Lula reúne oito ex-presidenciáveis para declaração de apoio em São Paulo
De olho em demonstração de força para tentar fechar a eleição no primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu hoje oito ex-presidenciáveis em um encontro em São Paulo. Entre ex-ministros, aliados de longa data e até antigos opositores, a reunião teve partidos que integram outras chapas presidenciais, como União Brasil e Cidadania.
Conforme o UOL levantou, com o apoio da ex-ministra Marina Silva (Rede), na última semana, Lula reuniu até então o apoio de seis dos 13 presidenciáveis de 2018. Todos estavam presentes no evento de hoje, além de dois outros candidatos de outros anos. São eles: Guilherme Boulos (PSOL), Luciana Genro (PSOL), Cristovam Buarque (Cidadania), Marina, Geraldo Alckmin (PSB), Fernando Haddad (PT), Henrique Meirelles (União Brasil) e João Goulart Filho (PCdoB),
"Frente ampla": O encontro reforça o discurso eleitoral de Lula de formar uma "frente ampla pela democracia". Desde o início do ano, o PT tem tentado formar uma imagem de união suprapartidária em torno do petista, tentando diminuir a rejeição ao partido. É frequente ver membros da campanha fazendo relações com o movimento de redemocratização Diretas Já, dos anos 1980 — este foi o tom de hoje.
Candidato em cinco outras eleições (1989, 94, 98, 2002, e 2006), o próprio Lula tem feito referências frequentes aos pleitos passados, falando que antes "havia opositores e não inimigos".
Com nomes ligados à centro-direita, como Alckmin e Meirelles, à esquerda, como Boulos e Luciana, os presentes justificaram, quase num tom de pedido de desculpas, que renunciaram às diferenças, em prol de uma pacificação do país.
O que vocês estão fazendo com o gesto de hoje é assumindo um compromisso, mas não é um compromisso com o Lula --é um compromisso que esse país vai voltar a viver democraticamente. As pessoas vão voltar a conviver democraticamente nesse país. Não é o Presidente da República e sua assessoria que diz o que é bom para a sociedade.
Lula
Não é só política: Nos discursos, houve um destaque sobre como grande parte dos presentes pensa de forma divergente, em especial na economia, mas, mais do que questões práticas, a mesa reúne — e tenta sanar — desavenças pessoais entre os presentes.
Ex-ministros de Lula, Cristovam, Marina, e Meirelles praticamente não falavam com o ex-presidente desde que deixaram o governo, respectivamente em 2004, 2008 e 2010 — os dois primeiros, com profunda mágoa com Lula. Isso foi lembrado pelo petista em sua fala.
Luciana Genro também foi uma conquista do petista. Integrante do partido entre 1987 e 2003, a psolista, candidata em 2014, tornou-se uma das mais ferrenhas opositoras ao PT dentro do partido.
Candidata em 2006, Heloísa Helena (Rede), também ex-petista e fundadora do PSOL, seguiu as críticas prévias a Lula e, embora seja muito próxima a Marina, declarou apoio a Ciro Gomes (PDT).
Por pouco: Ao final do encontro, quando fotógrafos pediam para todos fazerem o "L", Meirelles, à direta, sorria, mas resistia. Depois de alguns cliques, temendo climão, levantou o dedo. Luciana Genro, que em junho tirou foto se recusando a empunhar o gesto, se entregou ao lado de Lula hoje.
Com outros: Não é só Lula que arremata apoios de ex-presidenciáveis. O presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal concorrente tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor (PTB), candidato ao governo de Alagoas; o senador Esperidião Amim (PP-SC), candidato ao governo de Santa Catarina; o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), candidato pelo PSD em 1989; e Guilherme Afif (PSD), coordenador de campanha do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo. De 2018, quando ele concorreu, não tem ninguém.
Já Ciro Gomes (PDT) tem hoje o apoio do ex-deputado Cabo Daciolo (PDT), candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, que concorreu contra ele em 2018. O próprio Ciro concorreu em três outras ocasiões (1998, 2002 e 2018).
Simone Tebet (MDB), por sua vez, tem apoio de dois outros ex-presidenciáveis: o ex-senador Álvaro Dias (Podemos), que tenta voltar ao Senado pelo Paraná depois de ter perdido a disputa ao Planalto em 2018, e do ex-deputado Roberto Freire (Cidadania), que concorreu em 1989 pelo PCB.
Os apoiadores de Lula
Geraldo Alckmin (PSB): Depois de 33 anos no PSDB, o ex-governador paulista deixou o partido em dezembro do ano passado para se filiar ao PSB e ser alçado como vice na chapa de Lula. Concorreu duas vezes ao Planalto: em 2006, contra Lula, e em 2018.
