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Milionário, futuro prefeito financiou 6 de 15 vereadores eleitos em Sinop

Roberto Dorner (Republicanos), prefeito eleito de Sinop (MT) - Reprodução/Instagram
Roberto Dorner (Republicanos), prefeito eleito de Sinop (MT) Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

24/11/2020 04h00

Dono de patrimônio declarado de R$ 16,7 milhões, o empresário Roberto Dorner (Republicanos) elegeu-se prefeito de Sinop (MT) em 15 de novembro, com 49,1% dos votos. Mas não só ele venceu. Em janeiro, dos 15 vereadores que vão assumir cadeiras na Câmara Municipal da cidade, seis foram apoiados financeiramente por ele e sua família. Eles receberam um total de R$ 159 mil.

Robisson Dorner, filho do prefeito eleito, colocou diretamente R$ 993,5 mil em 51 candidaturas de Sinop. Só na campanha do pai foram R$ 727 mil, 81% de toda a receita declarada por Roberto —ele investiu R$ 8.500 do próprio bolso na campanha.

As eleições municipais de 2020 foram as primeiras em que a restrição ao autofinanciamento começou a valer. Para evitar que candidatos milionários desequilibrassem a disputa, o Congresso aprovou uma lei determinando que eles só possam tirar do próprio bolso, no máximo, 10% do teto de gastos de suas campanhas. Esse percentual é fixado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a cada eleição e varia de acordo com o cargo e a cidade.

Nada impede, porém, que familiares de políticos contornem o limite legal de gastos. As doações de Robisson, por exemplo, representam quase 60% de tudo o que o pai estava autorizado a contratar.

Neste ano, uma situação semelhante aconteceu em Manaus: o empresário Luís Alberto Saldanha Nicolau contribuiu com R$ 1,5 milhão para a campanha do do irmão, Ricardo Nicolau (PSD). O valor equivale a quase 15% do teto de gastos para os candidatos a prefeito na capital amazonense. Nicolau recebeu 12,08% dos votos e não chegou ao segundo turno.

Dorner e Nicolau figuram entre os dez maiores financiadores de campanha do país, de acordo com as prestações de contas entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 12 de novembro, antes do primeiro turno.

Quem é Roberto Dorner


As urnas, em tese, conferiram maioria parlamentar ao futuro prefeito. Partidos que integraram sua coligação conquistaram 9 das 15 vagas na Câmara dos Vereadores.

Nascido em Santa Catarina em 1948, Dorner foi um dos pioneiros de Sinop, uma das mais importantes cidades médias do país, com 142 mil habitantes e 97 mil eleitores.

O município, no norte de Mato Grosso, foi fundado em 1974 e integra a região da Amazônia Legal, na fronteira agrícola com a floresta, e está às margens da BR-163, rodovia essencial para escoar a produção do estado. A cidade é conhecida como "capital do Norte", com 146 mil habitantes e o quinto maior PIB de Mato Grosso. A atividade econômica é essencialmente baseada na agropecuária e na exportação de soja, carne, milho e madeira.

Em setembro, um avião que transportava o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) precisou arremeter por não conseguir pousar na cidade, sem visibilidade. Na época, incêndios devastaram regiões vastas do estado e atingiram, principalmente, o Pantanal.

Dorner fez dinheiro operando balsas que fazem travessias em diversos rios da bacia amazônica. Milionário, expandiu seus negócios para fazendas e telecomunicações: é dono da TV Rondon, empresa que administra canais afiliados do SBT em Mato Grosso. Já respondeu por uma ação civil pública no estado por danos ambientais e seu filho está em litígio na Justiça Federal em disputa de território com povos indígenas.

"Ele fala o tempo inteiro que está realizando um sonho. Chegou em Sinop muito pobre, ele sempre falou que queria retribuir tudo o que a cidade deu", diz Tonico Botelho, estrategista da campanha.

Como suplente, Dorner ocupou a cadeira de Pedro Henry (PP-MT) na Câmara dos Deputados de 2011 a 2015. Tentou ser prefeito em 2016, quando terminou derrotado por Rosana Martinelli (PR). A atual prefeita, desta vez, o apoiou contra o deputado federal Juarez Costa (MDB), ex-prefeito de Sinop e endossado pelo governador Mauro Mendes.

Para vencer a disputa, o empresário embarcou no discurso de renovação política e combate à corrupção. Entre as promessas, garantiu devolver o salário como prefeito. Adotou o codinome R10 (que remete ao ex-jogador Ronaldinho Gaúcho) no material de campanha e gravou vídeos fazendo embaixadinhas para as redes sociais, com um inseparável chapéu bege na cabeça.

Há diversos vídeos de caminhadas e eventos de campanha com aglomeração e sem uso de máscara. Com 8.120 casos e 130 mortes por covid-19, Sinop viveu o pico da epidemia entre julho e agosto.

Dorner é parte de uma tradição que atrai milionários do agronegócio de Mato Grosso à política, como o ex-ministro e ex-governador Blairo Maggi. O futuro prefeito de Sinop, no entanto, atua de maneira independente dos caciques do estado.

Dorner Mourão - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Dorner e o vice-presidente Hamilton Mourão
Imagem: Reprodução/Instagram

Alinhado ao bolsonarismo, explorou pouco a imagem do governo federal em sua campanha. No Instagram, foram apenas duas publicações. Em uma, reproduziu uma frase de Bolsonaro dizendo: "Votem em prefeitos comprometidos com Deus, pátria e família". "Nosso presidente já nos orientou como votar!", escreveu Dorner.

Na outra, recuperou fotos suas em encontros com o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) e Luciano Hang, dono da Havan na linha de frente da tropa empresarial bolsonarista. "Grandes relações em todas as esferas federais vão ajudar Sinop crescer!", registrou.

O UOL procurou Roberto Dorner por meio de sua assessoria de imprensa, mas o prefeito eleito não quis se manifestar.