Bolsonaro: Ineficaz para grupo político, motociata fecha agenda de 1º turno
Contando hoje, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem três dias de campanha pela reeleição antes do primeiro turno. Neste período, escolheu fazer ao menos três motociatas. Trata-se de perda de tempo na avaliação do núcleo político de sua equipe —principalmente por reunir apenas eleitores que já votam no candidato.
Bolsonaro dá de ombros para a opinião alheia. Ele inclusive planeja uma motociata de alcance nacional no sábado como ato final da primeira etapa da corrida eleitoral. O presidente pretende sair de moto por São Paulo e Joinville (SC) no sábado (1º). Simultaneamente, apoiadores ao redor do Brasil fariam o mesmo numa grande demonstração de força popular.
Por que motociatas não são aprovadas? O primeiro ato da campanha de Bolsonaro foi uma motociata em Juiz de Fora (MG), em 16 de agosto. O último evento antes do primeiro turno também deverá ser sobre duas rodas. Ele considera a dobradinha motociata mais comício a fórmula ideal para pedir votos. Na opinião do núcleo político, entretanto, é uma baita perda de tempo por vários motivos.
O primeiro é reunir só convertidos. Quem comparece a estes atos já vota no presidente. Mas também há a avaliação de que as motociatas têm embutida uma série de mensagens. Elas se tornaram populares durante a pandemia, quando Bolsonaro ignorava as recomendações de isolamento social e formava aglomerações de apoiadores sem máscara.
Sem capacete e sem mulheres. Para completar, o presidente desrespeita o senso comum em muitas ocasiões ao pilotar sem capacete. Foi assim na terça-feira (27) durante a motociata realizada entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) e ontem em motociata na Baixada Santista.
A última razão é a leitura que se trata de um "evento de macho" —além de não trazer votos, reforçam as reservas do eleitorado feminino em relação ao presidente. Até a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, deixou de acompanhar o marido em várias viagens de campanha por partilhar desta impressão.
No último Datafolha, entre as mulheres Bolsonaro marcou 29% das intenções de voto e Lula, 49%.
Em nome do "datapovo". As pesquisas mostram Bolsonaro estagnado na casa de um terço das intenções de voto da corrida presidencial. Mas o discurso da equipe é que seus eleitores não respondem Datafolha e Ipec e a diferença para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está na casa dos cinco pontos percentuais. A motociata preparada para sábado entra nesta narrativa de desacreditar as pesquisas.
Elas rendem imagens de aglomeração de apoiadores, fazem barulho e mostram volume. Com este arsenal, o presidente vai insistir que tem apoio do eleitorado e falar em "datapovo" —o argumento de que é vítima de um conluio do sistema que não transmite o tamanho de sua popularidade. O ato também serve para estimular que seus eleitores não deixem de votar no domingo.
Como será a organização? Para continuar alimentando a narrativa do datapovo, o discurso oficial é de que a motociata "nacional" de sábado não é um evento organizado pela campanha de Bolsonaro, mas por apoiadores. O UOL apurou que a preparação já começou em São Paulo, no Distrito Federal, Santa Catarina e em Minas Gerais. Neste último estado, a convocação para a motociata está sob responsabilidade de grupos de direita.
O nome deles aparece no banner que está sendo espalhado nas redes sociais. Mas um integrante da organização informou ao UOL que candidatos bolsonaristas devem participar do evento, o que enfraquece a narrativa de eventos espontâneos. Esta narrativa de caráter orgânico também deve perder força porque, de acordo com um interlocutor, o presidente planeja usar uma live para convocar apoiadores a engrossarem a motociata de sábado.
As outras motociatas de Bolsonaro. A motociata de sábado está sendo planejada como grand finale da campanha do primeiro turno do presidente. Mas a agenda inclui outros eventos em cidades que o presidente visita pedindo votos. Ontem, ele esteve na Baixada Santista e fez uma motociata entre Praia Grande (SP) e Santos (SP) —mesmo debaixo de chuva.
Hoje (29), Bolsonaro não tem eventos de campanha porque vai se preparar para o debate da Globo. Na sexta-feira (30), ele volta para a estrada e desembarca em Poços de Caldas (MG). Mais uma vez o presidente pedirá votos sobre duas rodas. Na véspera da eleição estão previstas motociatas em São Paulo e Joinville.
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