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Bolsonaro volta a Aparecida um ano após críticas de arcebispo

Bolsonaro em visita à Basília de Aparecida, em 2021, ao lado de dom Orlando Brandes - Divulgação/Presidência
Bolsonaro em visita à Basília de Aparecida, em 2021, ao lado de dom Orlando Brandes Imagem: Divulgação/Presidência

Do UOL, em São Paulo

12/10/2022 04h00

Um ano depois de receber uma indireta do arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltará à cidade do interior paulista para participar da celebração à padroeira do Brasil, que acontece hoje, 12 de outubro.

Ao contrário de Lula, que terá agenda no Rio e em Salvador, Bolsonaro escolheu visitar Aparecida no feriado. Enquanto o presidente lidera entre evangélicos, o petista é o primeiro entre o eleitor católico, segundo o Datafolha.

Ao lado de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo, Bolsonaro voltará a Aparecida, apesar das críticas veladas que recebeu de dom Orlando Brandes no feriado do ano passado.

"Para ser pátria amada não pode ser pátria armada", afirmou na ocasião o arcebispo, um trocadilho com o slogan do governo Bolsonaro e sua pauta armamentista.

"Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma república sem mentira e sem fake news", disse, sem nunca citar o presidente, que chegaria ao santuário nas próximas horas. "Pátria amada sem corrupção."

Em 2020, Brandes já havia condenado o aumento das queimadas na Amazônia e no Pantanal. Um ano antes, criticou em sermão o "dragão do tradicionalismo" e disse que a "direita é violenta e injusta".

Visita de Bolsonaro não pode "impactar" fiéis. Procurado pelo UOL, Brandes preferiu não comentar a visita de Bolsonaro este ano. Em nota, tentou desvincular o santuário de qualquer agenda política.

"O Santuário Nacional organizará a acolhida ao presidente nas melhores práticas que um chefe de Estado requer, mas também buscando garantir que a rotina dos peregrinos não seja impactada pelas condições que a visita exige", escreveu.

Bolsonaro rezará terço com conservadores. Na mesma nota, Brandes escreve que "consta na agenda do Presidente a participação em um Terço que será rezado na cidade de Aparecida".

"Essa atividade não é organizada pelo Santuário Nacional, tampouco tem anuência do Arcebispo de Aparecida", disse. "A iniciativa é de um grupo independente, que não tem qualquer relação com o Santuário."

Trata-se de um terço organizado pelo Centro Dom Bosco, uma associação de leigos católicos conservadores fundada em 2016 com o objetivo de "resgatar a bimilenar tradição da Igreja".

Acreditamos que o Brasil é uma nação católica que foi adormecida pelo veneno liberal das casas maçônicas (...) Desejamos formar uma nova geração de católicos capazes de renovar a Igreja e a Terra de Santa Cruz."
Centro Dom Bosco, em sua página na internet

CNBB lamenta exploração religiosa. Já a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) se manifestou de forma mais explícita contra o uso político da religião nas eleições. Também em nota, a entidade condenou "a intensificação da exploração da fé e da religião" como meio de angariar votos.

A entidade, sem citar nomes, afirmou que "momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha" e que a "manipulação" tira o foco de "reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil".

Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida - Thiago Leon/Santuário Nacional - Thiago Leon/Santuário Nacional
Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida
Imagem: Thiago Leon/Santuário Nacional

Lula já foi a Aparecida? Lula nunca foi a Aparecida enquanto presidente ou candidato. Dilma Rousseff (PT) apareceu na cidade no feriado de 2010, quando tentava se eleger pela primeira vez. Aécio Neves (PSDB) fez o mesmo em 2014.

Em 2018, o então candidato a presidente Fernando Haddad (PT) celebrou a padroeira na paróquia Santos Mártires, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Naquele ano, Bolsonaro só apareceria no santuário em 30 de novembro, em uma agenda de última hora.

Naquele ano, o então presidente Michel Temer (MDB) desistiu de visitar a cidade e foi ao Rio de Janeiro, onde participou de uma celebração aos pés do Cristo Redentor.

A gafe de Bolsonaro no Círio de Nazaré. No último sábado (8), Bolsonaro também participou de uma festa católica, o tradicional Círio de Nazaré, em Belém. Apesar de negar que sua ida à festa tivesse cunho eleitoral, sua presença gerou incômodo entre religiosos.

Jair Bolsonaro no barco durante o Círio de Nazaré, em Belém - Raimundo Pacco/Reuters - Raimundo Pacco/Reuters
Jair Bolsonaro no barco durante o Círio de Nazaré, em Belém
Imagem: Raimundo Pacco/Reuters
A Arquidiocese de Belém emitiu nota dizendo que não convidou o presidente. Já no Instagram, Bolsonaro cometeu uma gafe ao escrever "Sírio de Nazaré", com "S". A foto foi exibida por cerca de meia hora antes de ser apagada e, em seguida, republicada com a grafia correta.

35 mil a cada celebração. Dois anos depois da pandemia, o Santuário de Aparecida terá capacidade máxima de público neste 12 de outubro.

Agora sem restrições sanitárias, espera-se até 35 mil pessoas em cada uma das sete missas que serão realizadas no feriado, a principal delas às 9h.

Em 2019, antes do novo coronavírus, cerca de 162 mil pessoas visitaram o santuário naquele 12 de Outubro.