Bolsonaro volta a criticar urna e pede que eleitor fique em seção após voto
O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a levantar suspeitas, sem apresentar provas, sobre as urnas eletrônicas durante discurso em Pelotas (RS). O chefe do Executivo pediu que os apoiadores permaneçam na seção eleitoral após a votação até a apuração dos resultados.
"No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar e vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração dos resultados. Tenho certeza que o resultado será aquele que todos nós esperamos, até porque o outro lado não consegue reunir ninguém. Todos nós desconfiamos. Como pode aquele cara ter tantos votos, se o povo não está ao lado dele", disse em discurso na cidade gaúcha, onde ficou atrás do adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno.
Diferentemente do que afirma o presidente, a apuração dos votos não ocorre nos locais de votação — onde somente são publicados os boletins da urna. A totalização dos votos acontece no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília.
O presidente havia amenizado seu discurso infundado de suspeição do processo eleitoral brasileiro, aconselhado por sua campanha e numa estratégia de mostrar um tom menos moderado — na contramão de Bolsonaro, o presidente do PL Valdemar Costa Neto, saiu em defesa das urnas e disse no mês passado que não há "sala secreta" no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) — afirmação repetida por Bolsonaro em diversas vezes.
No primeiro turno, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro foi de quase 6,2 milhões votos.
Em sua fala a apoiadores gaúchos hoje, Bolsonaro repetiu a declaração feita em entrevista coletiva logo após e apuração na primeira etapa eleitoral e disse ser "natural" que os eleitores busquem mudança "quando algo não está indo bem", mas afirmou que a mudança poderia ser para pior. "Se bem que no Brasil, levando em consideração o resto do mundo, o nosso país vai indo muito bem", afirmou.
Ele voltou a falar sobre corrupção e citou novamente a situação econômica na Argentina, temas que ele aborda frequentemente em discursos a apoiadores.
"Há aproximadamente dois anos estive aqui na vizinha Argentina e falei: 'se aquele candidato ganhasse as eleições contra o governo daquele momento, esse país tomaria os rumos da nossa Venezuela'. Não deu outra".
Durante passagem por Pelotas, Bolsonaro se reuniu com prefeitos e aliados, como o candidato ao governo do Rio Grande do Sul e seu ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS), senador eleito pelo estado.
Bolsonaro recua após ameaçar mexer no STF
No mesmo evento em Pelotas, o presidente recuou de uma declaração dada no domingo (9), quando afirmou que, após as eleições, deve avaliar uma proposta de ampliação do número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Na ocasião, em entrevista ao canal do Youtube "Pilhado", o governante federal disse que sua decisão sobre o tema dependeria da "temperatura" na Corte.
Hoje disse que foi mal interpretado pela imprensa e que a ideia não está em seu "plano de governo".
"A imprensa falou que eu vou passar para mais cinco no Supremo. Eu falei que isso não estava no meu plano de governo. Botaram na minha conta. (...) Vocês é que inventaram isso", declarou ele a jornalistas em Pelotas.
A ideia aventada pelo presidente no domingo e também defendida por Mourão — de aumentar de 11 para 16 o número de ministros da Corte — foi colocada em prática apenas uma vez na história da República: durante 4 dos 21 anos da ditadura militar (1964-1985).
A medida, imposta pelo Ato Institucional nº 2 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, e durou até 1969. Neste ínterim, três ministros da Corte sem ligação com os militares foram cassados, diminuindo ainda mais o poder de atuação do Judiciário.
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