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Debate da Globo: Lula vai responder a ataques e Bolsonaro quer furar bolha

Colunista do UOL, em Brasília, e do UOL, em São Paulo

29/09/2022 04h00

As campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm tratado o debate da TV Globo, na noite de hoje (29), como um dos momentos cruciais da corrida eleitoral de 2022. Com agendas esvaziadas nesta quinta, ambos deverão passar o dia se preparando para o encontro.

O debate começa às 22h30. Esta será a segunda vez que os dois poderão se enfrentar diretamente —a primeira foi no debate presidencial promovido por UOL, Folha de S.Paulo, Band e TV Cultura, no fim de agosto. Também participarão Ciro Gomes (PDT), Luiz Felipe D'Avila (Novo), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB).

  • Estagnado nas últimas pesquisas eleitorais, Bolsonaro pretende usar o programa da emissora com maior audiência no país exatamente para furar a bolha e tentar expandir o eleitorado. Para isso, focará em ataques a Lula.
  • Já o petista pretende manter a estratégia adotada nesta campanha: focar em pautas de economia e renda. E, diferente do último confronto, Lula deverá responder de forma mais incisiva quando for atacado --ele foi criticado por parecer apático no estúdio da Band.

Falar para fora da bolha. Auxiliares de Bolsonaro enfatizaram a necessidade de o presidente conseguir falar para além dos convertidos. Nas palavras de um integrante da campanha, "ele precisará sair da bolha e desgastar ainda mais o Lula".

Por mais que o núcleo da campanha avalie a participação de Bolsonaro como boa no debate do SBT, no último sábado (24), o presidente não conseguiu criar uma mensagem ou alguma frase de impacto que atingisse eleitores indecisos, por exemplo.

Nas conversas com auxiliares nesta semana, segundo apurou o UOL, Bolsonaro mostrou "ótimo humor" e estava bastante animado. O presidente já está com os dados de seu governo em mãos e "tem tudo na cabeça", dizem.

Ao ataque. Bolsonaro terá um alvo prioritário: desgastar Lula. A orientação é para ele não aliviar e focar no discurso da corrupção. Pesquisas internas mostram que o maior engajamento nas redes sociais durante o último debate ocorreu quando o presidente partiu para cima do adversário abordando este tema.

A resposta na internet ocorreu dentro e fora da bolha bolsonarista. Existe inclusive o conselho para usar o termo "ex-presidiário", com Lula no mesmo estúdio. No SBT, o presidente utilizou a expressão, mas o adversário faltou ao debate.

Por outro lado, segundo um assessor, Bolsonaro tem repetido nos bastidores que "todos são sempre contra ele". Mas deve se policiar para não perder a cabeça —especialmente contra jornalistas mulheres, como fez com Vera Magalhães.

Confusão não arrumo... Lula foi orientado a se manter nas pautas propositivas. À frente em todas as pesquisas, com possibilidade de vitória no primeiro turno dentro da margem de erro, a estratégia da campanha é não criar desgastes desnecessários nem se arriscar demais.

É o famoso "em time que está ganhando não se mexe", dizem membros da campanha, entre as frequentes referências a futebol. O petista deverá seguir tentando puxar o debate para emprego, renda, poder de compra e consumo e cotidiano do brasileiro.

Como tem feito desde o começo da campanha, o grupo avalia que é o bolso o ponto de maior trunfo do discurso de Lula e é a única coisa que pode unir a ampla gama de espectadores da Globo.

...Mas também não peço arrego. Isso não significa, no entanto, que não deverá responder a ataques. No último debate, essa mesma estratégia —de evitar desgaste— desandou em uma percepção de apatia do ex-presidente, em especial no embate com Bolsonaro sobre corrupção.

Agora, a proposta é que Lula revide —e até provoque, sutilmente.

Outra diferença em relação ao último embate é prestar atenção na postura de Ciro Gomes. Se antes Lula tentou uma aproximação e levou uma invertida, neste, já se prepara para uma posição ainda menos amistosa do antigo aliado, que tem aumentado as críticas contra ele. Em suas falas, o petista também tem distribuído cutucadas ao pedetista.

Cancelou viagem. O único consenso entre as campanhas é que o programa pode ajudar a definir os rumos do pleito. Ambos tiraram o dia de hoje, às vésperas das eleições, só para se preparar para o debate.

Bolsonaro novamente recusou treinamento profissional, o famoso media training, mas ao longo da semana conversou com seus principais auxiliares sobre qual estratégia adotar. Até o fim da noite de ontem (28), a agenda oficial do presidente não previa compromissos e ele decidiu, de última hora, cancelar uma viagem a Uberlândia (MG) e Belo Horizonte para se concentrar.

O objetivo é que Bolsonaro chegue com "a cabeça fria". Antes do debate, porém, ele ainda avalia se vai realizar a sua live semanal, já do Rio de Janeiro, para chamar apoiadores para acompanhar e repercutir o programa nas redes sociais.

A exemplo do que foi a preparação para a entrevista ao Jornal Nacional e para os demais debates, a estratégia de Bolsonaro é traçada pelos principais personagens da campanha: os ministros Ciro Nogueira (PP-PI) e Fábio Faria (PP-RN), o ex-secretário de comunicação Fabio Wajngarten, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o marqueteiro Duda Lima.

A avaliação feita por integrantes da campanha, que admitem que o presidente está em desvantagem, é que o programa pode ser a "última grande chance" para reduzir a diferença nos votos e chegar ao segundo turno.

A previsão é que Bolsonaro retome as agendas nas ruas na sexta (30) com possibilidade de motociata em Poços de Caldas (MG). Para sábado (1º), a programação ainda não foi fechada, mas o presidente deve fazer mais passeios de moto.

Dois dias de preparação. Lula não cancelou viagem, mas, numa atitude inédita desde a pré-campanha, tirou dois dias só para se preparar. Sem agendas públicas ontem e hoje, o petista já viajou para o Rio.

Lula tem a companhia de assessores e, antes do programa, deverá falar com coordenadores de comunicação da campanha —o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), e o deputado Rui Falcão (PT-SP)— e com o ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo.

O ex-presidente vai fazer um intensivo em números de sua gestão, que tem repetido com frequência, em especial para comparar com o desempenho atual das áreas social e econômica.

O momento também servirá como descanso. Com eventos diários desde agosto, Lula já volta à correria amanhã (30), com caminhadas em Salvador, pela manhã, e Fortaleza, pela tarde. No sábado, volta para São Paulo para o último ato de campanha do primeiro turno na rua.

Veja a cobertura e análises do debate presidencial no Canal UOL, hoje, a partir das 22h: