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Faltou humor: aliados querem Lula tranquilo, mas não apático como no debate

Do UOL, em São Paulo

30/08/2022 04h00

Poucas risadas, falas sem tanto entusiasmo, respostas sinceras e diretas. O desempenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate presidencial de domingo (28) seguiu o roteiro programado pela campanha, com o petista evitando polêmicas, sem ataques gratuitos.

Mas, na avaliação de aliados, a falta de descontração pode ter passado a imagem de apatia.

No geral, para a campanha, o resultado do debate promovido por UOL, Folha de S.Paulo, Grupo Bandeirantes e TV Cultura foi positivo, sob a avaliação de que Lula pode não ter se destacado tão positivamente, mas também não chamou atenção por questões negativas, como o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Por outro lado, apoiadores pensam que ele deve manter o tom assertivo que lhe é peculiar em possíveis novos encontros.

Qual era a estratégia para o debate? O ex-presidente chegou ao debate com o objetivo de evitar polêmicas, conforme o UOL Notícias havia adiantado, em especial com Bolsonaro.

Ele já havia sido instruído a focar em uma pauta propositiva, sem fazer provocações desnecessárias e só responder se fosse cutucado, mas, ainda assim, sem estender a conversa.

Pesquisas qualitativas realizadas pela campanha mostram que o eleitor indeciso que tem certa resistência ao PT não aprova em especial a agressividade e a amplitude com que Bolsonaro trata de temas relevantes, como assuntos da área social. Logo, Lula deve se mostrar diferente.

Com foco nesse eleitor, o objetivo era passar a imagem de que Lula não está interessado em picuinhas com o presidente —e, de quebra, tentar colar essa pecha no adversário. Isso, avalia a campanha, foi alcançado dados os ataques de Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura.

Qual é a imagem que passa para o eleitorado? Essa tranquilidade, no entanto, não pode ser confundida com apatia. Sem o tempo para falar com que está acostumado, Lula não pode se estender nas suas propostas sobre economia —principal assunto abordado por sua campanha— ao mesmo tempo que não foi para cima de Bolsonaro em temas como democracia, pandemia, inflação, entre outros.

Na avaliação do PT, ali faltou a Lula exatamente o que costuma destacá-lo: ênfase e carisma nas falas. Seja na seriedade e eloquência com que trata temas mais pesados, seja nas graças e analogias que costuma fazer para trazer alívio cômico e se aproximar do público, como o uso frequente de referências à novela "Pantanal", da TV Globo.

O contraponto usado para a campanha foi a entrevista ao "Jornal Nacional", também da Globo, na semana passada. O petista conseguiu falar sobre grande parte dos temas que lhe interessava e respondeu até às perguntas mais sensíveis com humor e brincadeiras.

Não foi o que aconteceu no debate. Para parte da equipe de comunicação, embora Lula tenha acertado ao não ficar atacando Bolsonaro, a imagem de mais quieto pode ser confundida com tensão ou abatimento.

Dos dois melhores exemplos para campanha foram exatamente os em que o presidente confrontou os adversários, mas sem cair na briga:

Sem vencedores, mas com um perdedor. Por outro lado, a campanha avalia que o debate não teve necessariamente um efeito negativo para Lula, alvo natural por ser o primeiro colocado nas pesquisas.

Na equipe de comunicação, acham que nenhum candidato se sobressaiu tanto positivamente, com aceno elogioso à senadora Simone Tebet (MDB), mas nenhum também ficou muito para trás. É como um empate geral —com exceção de Bolsonaro.

Os petistas avaliam que a estratégia de não partir para o ataque mostrou ponderação por parte de Lula, tanto com Bolsonaro quanto com Ciro, e que, ao manter uma postura mais bélica, o presidente teria saído por baixo.

O presidente [Lula] não foi lá para ficar se confrontando com Bolsonaro e nem fazendo explicações ou dando respostas a fake news e ataques baixos que foram feitos. Ele respondeu o que foi colocado no debate, respondeu no momento certo na hora certa, sem fazer um confronto que não queremos
Gleisi Hoffmann, presidente do PT

O ponto mais baixo, avalia a comunicação petista, foram os ataques de Bolsonaro a Vera Magalhães.

Lula vai aparecer em mais debates? O PT também atribui a falta de descontração de Lula ao formato dos debates, considerado engessado.

Com seis candidatos mais perguntas de jornalistas, a campanha diz que o ex-presidente só teve pouco mais de 20 minutos das cerca de 2h40 de duração, equivalente a 15% do programa, para falar.

Segundo Gleisi, a participação de Lula nos próximos debates ainda será discutida.