Risco de perder votos fez Bolsonaro recuar no discurso de mexer no STF
A repercussão ruim, o risco de prejuízo eleitoral e o aumento da tensão com o Judiciário foram os motivos que fizeram o presidente Jair Bolsonaro (PL) recuar da possibilidade de elevar o número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ele voltou atrás sobre o assunto durante entrevista ontem em Pelotas (RS). "Vocês é que inventaram isso", disse a jornalistas. A declaração contraria o que Bolsonaro falou no canal de YouTube "Pilhado" no domingo (9). Na ocasião, o presidente afirmou que trataria do assunto depois da eleição.
Bolsonaro na contramão da campanha. O presidente tenta se afastar do discurso de que estuda aumentar o número de ministros do STF de 11 para 16 porque a proposta leva a perda de votos. Parte do eleitorado não concorda com afirmações que causem atritos com outros poderes.
A declaração inclusive vai contra o diagnóstico da equipe de Bolsonaro, que avalia serem necessários acenos ao centro para aumentar a votação do candidato. Além disto, o candidato passou os últimos três dias sofrendo críticas de juristas e imprensa por causa da proposta. Chegou a ser comparado pelo empresário João Amoêdo (Novo) a Hugo Chávez, ditador morto da Venezuela e figura que o candidato tanto crítica.
Situações desta natureza colaboram para manter a rejeição ao presidente próxima dos 50%, o que complica qualquer chance de vitória. Na pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (10), o candidato apareceu com 48% de rejeição.
Como justificar o recuo? Bolsonaro tem discurso pronto para explicar sua mudança em relação ao número de ministros do STF. Ele vai dizer que o assunto nunca fez parte da pauta do governo federal. Vai acrescentar que a proposta não consta em seu plano de governo para um eventual segundo mandato.
Além destes argumentos de fácil comprovação, o presidente dirá que nenhuma discussão neste sentido é travada dentro de sua campanha. Caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) use o tema para atacar no debate do UOL marcado para domingo (16), Bolsonaro repetirá os argumentos citados acima, falará que ditadura é coisa de esquerda e citará Daniel Ortega, ditador na Nicarágua, e Fidel Castro, ditador morto de Cuba.
Estes argumentos serão mencionados por Bolsonaro mesmo que ele saiba que entre seus apoiadores, incluindo parlamentares eleitos neste ano, existem pessoas que defendem medidas contra o STF.
Evitando ampliar a tensão com o Judiciário. Outra consequência de sugerir a possibilidade de aumentar o número de ministros do STF é a reação do Judiciário. Em entrevista na sexta-feira da semana passada (7), Bolsonaro admitiu que a proposta não deixaria a Corte contente.
Ex-integrante do STF, o ministro aposentado Celso de Mello divulgou nota em que classificou a proposta como "perversa" e acrescentou que ela não tem base jurídica. "Subjacente a essa modificação, visa-se, na realidade, perversa e inconstitucional finalidade de controlar o STF".
O ministro aposentado Marco Aurélio Mello relacionou a possibilidade a "saudosismo" da ditadura. Cabe ressaltar que esta crítica partiu de um eleitor de Bolsonaro. Em entrevista ao UOL em agosto, ele declarou que votaria pela reeleição do presidente.
Este recuo de uma proposta que desagrada o Judiciário contrasta com outra declaração de Bolsonaro que, também em Pelotas, voltou a colocar as urnas eletrônicas em dúvidas.
"No próximo dia 30 [data do segundo turno], de verde amarelo, vamos votar e vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração dos resultados. Tenho certeza que o resultado será aquele que todos nós esperamos, até porque o outro lado não consegue reunir ninguém. Todos nós desconfiamos. Como pode aquele cara ter tantos votos, se o povo não está lado dele".
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