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PT vê Bolsonaro vazio em debate; para governistas, corrupção emparedou Lula

Do UOL, em São Paulo

17/10/2022 04h00Atualizada em 17/10/2022 15h02

A equipe de Jair Bolsonaro (PL) avalia que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi emparedado no tema corrupção durante debate promovido pelo UOL, em parceria com Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura. Para os governistas, Lula ficou desestabilizado quando foi tocado no ombro no terceiro bloco.

Já a campanha petista entende que apresentou mais pautas propositivas e que Bolsonaro se prendeu nos temas batidos de Nicarágua, dos costumes conservadores e fake news —que só reverberam entre os bolsonaristas e, portanto, não rendem mais votos.

O primeiro confronto direto entre Lula e Bolsonaro, na noite de domingo (16), apresentou um novo modelo de embate —os dois candidatos falaram sem intervenção de jornalistas no primeiro e no terceiro blocos e se movimentaram no palco.

Forma sem conteúdo. Na avaliação petista, Lula teve os melhores momentos quando conseguiu fazer questionamentos propositivos para Bolsonaro. Para os integrantes da campanha, ao não responder diretamente, o presidente explicitou um "vazio" em relação a feitos e projetos.

O plano de Lula era começar o debate com perguntas que pudessem trazer uma comparação entre seus governos (2003-2010) e o atual —como tem feito em seus discursos. Logo na primeira pergunta, o petista questionou sobre universidades federais —voltou a falar do assunto outras duas vezes. E não obteve resposta. Ao longo do debate, repetiu a estratégia falando sobre presídios e desmatamento.

Para interlocutores, "ficou claro" que Bolsonaro não tinha nada a oferecer e procurava voltar sempre aos mesmos assuntos, considerados "velhos" pelos petistas, como a relação de Lula com o governo da Nicarágua.

Ele [Bolsonaro] ficou o tempo todo puxando Lula para esse debate ideológico. Eu penso que o Lula se saiu muito bem na sua proposta. Primeiro não entrar na armadilha [do presidente] e segundo foi ele debater a fome, a pobreza, a miséria."
Edinho Silva (PT), coordenador de comunicação da campanha

Corpo a corpo. Já a campanha de Bolsonaro ficou satisfeita por entender que o candidato conseguiu desestabilizar Lula, quando o atual chefe do Executivo tocou o ombro de seu adversário no terceiro bloco. A leitura do grupo é que o petista não soube como reagir e ficou desconfortável.

"Fica aqui, Lula. Fica aqui", disse Bolsonaro. "Estou à disposição", respondeu o ex-presidente.

Para a equipe, o candidato à reeleição conseguiu ficar na ofensiva nas quase duas horas de debate —o que foi importante para controlar o confronto.

Moro para desestabilizar. Assim como no debate antes do primeiro turno, a campanha de Bolsonaro acredita que o tema corrupção causou mais estrago para Lula. Quando teve a chance de iniciar o confronto, o presidente falou do Petrolão.

Segundo interlocutores, houve outra estratégia: o ex-juiz, ex-ministro da Justiça e senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR) foi levado para desestabilizar o petista. Eles acreditam que surtiu efeito.

Ao final do debate, Bolsonaro conversou com a imprensa e pediu para o ex-superministro: "Fala um pouco sobre corrupção". Moro, então, criticou o desempenho do petista, citou questões sobre o PCC e as denúncias na Petrobras e repetiu que não "aprova" a volta do PT ao poder.

Ficou claro que o ex-presidente Lula infelizmente não conseguiu responder perguntas importantes, que são necessárias para esclarecimento da população brasileira."
Sergio Moro (União Brasil), ex-juiz e senador eleito

Fake news. Para o grupo responsável pela comunicação da campanha petista, Lula acertou ao rebater as falas de Bolsonaro com "mentiroso", o que indicaria mais uma vez que, sem argumentos, o presidente precisaria apelar para fake news.

"Para tentar camuflar que não tinha nada a falar, ele [Bolsonaro] voltou a apelar para mentiras", afirmou o advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, integrante da comitiva petista. Esse foi o tom da avaliação do partido também.

Habla menos. O pior momento de Lula, admite a campanha, foi o terceiro bloco. Com cada um com 15 minutos livres, o ex-presidente respondeu mais do que propôs pautas e gastou o tempo mais rápido.

Bolsonaro teve quase seis minutos livres para falar, sem que Lula pudesse interromper. Nos bastidores, os petistas indicavam com a mão que Lula falasse menos, o que foi ignorado pelo candidato.

Sabe administrar o Brasil? O fato de Bolsonaro ter ficado quase seis minutos falando sem interrupções foi um ponto também destacado pela campanha do presidente. Para a equipe, o candidato ditava os temas e Lula ficava na defensiva —o que levou seu tempo a desaparecer.

O chefe do Executivo voltou a falar de corrupção e das pautas de valores sem qualquer contraponto. Por fim, os interlocutores tiraram até uma onda que Lula não sabe administrar o tempo e ainda quer administrar o Brasil.

Vantagem desperdiçada. Por outro lado, petistas argumentam que Bolsonaro não soube aproveitar o tempo livre. O presidente focou em pautas de costume e trouxe temas como a relação de Lula com outros governos.

Para articuladores da campanha petista, esses são temas que dialogam pouco com "o povão" e pregam "para convertidos" —o que, admitem, consideraram um alívio. "Imagina se dá 5 minutos e 40 [segundos] livres para o Lula", comentou Marco Aurélio.

'Pintou um clima'. Foi o próprio Bolsonaro que tocou no assunto que viralizou no fim de semana. Em entrevista a um podcast na última sexta-feira (14), o presidente se referiu a um encontro com venezuelanas dizendo que "pintou um clima" ao ver adolescentes "arrumadas para ganhar a vida", insinuando exploração sexual infantil.

A avaliação da campanha à reeleição é que Bolsonaro concluiu o assunto quando leu a decisão do ministro Alexandre de Moraes contra o PT. Moraes —que frequentemente é alvo de Bolsonaro— acolheu o pedido do presidente para que Lula se abstenha de explorar durante a propaganda eleitoral gratuita e em suas redes sociais vídeos que o associem ao crime de pedofilia.

A equipe tenta vender como assunto superado, mas não parece que a prática confirma com o discurso. A primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra, chegaram a ser escaladas para tentar gravar vídeo com adolescentes citadas pelo presidente —mas a visita teve que ser suspensa, pois a família está receosa com a exposição.