Cláudio Castro (PL) é reeleito governador do Rio de Janeiro
Cláudio Castro (PL) foi reeleito governador do Rio de Janeiro com 58,67% dos votos válidos —um total de 4.930.288. O deputado federal Marcelo Freixo (PSB) somou 27,38% dos votos, enquanto Rodrigo Neves (PDT) ficou com 8% e Paulo Gamine (Novo) obteve 5,31%.
Em 765 dias, ele conseguiu ir da condição de um governador por acidente à conquista de uma surpreendente reeleição em primeiro turno. Eleito vice-governador durante a onda bolsonarista de 2018, o cantor católico —que assumiu o cargo interinamente em agosto de 2020 após o afastamento de Wilson Witzel— permanecerá como governador do Rio até 2026.
Aos 43 anos, Castro —que durante toda a campanha liderou a disputa eleitoral— superou o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), cuja estratégia foi colar a imagem à de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atacar o governador com escândalos associados à gestão dele.
A recente guinada ao centro por Freixo não foi suficiente para superar nas urnas o governador apoiado por Jair Bolsonaro (PL). No RJ, Bolsonaro superou Lula em 984.103 votos.
Castro lançou mão de todas as ferramentas de um político tradicional para se reeleger: formou uma ampla coligação com 14 partidos e utilizou os recursos da concessão do saneamento público do estado para abrir frentes de obras e repassar valores expressivos para municípios —de acordo com o governo, R$ 4,4 bilhões já foram reservados para pagamentos.
Essa engenharia fez Castro conquistar o apoio de 85 dos 92 prefeitos do estado e de uma ampla maioria dos deputados estaduais e federais. O governador somou a isso o apoio de Bolsonaro, embora tenha procurado evitar se associar fortemente ao presidente ao longo da campanha.
Campanha marcada por escândalo dos cargos secretos. Toda essa musculatura fez Castro superar a sucessão de denúncias que envolveram seu governo às vésperas da campanha. Em junho, o UOL revelou o escândalo dos mais de 20 mil cargos secretos na Fundação Ceperj, espécie de IBGE estadual.
A série de reportagens do UOL e as posteriores investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) mostraram que os 13 programas da Ceperj contratavam pessoas sem processo seletivo ou nenhuma transparência. O governo do RJ também usou a Uerj (Universidade do Estado do RJ) para empregar aliados.
Há diversas denúncias sobre funcionários fantasmas e uso político dos programas, que foram loteados entre aliados de Castro para a contratação de cabos eleitorais. Com os salários pagos por meio de ordem de pagamento na boca do caixa, quase R$ 250 milhões foram sacados em dinheiro vivo por funcionários dos projetos desde o ano passado.
Durante a campanha, Castro teve que mudar seu vice. O ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB) teve o registro de candidatura negado pela Justiça Eleitoral. Pouco antes, Reis havia sido alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeitas de fraudes na saúde. O substituto foi o deputado estadual Thiago Pampolha (União Brasil), ligado ao grupo político de Sérgio Cabral.
Pouco depois, outra operação atingiu a campanha —Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil e homem forte da gestão Castro na segurança pública, foi preso pelo MP-RJ sob a acusação de integrar a quadrilha do bicheiro Rogério de Andrade. De acordo com as investigações, Turnowski atuava como um agente duplo do jogo do bicho. Ele nega as acusações e se diz perseguido.
Mochila e delações. Castro também foi confrontado na campanha com a incômoda imagem divulgada em 2020 saindo com uma mochila de uma empresa fornecedora de serviços do estado às vésperas de a firma ter sido alvo de uma operação do MP-RJ que apontou suspeitas de desvios de verbas.
Conforme mostrou o UOL, em um novo depoimento prestado ao MP em julho, um ex-assessor de Castro —que assinou acordo de delação premiada— disse que havia dinheiro de propina na mochila. O relato reforça afirmações de outro delator que se tornaram públicas em 2020.
O ex-assessor também detalhou suposto recebimento de propina por Castro quando foi vereador e vice-governador, citando até um pagamento de US$ 20 mil em uma viagem com familiares a Orlando, sede na Flórida de parques temáticos da Disney.
