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Alckmin diz não ver golpe e que vitória no 1º turno pode evitar mortes

Stella Borges, Allan Brito e Larissa Maurício

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL

29/09/2022 11h09Atualizada em 30/09/2022 01h06

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse hoje não acreditar que o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, dará um golpe caso perca o pleito e entende que uma vitória do petista no primeiro turno pode evitar mais conflitos no país.

As declarações foram dadas durante sabatina promovida por UOL e Folha de S.Paulo. Mara Gabrilli (PSDB), vice de Simone Tebet (MDB), foi a entrevistada de segunda-feira (26) e Ana Paula Matos, vice de Ciro Gomes (PDT), a de ontem. Braga Netto (PL), da chapa de Bolsonaro, foi convidado, mas não respondeu.

Pesquisa Ipec realizada com entrevistas pessoais, contratada pela TV Globo e divulgada na segunda-feira (26), aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está com 48% das intenções de voto e tem possibilidade de vitória em 1º turno, com 52% dos votos válidos. Bolsonaro aparece com 31% e 34% dos votos válidos.

Destaques da sabatina:

  • Alckmin declarou que vencer no 1º turno pode evitar "mortes" e uma "tragédia"
  • Afirmou que é difícil o perdedor das eleições dar golpe: "Tem muito blefe aí"
  • Não respondeu se aceitaria assumir o Ministério da Economia
  • Declarou que Lula foi injustiçado em 2018
  • E, contrariando o PT e o próprio Lula, disse que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) "não foi um golpe", embora tenha sido "injusto"

O que Alckmin disse:

Acho que é melhor para o Brasil [vencer em 1º turno] porque sai dessa confusão, briga, de repente pode ter morte, pode ter acidente, pode acontecer tragédia. É melhor para o povo, dá mais tempo de você organizar, é melhor para economia. Você já tem mais tempo para preparar

Não vejo clima para isso [golpe], e também essa contestação de urna eletrônica, ela é meio ridícula, porque o Bolsonaro foi eleito cinco vezes pela urna eletrônica, agora ela não funciona mais? Aliás, na última eleição ele foi eleito presidente da República, quem poderia reclamar sou eu, que perdi a eleição. Os três filhos [dele] foram eleitos pela urna eletrônica, então não tem o menor sentido, eu acho que é uma agenda equivocada

Você não pode dizer que [o impeachment de Dilma] foi golpe porque quem presidiu foi o Supremo Tribunal Federal, se perguntar foi injusto, eu acho que foi. Foi injusto, porque na realidade a Dilma é uma pessoa correta, honesta, aliás, com quem eu tive sempre um bom relacionamento

Como foi a sabatina

O candidato a vice-presidente disse que seria importante o petista vencer a eleição presidencial no 1º turno para evitar mais casos de violência política no país e atribuiu a recente escalada a Bolsonaro. Para ele, o chefe do Executivo deveria "dar o exemplo" de postura à sociedade. "E não [o exemplo] de divisionismo, o ódio, a violência que acabam estimulando pessoas que cometem atos absurdos."

Apesar do cenário conflituoso pré-eleitoral, ele afirmou não acreditar que o presidente dê um golpe antidemocrático. "É difícil o perdedor dar golpe, né? Não acredito muito nisso não, acho que tem muito blefe aí", afirmou. "Também acredito no profissionalismo, na seriedade das Forças Armadas, que são cumpridoras da Constituição, isso é um dado de realidade."

Adversário histórico do PT quando era filiado ao PSDB, Alckmin disse ainda que a Operação Lava Jato foi usada para tirar Lula das eleições de 2018. Na ocasião, o líder petista estava preso e teve o registro de sua candidatura rejeitado.

Minha opinião: acho que [a Lava Jato] foi feita para tirar o Lula da eleição em 2018. Isso se comprovou depois. Não tinha nenhuma razão para o processo estar lá em Curitiba, não havia competência para isso, e havia parcialidade, porque se tinha conversas [entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores]

Questionado se acredita que o PSDB vai declarar apoio formal a chapa Lula-Alckmin no segundo turno, o ex-governador disse que não pode falar pelo partido, mas vê mais afinidade dos tucanos com eles do que com Bolsonaro.

O paulista discordou dos petistas sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e afirmou que não aconteceu um golpe, embora entenda que a saída dela tenha sido injusta.

Alckmin disse que se posicionou contra o impeachment em conversas com a direção partidária, mas, por fim, apoiou o partido. Conforme mostrou o UOL Confere, apesar de, em 2015, ele ter questionado publicamente a necessidade do impeachment de Dilma, há vários registros posteriores do ex-tucano se posicionando a favor da medida.

Cotado para comandar a Economia em um possível mandato de Lula, Alckmin não cravou se aceitaria exercer a função. "Esse negócio de sentar na cadeira antes dá um azar danado", brincou. Na sequência, no entanto, ele passou a falar sobre as propostas para a área.

O Brasil precisa de uma agenda de competitividade, reforma tributária. Eu visitei três fábricas. Se não simplificar a questão tributária, não tem jeito. O Brasil é o país dos impostos, nós precisamos simplificar. E reforma tributária é necessária. Agenda de competitividade. Desburocratizar. Acordos internacionais: o país está isolado. Quando você não faz um acordo e seu vizinho faz, você está perdendo mercado

Ele também negou que sua candidatura à vice-Presidência seja uma estratégia para concorrer ao Palácio do Planalto em 2026 caso Lula se saia vitorioso e disse que sua tarefa é ajudar o país.

O ex-governador Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula, durante sabatina UOL e Folha - Simon Plestanjak/UOL - Simon Plestanjak/UOL
O ex-governador Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula, durante sabatina UOL e Folha
Imagem: Simon Plestanjak/UOL

A favor ou contra? O candidato se posicionou a favor do uso de câmeras nos uniformes de policiais, das cotas raciais, e da restrição a posse e porte de armas, exceto na zona rural.

Alckmin disse ser contra ampliar a possibilidade do aborto legal e contra a legalização da maconha, "a não ser para casos medicinais".

O presidente Lula já falou que ele, pessoalmente, ele é contra o aborto. Como eu quero reiterar aqui que eu, pessoalmente, também sou contra. Esse é um tema do Congresso Nacional, e eu acho que a legislação já contempla três hipóteses importantes: risco de vida para a mãe, estupro e anencefalia. Então eu acho que a legislação já tá adequada, não mudaria. E lei se cumpre, lei é pra ser cumprida, mas é evidente. Agora, esse é um debate da sociedade, a sociedade discute, a sociedade debate, o Congresso legisla, então eu defendo a legislação atual

Na seara econômica, posicionou-se contra a privatização da Petrobras e disse ser preciso "aperfeiçoar" a reforma trabalhista.

'Não diga nada'. Alckmin também foi indagado se João Doria (PSDB), seu afilhado político e com quem rompeu em 2018, foi um bom prefeito e um bom governador e se se arrependia de ter trazido ele para a política.

Olha, santo Antônio de Pádua dizia: 'Quando você não puder falar bem não diga nada'. Ele era filiado ao partido, quis ser candidato a prefeito e pediu meu apoio (...) Mas enfim, eu respeito as aspirações das pessoas, não guardo mágoa de ninguém

Ele disse ainda não ter tido problemas com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles durante o período que ele trabalhou como secretário em seu governo e que ele "não tinha essa postura tão radical".

Assista à íntegra da sabatina Folha/UOL com Geraldo Alckmin: