Jornal: Em reunião, militares dizem que aceitarão o resultado das eleições
O Alto-Comando do Exército decidiu dar apoio ao resultado das urnas eletrônicas durante as eleições presidenciais, após reunião em Quartel-General, segundo apurou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, hoje.
De acordo com a publicação, os 16 oficiais-generais do grupo mais influente das Forças Armadas indicaram que a caserna —edifício ou alojamento para moradia dentro de um quartel— irá reconhecer o anúncio do vencedor pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
"Quem ganhar leva" teria sido a frase utilizada por militares logo depois do encontro, realizado entre os dias 1º e 5 de agosto.
Ainda de acordo com a reportagem, à medida que a decisão dos generais se espalhava pelos quartéis de outras cidades, "os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica começaram a evitar exposição política e a dar sinais de distanciamento da inédita auditoria das eleições, que vai checar parcialmente a soma dos votos no domingo e monitorar testes de funcionamento das urnas eletrônicas".
A auditoria foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, repassado ao seu partido, o PL (Partido Liberal).
Durante a live semanal realizada nas redes sociais, Bolsonaro desmentiu a reportagem.
Mentira! E [a reportagem] cita certos nomes ali de pessoas que não foram, não concederam entrevista, um é até o próprio Braga Netto. Falei, 'Braga Netto, falou com algum jornal hoje?,' Nenhum, zero. Então eles inventam nomes, fazem a matéria, tentam me afastar das Forças Armadas. Mas existe uma coisa que a imprensa não sabe, né? Chama-se lealdade, confiança, respeito, consideração. A imprensa não sabe o que é isso. E isso existe entre eu e os comandantes militares. Ocasionalmente, alguém dá uma pisada na bola por aí, mas a imprensa é contumaz em proceder dessa forma. Presidente Jair Bolsonaro, em transmissão nas redes
Exército nega informações
Em nota, o Exército brasileiro chamou a reportagem de "fake news" e disse estudar "as medidas judiciais cabíveis".
"O Comando do Exército manifesta total repúdio ao seu conteúdo. Na reunião do Alto-Comando do Exército (ACE), ocorrida entre 1º e 5 de agosto, não foram tratados assuntos de natureza político-partidária, tampouco houve qualquer manifestação de oficial do ACE nesse sentido. Os dados apresentados na matéria são inverídicos e tendenciosos. É lamentável que um veículo de expressão nacional promova desinformação que só contribui para a instabilidade do País. Dessa forma, as medidas judiciais cabíveis estão sendo estudadas."
Auditoria do PL
Com o título "Resultados da Auditoria de Conformidade do PL no TSE", o partido acusa o tribunal de "atraso" no processo de apuração eleitoral e descreve, sem apontar como, a possibilidade de manipulação do resultado da eleição. O relatório tem 130 páginas e conta com o resumo executivo de duas páginas. A minuta do documento, no entanto, ainda não foi repassada ao TSE.
A auditoria afirma ainda ter encontrado um "quadro de atraso" no tribunal no que se refere à segurança de informação e que o quadro "gera vulnerabilidades relevantes", podendo resultar em "invasão interna ou externa nos sistemas eleitorais".
O documento cita um "Relatório de Autoavaliação do TSE de 2021" e informa que a Corte recebeu "sete notas zero, dadas pelos próprios servidores do tribunal, em processos essenciais como gestão de continuidade do negócio, gestão de incidentes de segurança da informação, e identificação precoce de requisitos de segurança da informação e gestão permanente desses requisitos durante todo o ciclo de vida do software (Levantamento de Governança e Gestão Públicas do TCU)".
A auditoria diz não ter encontrado um "Sistema de Gestão de Segurança da Informação" e que "alguns técnicos" têm "poder absoluto" para manipular as urnas.
O documento do PL é assinado pelo engenheiro Carlos Rocha, que preside o Instituto Voto Legal — indicada pelo PL. A empresa não preencheu os requisitos exigidos pelo TSE para fazer auditoria.
Mesmo com a retirada da empresa oficialmente, o PL escolheu Carlos Rocha para estar como representante do partido em reunião do TSE no dia 2 de agosto. Na ocasião, Rocha enviou uma série de perguntas por escrito e, para espanto de alguns dos presentes, chegou a pedir uma reunião exclusiva do tribunal com o PL.
Nunca houve registro de fraudes em urnas
Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas —parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000— nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.
As urnas eletrônicas possuem mais de 30 camadas de segurança "que tornam a fraude nas eleições altamente improvável, em especial no brevíssimo tempo da transmissão de dados, garantindo integridade, confiabilidade e autenticidade", afirma o TSE.
Entre este 30 mecanismos estão a zerésima, lacres de segurança especiais, que mostram qualquer tentativa de violação do equipamento, assinaturas digitais para cada voto e cada urna e o log da urna (semelhante à caixa-preta de avião), que registra todos os eventos ocorridos.
O processo de auditoria das urnas eletrônicas para as eleições de 2022 começou em outubro no ano passado, com a abertura do código-fonte, que pode ser inspecionado pelas entidades fiscalizadoras no TSE.
O segundo passo do processo de auditoria e fiscalização é o TPS (Teste Público de Segurança), que começou em novembro de 2021 e foi finalizado em maio deste ano. O relatório da comissão avaliadora do TPS concluiu que não foram identificadas vulnerabilidades. Nenhum dos investigadores envolvidos no teste conseguiu violar a integridade ou sigilo do voto.
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