12).
Vocês perseguem o presidente Bolsonaro e estão me perseguindo por ser alinhado a ele (...) Vocês já estão apelando!
Celso Russomanno, candidato a prefeito
Ele diz que pesquisas internas o colocam no segundo turno. Se estiver certo, além de validar nas urnas o embarque bolsonarista na campanha, esta será a primeira vez que Russomanno chega ao segundo turno.
Em 2016, ele largou com 31% das intenções, mas recebeu 13,6% dos votos. Em 2012, o candidato começou com 35% nas pesquisas, mas ficou com 21,6% dos votos.
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