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Por voto de centro, equipe quer presidente menos Bolsonaro e mais estadista

Do UOL, em Belo Horizonte

07/10/2022 04h00Atualizada em 07/10/2022 10h40

Para reverter a desvantagem de 6,1 milhões de votos no primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi aconselhado pela coordenação de sua campanha a mudar de postura e adotar um tom mais contido e conciliador. Nas palavras de integrantes de sua equipe, a expectativa é que o candidato à reeleição seja "menos Bolsonaro e mais estadista".

O cálculo por trás da estratégia é atrair parte dos 32 milhões de eleitores que não foram às urnas no primeiro turno —maior percentual de abstenção desde 1998. O entendimento da equipe do candidato é que uma parcela dessas pessoas votou em Bolsonaro em 2018 e não repetiu a escolha porque se frustrou com o chefe do Executivo e seu governo.

Em uma eleição tão polarizada e com pouca chance de virar votos, o trabalho para recuperar essa fatia do eleitorado é considerado crucial para diminuir a desvantagem em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário de Bolsonaro na disputa pelo Planalto.

O esforço para reconquistar esse eleitor começou ainda no domingo (2), depois da apuração. Naquela noite, ao conceder entrevista na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente já usou um novo discurso em que focou na economia e reconheceu que há um sentimento de mudança no país

Eleitor anti-Lula. A tentativa de atrair os eleitores que votaram Bolsonaro em 2018 e não repetiram a opção neste ano baseia-se na premissa de que esse eleitor que não foi às urnas não cogitou votar em Lula —e que, portanto, há possibilidade de atraí-lo, mas com um discurso moderado.

Acenos ao centro são os meios sugeridos para recuperar os votos porque a avaliação é que o estilo obtuso e afeito ao embate de Bolsonaro afastou essa parcela da população. Em seus últimos pronunciamentos, o candidato tem feito um mea culpa na economia, admitindo a redução do padrão de vida de parte expressiva da população e prometendo priorizar os mais pobres em um eventual novo governo.

Outra sinalização de mudança de postura ocorreu em uma reunião de Bolsonaro com deputados federais e governadores ontem de manhã. Em determinado ponto do discurso, o presidente declarou que falou "demais muitas vezes", admitiu que ofendeu algumas pessoas "de forma não intencional" e pediu desculpas.

Empatia pelas vítimas da pandemia. Outra mudança esperada é a maneira como Bolsonaro vai se referir às pessoas que morreram de covid-19 e ao luto das famílias — depois de ter falado em "gripezinha", que "todos vão morrer um dia" e que "não é coveiro". Neste segundo turno, espera-se que ele se mostre mais solidário quando tratar do tema.

A avaliação da campanha é que, nestes dias pós-primeiro turno, o candidato à reeleição está cumprindo o propósito de ser mais ponderado. A sinalização é positiva, mas os integrantes da equipe também sabem do risco de imprevisibilidade e de arroubos do presidente.

A mudança da postura também foi sentida em evento com empresários ontem em Belo Horizonte. O candidato a vice-presidente, Braga Netto (PL), pediu para que as pessoas dispostas a ajudar procurem pessoas fora da bolha de classes sociais mais baixas.

Se veem que o governo está no rumo certo e tem que prosseguir, que nos ajudem a falar para aqueles, como eu disse lá em cima, a falar fora da bolha. Não ficar pregando para convertidos. Nós precisamos da ajuda de vocês para falar com os mais simples
Braga Netto (PL), candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro

Presidente sereno, campanha quente. O pedido de ponderação não significa que a corrida presidencial será pacífica. A leitura da campanha de Bolsonaro é de uma guerra de rejeição em que todos os gatilhos possíveis serão usados para acionar os medos dos eleitores.

A avaliação é que, por enquanto, a batalha se encontra na guerra religiosa. A esquerda espalha vídeos do presidente e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em lojas maçônicas, e é atacada com declarações de que Lula é favorável a fechar igrejas.

Em culto na terça-feira (4) na Assembleia de Deus do Ministério do Belém, em São Paulo, Michelle falou que a igreja precisa se posicionar. Ela não mencionou o nome de Lula, mas criticou quem é contra a religião. "É inadmissível um cristão falar que vota num ser que é contra a palavra do Senhor. Que é contra a noiva do Senhor (para os evangélicos a igreja é a noiva do Senhor). E a gente sabe que as portas do inferno não prevalecerão. Aí daquele que tocar na igreja. Aí daquele que lançar uma palavra contra a noiva do Senhor".

Outro ponto é que o trabalho de aumentar a rejeição a Lula não precisa ser feito por Bolsonaro. Claro que o presidente não vai aliviar para o adversário, mas aliados podem ajudar no esforço. Em São Paulo, o candidato a governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai estimular o antipetismo para ajudar o presidente.

De onde virão os votos?

jkik - Ronaldo Silva/Photopress - Ronaldo Silva/Photopress
A campanha espera que Bolsonaro receba até dois terços dos votos de Tebet
Imagem: Ronaldo Silva/Photopress

Os votos de Tebet. Terceira colocada no primeiro turno com 4,9 milhões de votos, Simone Tebet (MDB) declarou apoio a Lula. Mas a expectativa da campanha de Bolsonaro é que o anúncio não resulte na transferência da maior parte dos votos ao adversário.

A avaliação é que uma política de Mato Grosso do Sul tem muitos votos do agronegócio e a tendência é migração para Bolsonaro. A expectativa é que até dois terços dos eleitores de Tebet escolham o presidente no segundo turno.

Os votos de Ciro. O comportamento do eleitorado de Ciro Gomes (PDT) é considerado difícil de prever, de acordo com a equipe de Bolsonaro. O entendimento da campanha do presidente é que Ciro fez muitas críticas ao PT e pode ter adquirido um eleitor que não gosta do partido.

Mas existe a leitura que o candidato desidratou, e muitas destas pessoas avessas a Lula migraram para Bolsonaro nos dias que antecederam a votação. A dúvida é se sobraram votos a serem direcionados ao presidente ou se esta fonte secou.