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Mesmo sem nome, PT interpreta nota de FHC como declaração de voto em Lula

Lula e FHC durante almoço, em maio de 2021 - Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula e FHC durante almoço, em maio de 2021 Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

22/09/2022 13h00

O PT comemorou a "nota pró-democracia" do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgada hoje. Para lideranças do partido, que compõe a coordenação de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o texto, que não cita nomes, é interpretado como uma declaração de voto no petista.

Em uma ofensiva do discurso de "frente ampla" para tentar viabilizar a vitória no primeiro turno, petistas já vinham sondando FHC para um gesto de apoio, mas, por questões de saúde, o ex-presidente tem se afastado da vida pública e não havia se pronunciado até então.

A coordenação de campanha de Lula diz ter considerado o gesto "politicamente excelente". Questionado, Lula disse ainda não ter lido.

Apoio cifrado: Na nota, divulgada nesta manhã, FHC pede que apoiadores votem "em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual". Para petistas, as características expressadas por FHC seriam uma indicação indireta de que o alvo do voto é Lula.

"De quem parece que ele está falando? É só ler a nota. Ele cita tudo que Lula defende, essa é a minha leitura", afirma o deputado Márcio Macedo (PT-SE), tesoureiro da campanha petista.

"Temos que respeitar o estilo de cada um. Esse é o jeito dele", completou Macedo sobre a possibilidade de uma declaração de apoio explícita em um eventual segundo turno.

"Para bom entendedor, meia palavra basta", afirmou o ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo de Lula, em tom semelhante a Macedo.

"Achei muito positivo ele [FHC] estar se manifestando e por valores que são civilizatórios. No meu ponto de vista, a leitura daquilo ajuda muito no debate político", disse.

O deputado Rui Falcão (PT-SP), que também integra a campanha do ex-presidente, diz concordar. "É uma declaração de voto [em Lula]. Os compromissos assumidos estão plenamente contemplados no programa de governo", afirmou.

Desviou. Em encontro com idosos na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, durante a divulgação da nota nesta manhã, Lula fugiu do assunto ao falar rapidamente com a imprensa. Ele disse que ainda não havia lido a nota, mas que "todo apoio é válido".

"Eu não sei [sobre declaração de apoio]. Estou saindo de uma reunião agora, não estou sabendo, [só] estou sabendo do que o pessoal me fala", disse Lula.

Todo apoio que vier, para a gente, nessa eleição logo é melhor para todo mundo. Agradeço às pessoas que estão demonstrando apoipo agora. Fico feliz, agradecido. Quero que mais gente saiba o que está acontecendo no Brasil e espero que mais gente se defina."
Lula, sobre voto útil

Galvão? Poucos minutos depois da divulgação da nota, o PSDB publicou um pedido de voto em seu Twitter para a senadora Simone Tebet (PDB-MS), que tem a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) como vice.

O PT vê reação do PSDB como um recibo de que o tucano falava de Lula. Embora FHC não tenha dado nomes na carta, para os petistas, a resposta rápida indica que ele não falava de Tebet.

Primeiro turno é para votar no melhor. Útil é votar em quem a gente confia", diz o curto texto.

Lula, por sua vez, jura não estar fazendo campanha pelo chamado "voto útil", só diz que tem "trabalhado para ganhar no primeiro turno, como sempre fez".

Em busca da "frente ampla": Além de FHC, o senador José Serra (PSDB-SP) também foi abordado pelo partido. O plano era que os tucanos integrassem a frente de ex-presidenciáveis favoráveis à candidatura de Lula.

Dois dos chamados "tucanos históricos" aderiram: além do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa, o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) não só já declarou voto em Lula como participou de um comício em São Paulo —ele foi candidato a vice na chapa de Aécio Neves (PSDB-MG) em 2014.

O objetivo do PT é reforçar o discurso eleitoral de Lula de formar uma "frente ampla pela democracia". Desde o início do ano, o partido tem tentado formar uma imagem de união suprapartidária em torno do petista, tentando diminuir a rejeição —com FHC e Serra, que enfrentaram o PT nas eleições gerais, duas vezes cada, o discurso ficaria fortificado.

Na última segunda (19), o petista se reuniu com oito ex-candidatos que declaram apoio a ele: seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), Guilherme Boulos (PSOL), Luciana Genro (PSOL), Cristovam Buarque (Cidadania), Marina Silva (Rede), Fernando Haddad (PT), Henrique Meirelles (União Brasil) e João Goulart Filho (PCdoB).

Caso antigo. Em uma relação de amor e ódio com Lula desde o fim dos anos 1970, quando ambos lutaram pela redemocratização e o então sindicalista fez campanha para o atual tucano (então MDB) ao Senado, os dois trocaram afagos no ano passado.

Crítico ferrenho do presidente Jair Bolsonaro (PL), FHC, presidente de honra do PSDB, tem lutado nos últimos anos para que o partido se afaste do bolsonarismo, apesar da alta adesão na Câmara. Em maio de 2021, os dois se reuniram na casa do ex-ministro Nelson Jobim, que trabalhou no governo de FHC e Lula, e o tucano chegou a dizer que votaria no petista contra o atual presidente.