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Com problema em urna, eleitores votam desconfiados em papel: 'Retrocesso'

Em uma das salas da EMEF Firmino Tibúrcio da Costa, os eleitores votaram no papel - Luís Adorno/UOL
Em uma das salas da EMEF Firmino Tibúrcio da Costa, os eleitores votaram no papel Imagem: Luís Adorno/UOL

Luís Adorno e Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

29/11/2020 16h53

Um problema em uma das urnas eletrônicas na EMEF Firmino Tibúrcio da Costa, na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, provocou a troca do equipamento para o sistema de cédulas de papel. Os eleitores que voltaram ao sistema do passado hoje se disseram desconfiados.

Na prática, em vez de digitar o número do candidato escolhido na urna, os eleitores da seção 0196, da zona eleitoral 347, tiveram de escrever o número ou o nome do candidato escolhido em um papel e depositar em uma sacola marrom. Um mesário da seção afirmou que a urna quebrou por volta das 8h10. Houve uma tentativa de substituí-la por uma outra urna eletrônica, mas não deu certo. A seção, então, adotou o voto impresso como alternativa.

De acordo com o mesário, foi formada uma pequena fila e, por isso, cadeiras com distanciamento foram disponibilizadas aos eleitores. Ele disse, porém, que não houve tumultos porque muitos decidiram ir embora e voltar durante a tarde. Também ficou disponível a justificativa a quem não quisesse esperar e voltar.

Um juiz eleitoral e uma integrante da OEA (Organização dos Estados Americanos) faziam vistoria na escola e na seção em específico assim que a reportagem chegou ao local.

No total, 436 eleitores votam nesta seção. Oficialmente, ainda não se sabe quantos votam no papel.

Depois de encerrada a votação, um cabo da PM (Polícia Militar) foi o responsável por levar, sozinho, em sua viatura de modelo Spacefox, a urna com os votos de papel desde a escola até o cartório eleitoral.

Urna apresentou mensagem de erro

Segundo o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), não é possível saber especificamente qual foi o problema ocorrido na urna —nessas condições, o equipamento apenas apresenta uma mensagem de erro. Foi feita, então, uma tentativa de substituição para a urna de contingência, mas a flash card (espécie de memória da urna) apresentou problemas. Para que não houvesse mais demora no processo, a votação passou a acontecer de forma manual.

O motorista Anderson Barbosa, 26, votou pela primeira vez em papel. "Passa uma sensação de insegurança forte, porque não é muito confiável. Na eletrônica era mais confiável, eu prefiro a eletrônica", afirmou. Ele disse que, num mundo ideal, seria interessante as autoridades competentes avaliarem a possibilidade de realizar a comprovação impressa sobre em quem o eleitor votou, para diminuir chances de fraude.

"Hoje foi esquisito", disse Marcelo Nogueira, depois de votar no papel - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
"Hoje foi esquisito", disse Marcelo Nogueira, depois de votar no papel
Imagem: Luís Adorno/UOL

Hoje, mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a questionar a segurança do voto eletrônico, mesmo sem apresentar indícios ou provas de fraude e disse que tem conversado com as lideranças do Congresso para avaliar a volta do voto impresso.

"Eu espero do sistema eleitoral brasileiro que em 2022 tenhamos um sistema seguro, que possa dar garantias ao eleitor que, em quem ele votou, o voto foi efetivamente para aquela pessoa. O voto impresso é uma necessidade, as reclamações são demais. Eu estou vendo trabalho de hacker aqui e em qualquer lugar. A apuração tem que ser pública. Quem não quer entender isso, eu não sei o que pensa da democracia", disse.

'Receio' e 'confiabilidade'

Depois de usar papel para votar, a psicóloga Elaine Giordano, 46, disse que estava "com receio". "Não sei o que vai acontecer com essa urna. Acho que é mais fácil de sumirem votos", disse. Questionada se apoiaria a ideia de Bolsonaro, de voltar os votos em papel, ela respondeu que "não convém retroceder ao passado". Ela diz ter ficado "decepcionada" e "desconfiada".

Desconfiança também foi o termo utilizado pelo técnico de segurança do trabalho Marcelo Nogueira, 52, sobre a sensação de ter votado no segundo turno em papel. "A gente não sabe a confiabilidade tanto de uma quanto da outra, mas hoje foi esquisito. Acho que depende muito de como fazem as contagens. As coisas na política são muito obscuras", afirmou.

Já a diretora de escola Maísa Ferreira de Jesus, 53, afirmou ser a favor do voto impresso. "Votava no papel muitos anos atrás. Hoje, para mim, foi uma surpresa, né? Para falar a verdade, eu confio mais no papel, porque na eleição passada, no primeiro turno, já teve um hacker que entrou no sistema, então, 100% não é. Na eleição no papel todo mundo conta as cédulas junto", argumentou.

A diretora de escola Maísa Ferreira de Jesus defendeu o voto no papel - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
A diretora de escola Maísa Ferreira de Jesus defendeu o voto no papel
Imagem: Luís Adorno/UOL

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