Duelo no Recife antecipa disputa da esquerda por 2022
O segundo turno da eleição no Recife coloca frente a frente os dois grandes grupos da esquerda no país, que neste ano estão rachados e têm na capital pernambucana uma disputa que ajudará a definir o cenário em 2022.
No caso do PT, Recife se tornou a principal aposta após o partido ter resultados pífios em grandes capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Também viu candidatos tidos como competitivos ficarem fora do segundo turno, como em Fortaleza.
Para o PSB, a eleição do Recife sempre foi uma prioridade, já que a direção do partido tem comando pernambucano. O partido governa a cidade há oito anos e o estado há ainda mais tempo: 14 anos. Para vencer na capital, a legenda investiu R$ 7,5 milhões no primeiro turno na candidatura de João Campos. Foi a maior doação de um partido a um candidato nas eleições 2020.
Muito mais que uma disputa de primos pelo espólio de Miguel Arraes (1916-2005), o vitorioso mostrará a força de seu grupo e enfraquecerá o adversário em 2022.
A eleição do Recife terminou por se transformar em uma medição de forças. Isso poderá afetar o debate em torno das candidaturas colocadas para 2022 no plano nacional
Túlio Velho Barreto, cientista político
O estado de Lula e Túlio Gadelha rifado
João Campos traz na chapa uma vice do PDT. Isabella Roldão foi indicada após um acordo nacional fechado de última hora entre os trabalhistas e PSB, já visando uma aliança em 2022 em torno de Ciro Gomes (PDT) —e, portanto, contra o PT.
Para tanto, o PDT precisou rifar o deputado federal Túlio Gadelha, que alimentou até a véspera da convenção trabalhista a certeza de que teria sua candidatura ratificada. Túlio reclamou da atitude da direção e foi contra o acordo. De nada adiantou.
Do lado petista, é o lulismo quem estará à prova em seu estado natal. Desde a reta final do primeiro turno, o ex-presidente Lula mostrou interesse especial pela disputa recifense e prometeu, inclusive, estar na posse de Marilia, caso ela seja eleita.
A aposta do PT foi tão alta que o partido decidiu anular a decisão do diretório municipal, que queria apoiar João Campos na disputa. Com apoio de Lula, o PT nacional viu competitividade em Marilia e bancou a disputa, causando críticas de membros petistas no estado.
Para Túlio Velho Barreto, o partido busca mudar. Recife e São Paulo seriam exemplos do que viria em 2022.
"De fato, pode estar se configurando um cenário que coloque o PT e o PSOL de um lado, já que essas legendas estão coligadas no Recife e se aproximaram agora em São Paulo contra o PSDB, e o PSB com o PDT de outro lado, todos com candidaturas próprias. Isso não seria de todo estranho, considerando o afastamento dessas legendas, sobretudo do PSB em relação ao PT no plano nacional, a partir da ascensão de Eduardo Campos à direção nacional da legenda", diz.
Disputa acirrada e fervente
No primeiro turno, o resultado das urnas mostrou que a disputa deve ser acirrada: Campos venceu Marilia por menos de dois pontos percentuais de diferença.
Agora, as primeiras pesquisas apontam uma vantagem numérica de Marilia (45% x 39% pelo Ibope e 41% a 34% no Datafolha).
As forças também parecem mais equilibradas no segundo turno.
João Campos leva vantagem por ter mais partidos na aliança e os apoios do governador Paulo Câmara (PSB) e do prefeito Geraldo Julio (PSB). Já Marilia recebeu apoios importantes de partidos que são rivais do PT.
Foi o caso do ex-senador Armando Monteiro Neto, que é filiado ao PTB, comandado por Roberto Jefferson. Outro apoio surpreendente veio do Podemos, que lançou a candidata Delegada Patrícia com apoio de Jair Bolsonaro. A Delegada Patrícia e Mendonça Filho (DEM) anunciaram que ficarão neutros na disputa.
Sem adversários à direita, o tom subiu. Na segunda-feira, Marilia disse em entrevista que João Campos era imaturo e "manchava a imagem da família".
No mesmo dia, João atacou Marilia pela gestão do partido (que governou o Recife entre 2001 e 2012). Alimentar o antipetismo parece ser uma das estratégias. "O Recife lembra o que foi o PT e suas arengas administrando o Recife."
Segundo Velho Barreto, uma vitória daria fôlego para o PT ter candidato próprio em Pernambuco. Hoje apoia e integra o governo estadual de Paulo Câmara (PSB).
Já uma derrota poderá ser encarada como um problema para aglutinar partidos de esquerda numa eventual candidatura.
"Se vencer, o PT se cacifa para a disputa e, quem sabe, deixe de ser um partido satélite do PSB no plano estadual. No âmbito nacional, o PT sabe que precisa ter uma vitrine", diz.
O cientista político só pondera que a disputa também vai sofrer influência de arranjos políticos da centro-direita e da direita. A crise sanitária e a recuperação econômia também serão decisivas, embora imprevisíveis.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.