Castro não quis comentar o conteúdo do depoimento e afirmou, em nota, que "há uma indústria de delações feitas por criminosos que querem se livrar da cadeia e acusam autoridades de forma leviana". O inquérito corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça) sob sigilo.
Alianças pavimentaram caminho à reeleição. Castro liderou toda a campanha e, gradativamente, ampliou sua vantagem. O principal trunfo para isso foi impedir que outros nomes populares com eleitorado conservador se lançassem na disputa pelo Palácio Guanabara.
Na pré-campanha, o governador frustrou os planos do ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella de disputar o governo e garantiu o apoio do Republicanos.
Em uma engenharia surpreendente, conseguiu converter a família Garotinho de opositores para aliados. Com isso, impediu a candidatura do patriarca do clã, o ex-governador Anthony Garotinho (União Brasil). Com o acordo, Clarissa Garotinho (União Brasil) se candidatou ao Senado, dividindo o protagonismo na chapa de Castro com Romário (PL).
Para formar sua coalizão, Castro assumiu o risco de se associar a herdeiros políticos dos principais envolvidos nos escândalos de corrupção da era Cabral, a começar por Marco Antonio Cabral (MDB), filho do ex-governador condenado a 425 anos de prisão. Também no MDB, foi apoiado pelos irmãos Leonardo e Rafael Picciani, herdeiros do ex-presidente da Alerj Jorge Picciani, também preso pela Lava Jato do Rio.
No União Brasil, Castro estreitou as relações com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e fez diversos atos de campanha ao lado da filha dele, Dani Cunha, que se candidatou a deputada federal. No partido, também se aproximou das famílias Brazão e Albertassi —ambas abaladas por prisões na Lava Jato do Rio.
Se no início evitava aparecer publicamente com esses caciques, Castro se sentiu confortável até mesmo para se deixar fotografar em junho com o ex-governador Luiz Fernando Pezão, marcado pela falência do estado e por ter sido preso durante o exercício do mandato, em 2018.
Na última semana de campanha, Castro foi criticado por ter recebido o apoio —e até posado para fotos— com a filha do traficante Fernandinho Beira-Mar, a vereadora de Duque de Caxias Dra. Fernanda Costa, muito próxima de Washington Reis.
Bolsonaro em segundo plano. Depois de praticar um alinhamento automático à família Bolsonaro assim que assumiu o posto de governador, Castro progressivamente se afastou do presidente —rompido com parte das forças políticas no estado.
A disputa presidencial teve um papel reduzido na campanha de Castro. Isso por um fator estratégico: o governador faturou parte dos eleitores do ex-presidente Lula.
Um movimento subterrâneo feito por aliados passou a pedir votos para Castro e Lula. Embora nunca tenha embarcado formalmente nessa campanha, o governador evitou atacar o petista.
Castro esteve com Bolsonaro em poucos momentos da corrida eleitoral, entre eles, o lançamento da candidatura do presidente, no Maracanãzinho, e nos atos bolsonaristas de 7 de Setembro em Copacabana.
Nessa última oportunidade, Castro discursou no trio elétrico do pastor Silas Malafaia ao lado do presidente. Embora tenha utilizado um tom mais estridente que seu habitual, o teor do pronunciamento não esbarrou em pautas radicais.
Nos debates, foram raros os momentos em que Castro citou Bolsonaro. O principal deles ocorreu no debate da TV Globo, em um embate com Paulo Ganime (Novo), que também mirava o eleitorado do presidente. Contrariado com questionamentos sobre Lula, Castro disparou: "Quem é do partido do presidente Bolsonaro aqui sou eu".
Vereador de 10 mil votos. Antes de ser vice de Witzel, Castro foi eleito vereador pelo PSC na capital fluminense, em 2016, com a 43ª votação entre os 51 que garantiram uma vaga na Câmara do Rio. Foram apenas 10.262 votos. Ele foi impulsionado por estar na mesma legenda de Carlos Bolsonaro, primeiro colocado, que teve o apoio de 106.657 eleitores.
Sua aproximação com a política ocorreu a partir de 2004, quando foi convidado para ser assessor do então vereador Márcio Pacheco, com quem também trabalhou na Assembleia Legislativa. Neste ano, Castro atuou na articulação da escolha pela Alerj de Pacheco para o cargo de conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado).
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