Covas aposta em inexperiência de Boulos, que mira em má gestão na pandemia
O primeiro debate do segundo turno entre os dois candidatos à Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL), foi pautado pela gestão da pandemia, por políticas para a região da Cracolândia e pela bagagem dos candidatos.
O evento foi transmitido pelo UOL, em parceria com a CNN Brasil. A mediação foi da âncora Monalisa Perrone.
Covas, por mais de uma vez, chamou seu adversário de "radical", além de ressaltar que ele não tem experiência em gestão pública. Boulos, por sua vez, criticou reiteradamente a gestão do atual prefeito durante o enfrentamento da covid-19.
Os dois passaram, ontem, para a próxima fase das eleições na cidade de São Paulo. A apuração de resultados foi marcada por atraso devido a uma falha em um computador do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O avanço de Covas, atual prefeito, não foi uma surpresa, já que as pesquisas de intenção de votos adiantavam sua liderança. Já o resultado de Boulos surpreendeu. O psolista recebeu 20,24% dos votos, enquanto as pesquisas mostravam no máximo 17%.
Gestão na pandemia, padrinhos políticos e impostos
A primeira pergunta do debate foi sobre como os candidatos lidariam com uma segunda onda do coronavírus.
Boulos citou como exemplo a China e criticou a condução dos gestores públicos de São Paulo e do Brasil. Também disse que faria testagem em massa da população e usaria equipamentos públicos para o isolamento de pessoas que não conseguem ou não podem ficar em casa, devido a moradias precárias ou outros motivos.
Já Covas ressaltou que sua condução da crise teve o acompanhamento da vigilância sanitária. "É muito fácil ser engenheiro de obra pronta", criticou. O atual prefeito também disse que as críticas de Boulos são um desrespeito a médicos que trabalharam durante a pandemia.
"A obra falhou", retrucou Boulos, dizendo que São Paulo foi a terceira cidade do mundo com o maior número de casos de covid-19, atrás apenas de Nova York e Cidade do México. No entanto, São Paulo tem mais casos confirmados que a Cidade do México. São 382.801 no município paulista, segundo o último boletim da prefeitura, contra 179.791 na capital mexicana.
Na sequência, Perrone questionou os candidatos sobre seus respectivos padrinhos políticos. Covas tem o apoio do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Boulos, do ex-presidente Lula (PT). Ambos capitalizam rejeições de parcelas do eleitorado por conta deles.
Estamos aqui na eleição para prefeito da cidade de São Paulo. Não é uma eleição de qual padrinho importa mais.
Bruno Covas (PSDB)
Ele disse, contudo, que o apoio do governador ajudará em ações conjuntas entre município e estado.
Ele inclusive se esquivou de criticar o petista: "Não se trata de ficar criticando o presidente Lula ou o ex-prefeito [Fernando] Haddad para poder me descolar do candidato Guilherme Boulos. A população quer ver discussão de programas para cidade, do que cada um pretende fazer como prefeito."
Já Boulos usou o momento para lembrar que Covas é prefeito hoje pois seu antecessor, Doria, deixou o cargo para concorrer ao governo do estado.
O João Doria, seguindo uma tradição que é muito conhecida dos tucanos do PSDB na cidade, abandonou a prefeitura, abandonou a cidade, usou São Paulo como trampolim para sua carreira pessoal para virar governador, foi isso que aconteceu.
Guilherme Boulos (PSOL)
Ainda citando os governos Doria-Covas, Boulos acusou a administração de cortar programas sociais como Leve Leite e reduzir a integração de Bilhete Único - -programas petistas. Segundo ele, os votos de ontem foram uma rejeição a essas políticas e ao próprio Doria. "Ontem, mais de 1 milhão de pessoas votaram com esperança, contra as máquinas."
Questionado sobre os planos para a área econômica na cidade, Boulos negou que fará aumento de impostos, em especial em um cenário de pandemia, e enfatizou seu plano de recuperação do comércio impactados pelo fechamento.
"Eu queria reforçar que dinheiro tem, ele só precisa ser usado de forma correta e com as prioridades corretas na cidade."
PPP, saúde e Cracolândia
No segundo bloco, Covas questionou se Boulos tinha intenção de interromper a parceria público-privada (PPP) feita pelo município para a iluminação da cidade. O psolista criticou a medida, dizendo que ela tende a elitizar os serviços.
O debate subiu de tom quando os candidatos falaram sobre a população de rua e, depois, da saúde. Covas voltou a chamar Boulos de radical e criticar sua falta de experiência em gestão pública. Mais cedo, durante o UOL Entrevista, ele havia negado utilizar o termo para se referir ao adversário, mas o fez no debate.
"Vejam a diferença que faz você não ter experiência e não entender de gestão pública. Recurso em caixa não significa recurso liberado para poder fazer o que bem entender."
O candidato do PSOL ainda perguntou se, na opinião de seu adversário, o tema dos usuários de drogas deve ser resolvido "na base da porrada", lembrando de episódios em que a Polícia Militar atuou de forma violenta na região da cracolândia durante a atual gestão.
"Você e o Doria, quando se elegeram, prometeram acabar com a Cracolândia. Uma demagogia. O que aconteceu é que a Cracolândia está ainda maior", criticou o psolista. O tucano falou em redução do fluxo na região.
Covas elogia política de Haddad
No terceiro bloco, Boulos questionou Covas sobre a política para lixo e reciclagem. O tucano falou que o marco do saneamento, discutido atualmente no Congresso Nacional, abrirá uma nova janela de oportunidades. Covas chegou a elogiar também medida tomada na gestão anterior, de Fernando Haddad, mas sem citar o nome do petista.
"É importante reconhecer boas iniciativas de outras gestões. A gente não pode achar que somente nosso governo presta. Teve uma boa iniciativa da gestão anterior que foi montar uma central de compostagem para o resíduo de feira na cidade. Mas tinha apenas um. Nós ampliamos isso."
Covas subiu novamente o tom quando Boulos o acusou de desperdício de recursos públicos e superfaturamento nos contratos de varrição e imóveis. Ele chamou as acusações de levianas e exigiu a apresentação de provas. "É uma pena partir para acusações como essa sem nenhum tipo de prova. Se tem uma coisa que me é muito caro são os princípios morais que aprendi dentro de casa."
Boulos então disse não ter feito um ataque pessoal ao candidato, mas sim colocado o que seria "uma forma viciada como o sistema político brasileiro funciona".
No tema da habitação, o tucano citou a parceria para viabilizar mais construções de moradia. O socialista, por sua vez, acusou o prefeito de ter "tara" na ideia de que o mercado é salvador de tudo. "Vocês insistem nessa ideia porque vocês não conhecem a vida das pessoas, a realidade concreta de pessoas que não conseguem pagar aluguel".
* Colaboraram: Felipe Oliveira, Jean Sfakianakis, Juliana Arreguy, Leonardo Martins, Lucas Teixeira Borges e Roberto Junior.
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