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Bate-bocas e guerra por pedidos de direito de resposta marcam último debate

Do UOL, em São Paulo, no Rio e em Brasília*

30/09/2022 00h44Atualizada em 30/09/2022 10h03

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trocaram acusações e brigaram por direitos de resposta no último debate entre os presidenciáveis antes do primeiro turno. Os dois, no entanto, não tiveram confronto direto durante as perguntas e respostas —ainda que Bolsonaro tenha tido uma oportunidade de enfrentar Lula.

Outros cincos candidatos participaram do programa promovido pela TV Globo: Ciro Gomes (PDT), Luiz Felipe D'Avila (Novo), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB).

Foram mais de três horas de embate, com apresentação de William Bonner —que pediu calma e deu broncas nos candidatos que não respeitaram as regras. No total, foram dez direitos de respostas —Bolsonaro e Lula tiveram quatro, cada um; Kelmon e Soraya, um, cada um.

Em pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (29), o petista aparece com 48% dos votos —com possibilidade de vencer no primeiro turno— e Bolsonaro, com 34%. Em seguida, aparecem Ciro com 6% e Tebet manteve seus 5% em relação ao último levantamento. Soraya teve 1%. D'Avila e Padre Kelmon não pontuaram.

O que você precisa saber sobre o debate:

  • Não houve confronto direto entre Lula e Bolsonaro nas perguntas e respostas. O presidente poderia ter chamado o petista no terceiro bloco, mas optou por D'Avila.
  • Lula e Bolsonaro, entretanto, duelaram com pedidos de direito de resposta no primeiro bloco, o mais quente do programa.
  • Padre Kelmon e Soraya protagonizaram outros embates. A candidata do União Brasil errou o nome do adversário e o chamou de 'padre de festa junina'.
  • Bolsonaro voltou a fazer dobradinha com Kelmon e também usou D'Avila como escada. O presidente tentou fazer o mesmo com Tebet, mas ela rebateu e criticou o presidente.
  • Bonner pediu calma, deu broncas e reforçou regras do debate. Apagado, Ciro provocou Lula, que respondeu que estava achando o adversário nervoso.

O que disseram:

Se nós pegarmos artistas, cientistas, e tal, todo mundo passando pano, e juntando Caetano com Geddel para ficar em dois baianos, esse país está mergulhado num conchavo absolutamente mortal."
Ciro Gomes em ataque a Lula durante tréplica a Felipe D'Avila

Vacinou-se quem quis. A senhora sabe o que é liberdade? Quem não quiser tomar vacina que não tome."
Jair Bolsonaro para Soraya Thronicke

Você deveria pedir desculpas, porque 120 bilhões de reais fez falta na vida de muitas pessoas, mas não fez falta na vida da turma do PT nem na sua."
Felipe D'Avila a Lula

Você, quando vier no microfone, você se comporte como presidente. Respeite quem está assistindo, não minta!"
Lula em direito de resposta, a Bolsonaro

Vocês todos aqui, inclusive alguns jornalistas, estão precisando de catequese."
Padre Kelmon a Soraya Thronicke

É impressionante, mente tanto que acredita na própria mentira"
Simone Tebet sobre Jair Bolsonaro

Depois do auxílio emergencial o senhor arrumou um emprego de cabo eleitoral do candidato Jair Bolsonaro."
Soraya Thronicke em réplica a Padre Kelmon

Eu vou pedir aos candidatos que, em respeito ao público, procurem manter um nível de tranquilidade adequado para um ambiente democrático como nós pretendemos que seja este debate."
William Bonner sobre troca de farpas de Lula e Bolsonaro

Como foi o debate:

Farpas em direito de resposta. O início do debate foi marcado por troca de acusações entre Lula e Bolsonaro —ambos pediram direitos de resposta. No primeiro bloco, o petista teve direito a quatro revides; o presidente, a dois.

Lula pediu para rebater ataque de Bolsonaro, que havia o chamado de "chefe de uma grande quadrilha" e "cleptocracia". A organização analisou o pedido e concedeu o direito de resposta.

Na sua declaração, Lula falou que seu principal adversário na corrida eleitoral deveria saber o que "foi a quadrilha da vacina" —em referência ao imunizante Covaxin, que foi alvo de escândalo na pandemia após denúncias feitas na CPI da Covid, no ano passado.

O direito de resposta tem um tempo máximo de um minuto e é aprovado por uma comissão, que é composta pela direção de jornalismo da Rede Globo. O apresentador William Bonner disse que o direito é aceito quando o candidato tiver sua honra pessoal ofendida.

Eu só esperava que em um debate entre pessoas que querem ser presidente da República, o atual presidente tivesse um mínimo de honestidade, um mínimo de seriedade. Ele falar que eu montei quadrilha? Com a quadrilha da rachadinha dele, que ele decretou sigilo de 100 anos, com a rachadinha da família, sabe, do Ministério da Educação, com barras de ouro? Ele falar de quadrilha comigo? Ele precisava se olhar no espelho e saber o que está acontecendo no governo dele. Ele saber o que foi a quadrilha da vacina!"
Lula, no primeiro direito de resposta

Mentiroso! Ex-presidiário! Traidor da pátria! Que rachadinha? Rachadinha é teus filhos roubando milhões de empresas, após a tua chegada ao poder. Que CPI é essa? Da farsa? Que você vem defender aqui. O que achou a meu respeito? Nada! Que dinheiro de propina? Não teve propina, propina teve o seu Carlos Gabas, do Consórcio do Nordeste! Dos governadores amigos teus! Que foi descoberto em 50 milhões de reais, e nada foi apurado."
Bolsonaro, em direito de resposta

Sem confronto direto. Apesar de provocar o adversário em diversas ocasiões, no terceiro bloco do debate, Bolsonaro preferiu não confrontar diretamente Lula —o candidato à reeleição chamou o candidato do Novo e fez uma pergunta sobre economia.

