Datafolha: 7 em cada 10 pessoas dizem temer agressões por razão política
Casos como o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, morto a tiros na noite de 9 de julho quando comemorava o seu aniversário de 50 anos com uma festa alusiva ao PT em Foz do Iguaçu (PR), retratam uma realidade apontada pelo estudo "Violência e Democracia: Panorama Brasileiro Pré-Eleições de 2022", divulgado hoje.
Sete em cada dez pessoas dizem ter medo de serem agredidas fisicamente por causa das suas escolhas políticas, de acordo com levantamento feito pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade).
O instituto de pesquisa ouviu 2.100 pessoas em todo o país entre 3 e 13 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais e para menos. Foram ouvidas pessoas com 16 anos ou mais em cerca de 130 municípios brasileiros de pequeno, médio e grande porte.
O que indica a pesquisa?
- 67,5% dos entrevistados afirmaram ter medo de serem vítimas de agressões;
- 3,2% das pessoas ouvidas pelo Datafolha disseram ter sofrido ameaças por motivos políticos nos últimos 30 dias; é o equivalente a 5,3 milhões da população brasileira
- 66,4% dos entrevistados dizem não acreditar que armar a população aumentará a segurança;
- Em 2022, 83,4% consideram que há racismo no Brasil; em 2017, o índice era de 70%.
O levantamento também mostra que:
- 88,1% rejeitam ideias golpistas ao afirmar que quem for vencedor nas urnas e reconhecido pela Justiça Eleitoral deve ser empossado em 1º de janeiro de 2023;
- 62,8% concordam que "é importante para a democracia que os tribunais sejam capazes de impedir o governo de agir além de sua autoridade".
Medo de agressões por expressar opinião. Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que a pesquisa reflete o medo das pessoas de serem agredidas apenas por expressarem as suas posições políticas. "As pessoas estão com medo de mostrarem o que estão pensando. Sair com a camisa de um político ou de um partido pode ser motivo para xingamentos ou agressões."
Os direitos de exercer a cidadania e a liberdade de expressão estão comprometidos, porque há riscos reais
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Fome como mercadoria política. Lima citou o caso do homem que gravou vídeo negando entregar marmita a uma mulher em situação de vulnerabilidade social só porque ela disse ser eleitora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"O processo democrático está comprometido porque os níveis de violência política e ameaça estão presentes no país por parte de um grupo político que chantageia a população. A própria fome virou mercadoria política.
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), o empresário Cassio Joel Cenali se desculpou em um novo vídeo após a repercussão negativa do caso.
Confiança na legitimidade das eleições. Mônica Sodré, diretora-executiva da Raps, cita que quase 90% dos entrevistados pelo Datafolha rejeita ideias golpistas.
"É um recado. A despeito dos regulares e sistemáticos ataques às instituições e à integridade do processo eleitoral, a população brasileira confia nas eleições. Isso é um indicativo de que a população valoriza o direito ao voto e a escolha dos seus representantes."
Escalada da violência política no Brasil. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados encaminhou, há dois meses, uma denúncia à ONU com relatos de violência motivada pelo "ódio bolsonarista" nos últimos quatro anos.
O documento enumera uma série de 13 ataques atribuídos a bolsonaristas envolvidos em brigas políticas.
Procurado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública ainda não se manifestou a respeito dos dados apresentados pela pesquisa.
Confira casos de violência política neste ano no país
- Em 15 de junho, um drone lançou veneno com cheiro de fezes e urina sobre o público que aguardava pelo ato de Lula em Uberlândia (MG).
- Em 7 de julho, um juiz que havia mandado prender um ex-ministro do governo Bolsonaro foi alvo de um ataque com fezes e ovos quando dirigia um carro em Brasília.
- No mesmo dia, uma bomba caseira com fezes foi lançada contra o público em um ato de Lula no Rio de Janeiro.
- Na noite de 9 de julho, o guarda municipal foi morto a tiros em Foz do Iguaçu (PR) pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho quando comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT.
- No dia 31 de agosto, um policial militar atirou em um fiel durante um culto na igreja da CCB (Congregação Cristã do Brasil) em Goiânia por causa de uma divergência política. O atirador era apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
- Um homem gravou vídeo negando entregar marmita a uma mulher em situação de vulnerabilidade social só porque ela disse ser eleitora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 7 de setembro.
- Na noite de 7 de setembro, um bolsonarista matou a facadas um apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após uma discussão sobre política na área rural de Confresa, no interior do Mato Grosso.
- Guilherme Boulos, candidato a deputado federal pelo PSOL, disse ter sido vítima de uma intimidação por arma de fogo durante panfletagem no dia 9 de setembro em São Bernardo do Campo (SP). Segundo ele, o autor da ameaça recusou um panfleto, gritou "aqui é Bolsonaro" e afirmou estar armado.
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