Em ofensiva no TSE, Bolsonaro ignora pesquisas que o colocaram na liderança
A ofensiva jurídica do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra institutos de pesquisas eleitorais deixou de citar duas empresas responsáveis por levantamentos que apontaram sua liderança nas intenções de voto durante a campanha do primeiro turno, indo na contramão dos demais criticados pelo governo.
A Brasmarket Análise e Investigação de Mercado e o Instituto Equilíbrio Brasil não são mencionados nominalmente no pedido de providências feito pela campanha ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e à PGR (Procuradoria-Geral da República), ao contrário de outras nove empresas, como o Datafolha e o Ipec, que indicaram possível vitória do ex-presidente Lula (PT) nas eleições.
Desde agosto, as pesquisas da Brasmarket e do Instituto Equilíbrio Brasil divergiam das demais e colocavam Bolsonaro em primeiro lugar nas intenções de voto, cenário que não se confirmou nas urnas.
Os levantamentos da Brasmarket foram até divulgados pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente e um dos críticos de pesquisas eleitorais.
O último levantamento da Brasmarket, divulgado em 30 de setembro, dois dias antes da eleição, apontava liderança de Bolsonaro com 45,4% das intenções de voto no cenário estimulado. Lula (PT) aparecia com 30%.
A pesquisa Equilibrio Brasil, divulgada dois dias antes, dava resultado semelhante, mas com um avanço maior de Lula: Bolsonaro seguia com 44% e o petista, 41%
Nas urnas, Lula terminou o primeiro turno com 48,43% dos votos válidos — uma diferença de 18 pontos percentuais em comparação ao resultado da Brasmarket e 7 pontos percentuais a mais que a pesquisa Equilíbrio Brasil. Bolsonaro ficou com 43,20%, dentro da margem de erro dos dois institutos.
Na contramão, Bolsonaro na liderança. Durante a campanha, Bolsonaro liderou as intenções de voto da Brasmarket, oscilando entre 39% a 45% nos levantamentos feitos entre agosto e setembro. Lula oscilou entre 30,9 a 33%.
As discrepâncias entre os resultados da Brasmarket com as urnas e com outras pesquisas, porém, não são citadas pelo presidente nos pedidos de providência levados ao TSE e à PGR.
As ações citam nominalmente nove empresas: Quaest, Ipec, Datafolha, Ipespe, FSB, PoderData, Atlas, MDA e Paraná Pesquisas. Todas fizeram levantamentos que indicavam liderança de Lula nas intenções de voto, com Bolsonaro em segundo lugar.
"Embora sejam naturais as divergências entre os resultados das urnas e as indicações de pesquisas, os erros crassos que envolveram as pesquisas eleitorais, nesse pleito de 2022, são notoriamente repulsivos e merecem ser apurados com a devida profundidade e extensão", disse a defesa do governo, sem mencionar a Brasmarket ou a Equilíbrio.
Os documentos foram encaminhados ao corregedor-geral eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, e ao procurador-geral da República, Augusto Aras.
Bolsonaro cobra que os institutos de pesquisa citados, "dentre outros reputados relevantes para a coleta de informações", deem explicações sobre as divergências relatadas entre o resultado das urnas e as pesquisas feitas durante a campanha.
A diretora do Datafolha, Luciana Chong, avaliou que os eleitores que decidiram o voto de última hora nesse primeiro turno favoreceram a candidatura de Bolsonaro, o que explicaria a diferença entre a pesquisa do instituto na véspera da eleição e o resultado das urnas.
A diretora do Ipec (ex-Ibope), Márcia Cavallari, apresentou justificativas semelhantes e mencionou a antecipação de votos no presidente por eleitores indecisos, de Ciro e Simone.
Por que a Brasmarket ficou de fora? O UOL entrou em contato com a campanha de Bolsonaro, com o Palácio do Planalto e com o ex-ministro Tarcísio Vieira de Carvalho, responsável pela defesa jurídica do presidente no TSE.
A campanha de Bolsonaro e o Planalto não responderam.
Ao UOL o ex-ministro Tarcísio Vieira de Carvalho disse que a proposta é uma "investigação ampla". "A menção aos institutos relacionados na petição é meramente exemplificativa", afirmou.
Ministério da Justiça não diz nomes. Questionado pelo UOL se o inquérito solicitado pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, para apurar a atuação dos institutos de pesquisa eleitoral englobaria a Brasmarket ou o Instituto Equilíbrio Brasil, o Ministério da Justiça não comentou.
A pasta se limitou a dizer que não enviaria o ofício encaminhado à PF e reproduziu nota divulgada anteriormente pelo governo sobre a investigação.
No texto, o Ministério da Justiça diz: "Vale lembrar que o art. 33, § 4º, da Lei das Eleições nº 9.504, de 1997, afirma que 'a divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de seis meses a um ano e multa'".
Ao ser questionado na quarta-feira (5) se a instauração da investigação poderia soar como tentativa de intimidação, Anderson Torres negou, alegando que a divulgação de notícia falsa é crime.
"Na verdade, não é intimidação porque existe um crime previsto para isso, que é a divulgação de pesquisas falsas. A própria fake news. Não tem fake news maior do que essa, no momento, em uma véspera de eleição... Então, a gente tem que ter muito cuidado. O inquérito é muito sério e a realidade vai vir à tona", disse.
Confiável para Flávio. Sem menção na ofensiva do governo, a pesquisa Brasmarket foi compartilhada por Flávio Bolsonaro, filho do presidente, em setembro. No dia 15, o senador escreveu que o levantamento "já dá Bolsonaro eleito no 1º turno", mesmo que outras pesquisas indicassem o oposto.
"Como falamos há tempos, os demais institutos já começaram a ajustar a vitória de Bolsonaro. As óbvias exceções serão DataFolha e IPEC, por ordem da Globo/PT e vão bancar a farsa até o fim", disse.
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