"Qual sua preocupação se o governo cair na mão da esquerda?", questionou o atual chefe do Executivo.

Clima inicial seguiu preparação. Reportagem do UOL mostrou que a estratégia de Bolsonaro era focar em ataques contra Lula durante o debate e desgastar o ex-presidente.

Já a campanha do petista afirmou que ele responderia de forma mais incisiva quando fosse atacado. No debate promovido por UOL, Folha, Band e TV Cultura, Lula foi considerado apático ao ser confrontado sobre corrupção.

'Estou achando você nervoso'. O programa começou com um clima tenso. Antes mesmo do duelo de direito de respostas, o clima de nervosismo já havia aparecido quando Ciro chamou Lula para fazer a primeira pergunta do debate. O pedetista gaguejou. O petista respondeu: "Estou achando você nervoso".

Padre de festa junina, cabo eleitoral. Candidato do PTB —que foi indicado depois que a candidatura de Roberto Jefferson foi indeferida—, Padre Kelmon foi destaque nas redes sociais com memes e repercussão de frases ditas pelos adversários.

Soraya chamou o candidato de "padre de festa junina" e afirmou que ele é cabo eleitoral de Bolsonaro.

Ao longo do debate, Kelmon foi repreendido por Bonner por não seguir as regras.

Dobradinha amigável. Na primeira participação de Kelmon, ele repetiu a dobradinha que já havia feito no debate do SBT, no último sábado (24), com o presidente Bolsonaro. O candidato do PTB se dirigiu ao chefe do Executivo com um tom de cabo eleitoral, elogiando ações do governo e falando em um novo mandato bolsonarista.

Presidente, o senhor enfrentou a pandemia com 500 milhões de doses de vacinas, e deu 600 milhões de reais de auxílio para os brasileiros. Economia a gente vê depois, o Auxílio Brasil é permanente para o povo. O senhor pretende manter essa política no seu mandato? No segundo mandato?"
Padre Kelmon pergunta para Bolsonaro

Ambos, então, não debateram —eles se revezaram em críticas ao PT e defenderam pautas conservadoras.

No debate de sábado (24), Bolsonaro falou sobre uma suposta ameaça aos cristãos brasileiros, citando a situação da Nicarágua, onde há conflitos entre a ditadura de Daniel Ortega e a Igreja Católica.

Sem dobradinha. O chefe do Executivo tentou repetir a dobradinha com Tebet —ele fez uma pergunta que serviria como ataque ao ex-presidente. A candidata, no entanto, não aceitou.

Bolsonaro citou o assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (SP). Mais cedo, o candidato à reeleição havia sido treinado pelo filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que falou sobre esse tema, segundo apurou a colunista do UOL Carla Araújo.

Em resposta, Tebet quis saber por que Bolsonaro não questionaria Lula sobre o tema.

Eu lamento esta questão ser trazida num debate neste momento tão importante da história do Brasil, e ser dirigida a mim. Eu acho que falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT que, segundo o senhor, é envolvido e está aqui. Por que não pergunta para o candidato Lula sobre esse assunto? E vamos tratar do Brasil?"
Simone Tebet em resposta a Bolsonaro

Pedido de voto controverso. No quarto bloco, Bolsonaro teve mais um direito de resposta e aproveitou para fazer propaganda eleitoral do candidato ao governo de Mato Grosso do Sul Capitão Contar (PRTB-MS). O nome apoiado por sua base no estado, no entanto, é de Eduardo Riedel (PSDB). O tucano recebeu apoio da ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina.

Em uma de suas declarações, o candidato à reeleição também parabenizou seu ex-secretário Mário Frias —que está em campanha. "Boa sorte como candidato federal por São Paulo", disse.

Corrupção x orçamento secreto. Para atacar Bolsonaro e Lula, os demais concorrentes usaram temas como o orçamento secreto e casos de corrupção do governo petista.

A mais grave institucionalização que eu já vi na história da humanidade, da corrupção como elemento central do modelo de poder, é o orçamento secreto. O senhor disse que não que pode fazer, que é o Parlamento. Eu lhe ensino a fazer, determine aos seus ministros que não empenhem, que eu faria isso no primeiro dia, acaba a roubalheira, acabou ali mesmo."
Ciro em ataque a Bolsonaro sobre orçamento secreto

Vários de seus comparsas foram presos e disseram que você era o chefe do maior esquema de roubo de corrupção da história mundial. Renato Duque, Palocci são alguns exemplos, o seu próprio vice disse que você quer voltar à cena do crime para continuar roubando o povo brasileiro."
Padre Kelmon em pergunta a Lula

Troca-troca. "Padre Kelson? Kelvin? Candidato Padre", disse Soraya ao se referir ao candidato do PTB. Esse não foi único erro e troca de nomes entre os presidenciáveis durante o debate —até o apresentador chamou o padre de "Kelman".

Lula também errou ao chamar Simone Tebet de "Strebet" no segundo bloco. E ao chamar Soraya para um confronto, Tebet se referiu a adversária como "candidata Bolsonara".

*Participaram desta cobertura:
Em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Beatriz Gomes, Caê Vasconcelos, Gilvan Marques, Isabela Aleixo, Juliana Arreguy, Letícia Mutchnik e Rafael Neves.
No Rio de Janeiro: Felipe Pereira e Lucas Borges Teixeira.
Em Brasília: Camila Turtelli, Gabriela Vinhal, Hanrrikson de Andrade e Letícia Casado.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, Mário Frias é ex-secretário da cultura, e não ex-ministro. O texto foi corrigido.

Tradutor: Bate-bocas entre candidatos e pedidos de direito de resposta marcam debate