Servidor licenciado da Abin na equipe de Tarcísio mandou apagar vídeo
O servidor licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Fabrício Cardoso de Paiva foi o responsável por mandar um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio na comunidade de Paraisópolis durante evento de campanha do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). A informação foi revelada pelo The Intercept Brasil e confirmada pelo UOL Notícias.
Em nota, a campanha de Tarcísio afirmou que o servidor que acompanha o candidato está em licença não remunerada e, portanto, não exerce nenhuma atividade em nome da agência.
Já a Abin, também em nota divulgada hoje, informou que um servidor da agência "que no momento está de licença para tratar de interesses particulares, não remunerada, acompanha o candidato Tarcísio de Freitas na campanha eleitoral". O UOL tenta localizar Paiva. O espaço está aberto para manifestações.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o cinegrafista Marcos Andrade disse que filmou o corpo do suspeito morto na ação em Paraisópolis e que Paiva estava armado no local, mas que não viu se ele tinha disparado.
"Eu me abrigo até uma coluna. Quando eu chego para gravar esse corpo e a moto que está no chão, chega uma pessoa falando para eu não gravar. Na hora que eu vou para a parte de cima, onde o corpo e a moto está caída, eu vejo o rapaz que eu tinha conversado a respeito de pedir reforço. Eu vejo ele armado e com distintivo da Abin", disse Andrade. O fato ocorreu antes do pediu para apagar as imagens.
'Tem que apagar'. O áudio foi revelado ontem pela Folha de S.Paulo e nele é possível ouvir Paiva questionando o cinegrafista sobre imagens feitas que mostram policiais militares atirando na direção dos criminosos.
Tem que apagar. Essa imagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não
Fabrício Cardoso de Piava em áudio divulgado pela Folha
Após a publicação da matéria, a campanha emitiu uma nota negando que tenha ocorrido qualquer tipo de impedimento de captura de imagens em Paraisópolis. "Nunca houve nenhum impedimento por parte da campanha em relação a isso. Qualquer afirmação que questione isso é uma mentira."
Tarcísio falou sobre o assunto ontem à tarde, depois de um comício em Osasco, na Grande São Paulo, e considerou que a questão envolvia a segurança de sua equipe.
"Pode ser que alguém [membro da equipe], na tensão, tenha pedido para apagar alguma coisa para preservar a identidade de pessoas que fazem parte da nossa segurança. É muito ruim revelar a identidade de pessoas que acabam de se envolver em um conflito com criminosos", disse.
Trabalho no Ministério da Infraestrutura. Paiva foi cedido pela Abin e começou a trabalhar no Ministério da Infraestrutura logo no começo da gestão de Tarcísio, em junho de 2019. Inicialmente, ele ocupou um posto comissionado na Subsecretaria de Conformidade e Integridade, na qual exerceu a função de coordenador-geral de Pesquisas e Informações Estratégicas.
Em 2020, Tarcísio o indicou como suplente do Ministério da Infraestrutura para o grupo interministerial montado para o enfrentamento da pandemia de covid-19, o Centro de Coordenação de Operações do Comitê de Crise para a Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19.
Ainda sob a gestão de Tarcísio, ele se tornou assessor da Secretaria Executiva —o principal órgão do Ministério da Infraestrura— em março de 2022. Paiva deixaria a pasta pouco depois que Tarcísio se descompatibilizou, em maio, para disputar o pleito, em maio.
Segundo o currículo apresentado à pasta, Paiva tem 48 anos e é graduado em Ciências Militares pela Aman (Academia Militar das Agulhas Negras).
O que diz a Abin? A agência divulgou uma nota sobre o caso e dizendo que "o trabalho atual deste servidor não é desempenhado em nome da Agência, a qual não tem qualquer ingerência sobre a segurança da campanha do candidato. A ABIN reitera que não há nenhum servidor em exercício na Agência exercendo a função de segurança de candidatos a governos estaduais."
Veja abaixo a nota na íntegra:
A Agência Brasileira de Inteligência repudia a divulgação de informações inverídicas que associam a Agência ao episódio ocorrido em Paraisópolis durante a campanha do candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas.
A ABIN tem, entre suas atribuições institucionais, a defesa do Estado Democrático de Direito e atua incessantemente para garantir os preceitos constitucionais. Nesse sentido, jamais estaria em seu escopo de atribuições qualquer tentativa de interferência no processo eleitoral, o que é repudiado veementemente pela ABIN.
A Agência esclarece que apenas um servidor da ABIN, que no momento está de Licença para Tratar de Interesses Particulares, não remunerada, acompanha o candidato Tarcísio de Freitas na campanha eleitoral. O trabalho atual deste servidor não é desempenhado em nome da Agência, a qual não tem qualquer ingerência sobre a segurança da campanha do candidato.
A ABIN reitera que não há nenhum servidor em exercício na Agência exercendo a função de segurança de candidatos a governos estaduais.
O policial citado nas reportagens sobre o caso de Paraisópolis, apontado como autor dos disparos, não faz parte do quadro de pessoal da ABIN. A Agência informa ainda que a Escola de Inteligência não realizou nenhum treinamento em Barbacena (MG) nos últimos anos.
O que se sabe sobre o caso. Segundo a Polícia Civil, dois dos suspeitos passaram filmando o veículo blindado usado por PMs à paisana, que estavam em Paraisópolis para fazer a segurança do entorno durante a agenda de Tarcísio no local.
Os agentes perceberam que os homens na moto estavam com volume na cintura, semelhante a arma de fogo, e houve troca de tiros. Um suspeito foi morto. Segundo a polícia, havia cerca de 20 criminosos no local.
Os peritos apreenderam 88 estojos deflagrados de quatro calibres diferentes e ouviram o depoimento de cinco policiais militares que participaram da ocorrência.
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