Ele saiu da sigla que ajudou a fundar amuado. Com apenas 4,7% dos votos em 2018 —na primeira vez em que o partido não foi para o segundo turno desde o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB)—, Alckmin foi deixado de lado nos planos nacionais e estaduais dos tucanos e acabou sendo bem recebido pela esquerda que tanto o havia criticado.
"Tínhamos projetos diferentes para o Brasil, mas sempre tivemos como único projeto, uma pedra basilar, a democracia", justificou o ex-oponente e hoje vice.
Fernando Haddad (PT): Ministro da Educação de Lula, o ex-prefeito paulistano tornou-se o candidato do PT em 2018 como substituto do ex-presidente em 2018. Haddad chegou a ir para o segundo turno com Bolsonaro, mas foi derrotado. Hoje, disputa o governo de São Paulo, em primeiro lugar nas pesquisas.
Henrique Meirelles (União Brasil): Presidente do Banco Central durante os oito anos de governo Lula (2003-2010), Meirelles tem se afastado do ex-chefe. Em 2018, concorreu pelo MDB, mas obteve apenas 1,2% dos votos. Desde então, havia se aproximado do ex-governador João Doria (PSDB-SP) e migrou para o União Brasil para tentar uma vaga no Senado por Goiás.
Entre disputas internas, deixou as cobiças eleitorais e virou conselheiro de uma gigante de criptomoedas. Em entrevista à Folha de S. Paulo na semana passada, declarou voto crítico em Lula.
Marina Silva (Rede): Ministra de Meio Ambiente de Lula por seis anos, deixou o governo e o PT em 2008 em meio a divergências internas. Candidata em 2010 pelo PV, em 2014 pelo PSB e em 2018 pela Rede, rompeu inteiramente com o grupo de Lula após as eleições de 14, quando declarou apoio ao deputado Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno.
Ela não estava presente quando a Rede, que ajudou a fundar, uniu-se à coligação petista, mas, após diálogos intensos, voltou atrás e juntou-se ao grupo nesta semana. Neste ano, ela concorre a deputada federal por São Paulo.
Cristovam Buarque (Cidadania): Primeiro ministro da Educação de Lula, em 2003, Buarque deixou o governo e o PT em meio a denúncias de corrupção e discordâncias em relação a apertos econômicos que envolviam também sua pasta. Em meio a uma polêmica, dizia-se que foi demitido pelo telefone.
Em 2006, concorreu à presidência pelo PDT, onde ficou até 2016. Crítico do petista, voltou a se aproximar do ex-chefe durante o governo Bolsonaro. Em federação com o PSDB, seu partido integra hoje a chapa da senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao Planalto.
Luciana Genro (PSOL): Fundadora do PSOL, Luciana deixou o PT, de onde era filiada desde a adolescência, em 2003, no primeiro ano de governo Lula, um ano antes de seu pai, Tarso Genro (PT), assumir como ministro da Educação. Desde então, também se tornou crítica ferrenha ao PT e a Lula.
No primeiro evento de Lula em Porto Alegre, estreia de viagem da pré-campanha no início de junho, ela não se mostrou muito entusiasmada com o apoio do PSOL à chapa — muito por causa do nome de Alckmin —, mas o tom mudou no último final de semana.
"Estamos aqui para enfrentar o fascismo", justificou ela, ao lado de Alckmin e Meirelles, de quem é crítica. Ela concorreu à presidência em 2014 pelo PSOL e hoje é candidata à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Guilherme Boulos (PSOL): Principal entusiasta e influenciador do apoio do PSOL a Lula, fechado em abril, sem lançamento de candidatura própria ao Planalto, Boulos, candidato em 2018, é um dos principais nomes da campanha lulista na cidade de São Paulo. Também deverá ser um puxador de votos para a Câmara Federal.
Me perguntam sobre Alckmin, Meirelles. Todos conhecem as nossas diferenças aqui na mesa, elas são públicas. Essas diferenças, por mais expressivas que sejam, elas são menores. Uma geração que veio antes da minha enfrentou tortura, censura à imprensa, para que a gente pudesse estar aqui hoje.
Guilherme Boulos
João Goulart Filho (PCdoB): Último colocado na eleição de 2018 pelo PPL, com 0,03% dos votos, o filho do ex-presidente João Goulart, deposto pelo Golpe Militar de 1964, está hoje no PCdoB, partido que forma federação com PT e PV.
Ele chegou a lançar pré-candidatura ao governo do Distrito Federal, mas a aliança optou pelo deputado distrital Fernando Grass (PV-DF).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.