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Bolsonaro mente ao dizer que Lula foi ao Rio para encontro com traficantes

25.out.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) faz comício na Bahia e ataca o ex-presidente Lula (PT) - Reprodução/Instagram
25.out.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) faz comício na Bahia e ataca o ex-presidente Lula (PT) Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

25/10/2022 20h39Atualizada em 26/10/2022 13h59

O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), atacou hoje o seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante comício em Barreiras, na Bahia. Em afirmação falsa, Bolsonaro disse que o Lula cumpriu agenda em comunidades no Rio de Janeiro para se encontrar com traficantes e ainda acusou o petista de ter "prometido alguma coisa aos marginais".

O ex-presidente usou um boné com a sigla "CPX" em caminhada de campanha no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro no último dia 12 e virou alvo de ataque de bolsonaristas nas redes sociais, que disseram que o acrônimo é de uma gíria de grupos criminosos, o que não é verdade.

"CPX" é abreviação para "complexo", como são chamados os conjuntos de favelas cariocas. A simplificação é usada pelos moradores dos locais, pela Polícia e pelo governo — a sigla também aparece na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2023 do estado do Rio.

É um governo que dá exemplo, que trabalha, que teve a coragem de transferir as lideranças do crime organizado de São Paulo para presídios federais. Enquanto isso, o Lula vai nas comunidades do Rio de Janeiro se encontrar com traficantes. Essas comunidades onde a grande maioria, quase a totalidade do povo, são as pessoas trabalhadoras e honestas. E ele não foi lá se encontrar com trabalhador, foi lá se encontrar com traficante. Ele deve ter prometido alguma coisa para esses marginais. O nosso governo não dá colher de chá para bandido. Jair Bolsonaro (PL) em comício na Bahia

Na continuação do discurso no comício, Bolsonaro — que ficou em segundo lugar no primeiro turno — seguiu acusando Lula de ter "roubado", inclusive na transposição do Rio São Francisco, e atacou a promessa do ex-presidente de que brasileiros comerão picanha caso ele seja eleito.

"Lula prometeu água e não levou. Agora, esse picareta diz que vai dar picanha para o povo. Mentiroso. Sem caráter. Sem moral. Bandido descondenado. Cercado de ladrões. Tanto é que não tem coragem de apontar quem vai ser um só ministro do seu governo. Porque só tem bandido do lado dele. Nós não queremos isso para o nosso Brasil", disse Bolsonaro, aos gritos.

O presidente também aproveitou para exaltar novamente o nome de ACM Neto (União Brasil) para o governo da Bahia. "Onde tem PT, eu estou do outro lado", disparou.

Mais cedo, ao cumprir agenda em outro município baiano, Bolsonaro já havia pedido votos para o ex-prefeito de Salvador, que disputa o segundo turno contra Jerônimo Rodrigues (PT). ACM, porém, já declarou neutralidade na disputa presidencial.

Morador do Complexo do Alemão vai à Justiça. O administrador João Pedro de Souza Silva, morador do Alemão, na zona norte do Rio, entrou com uma queixa-crime por injúria contra o presidente. O relator do caso é o ministro Ricardo Lewandowski.

Na ação à qual o UOL teve acesso, a defesa de Souza Silva diz que Bolsonaro cometeu crime ao associar a sigla "CPX" ao crime organizado. Durante visita ao local, Lula apareceu usando o boné com as três letras.

Trata-se de Ação Penal que visa condenar o querelado pelo crime de injúria, uma vez que a associação indevida da sigla 'CPX' diretamente a traficantes e ao crime organizado é uma grave ofensa à reputação dos moradores do Complexo do Alemão. Trecho da ação

No processo, Souza Silva classifica o discurso de Bolsonaro como "preconceituoso" e cita a confusão do presidente, que trocou o Complexo do Alemão pelo Complexo do Salgueiro durante debate do UOL, em parceria com a Band, Folha e TV Cultura.

*Com Gustavo Freitas e Gilvan Marques, do UOL, em São Paulo