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Cinegrafista que filmou Tarcísio em Paraisópolis pede demissão da Jovem Pan

Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a agenda em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, instantes antes dos tiros - Stella Borges/UOL
Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a agenda em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, instantes antes dos tiros Imagem: Stella Borges/UOL

Do UOL, em São Paulo

27/10/2022 16h43

O repórter-cinematográfico Marcos Andrade pediu a rescisão do contrato dele com a Jovem Pan ontem, após relatar que a equipe do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) o estaria pressionando para apagar imagens do tiroteio em Paraisópolis.

A informação foi confirmada pelo cinegrafista e pela assessoria de imprensa da emissora.

Andrade estava com a equipe de reportagem da Jovem Pan que acompanhava um evento da campanha de Tarcísio em Paraisópolis, na zona sul da capital, no último dia 17. A agenda foi interrompida após um tiroteio nas imediações, que terminou em uma morte.

Inicialmente, Tarcísio relatou ter sido atacado por criminosos, mas a versão foi desmentida pelo governo do estado. "Aparentemente, é possível descartar a versão de atentado. É um crime comum", disse o governador Rodrigo Garcia (PSDB) no dia seguinte ao ocorrido.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Marcos Andrade contou que um integrante da equipe de Tarcísio mandou que ele apagasse as imagens que fez do dia. Ele teria sido levado, junto dos demais profissionais de imprensa que acompanhavam o candidato, à sede da campanha, onde alguém perguntou o que ele havia gravado —o UOL confirmou que se tratava de Fabrício Cardoso de Paiva, servidor licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

"Você filmou os policiais atirando?", questionou Paiva. "Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras", respondeu o cinegrafista.

Paiva perguntou se ele filmou as pessoas que estavam no local, e diz: "Você tem que apagar". Ele desconfiou da ordem e gravou a conversa.

"Minha opinião [sobre o motivo da ordem] é que alguém que estava lá que não devia estar. É isso", contou ele à Folha.

'Se alguém fez alguma coisa de errado, não fui eu'

Ao UOL, Marcos Andrade contou que, após a reportagem da Folha de S.Paulo, ele foi chamado por seus superiores para conversar, e foi informado que a equipe de Tarcísio teria pedido a demissão dele. A emissora garantiu ao repórter que não faria isso, mas solicitou que ele fizesse um vídeo em apoio ao candidato.

Quando Andrade negou, o chefe dele disse que ele teria de fazer a gravação porque "jogou o nome da Jovem Pan na lama", relatou o repórter.

"Sejamos práticos. Amanhã, esse cara [Tarcísio] ganha as eleições e a primeira coisa que a Jovem Pan ia fazer era me demitir. Eu achei por bem me demitir, porque não teria mais clima para eu trabalhar lá", declarou.

Ele afirmou que não sabe o que vai fazer agora, mas que está tranquilo. "Espero que sejam suficientemente inteligentes para não fazer nada contra a minha vida", disse. "Se alguma coisa acontecer comigo, vai ter repercussão. Se alguém fez alguma coisa de errado, esse alguém não foi eu".

Questionada pela reportagem, a assessoria Jovem Pan disse apenas: "Ele pediu demissão. Este é o fato".