Às vésperas de debate, Marçal usa factoides em ofensiva contra rivais

O empresário Pablo Marçal (PRTB) tem recorrido a factoides para atacar adversários na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Às vésperas do primeiro debate entre candidatos, na próxima quinta (8), ele diz que subirá o tom contra os rivais.

O que aconteceu

Marçal utilizou afirmações falsas ou sem comprovação durante o evento que oficializou sua candidatura, no domingo (4). "Na próxima semana, vai ter um debate na Band. Compre a sua pipoca que o pau vai quebrar", disse a apoiadores.

O empresário acusou dois adversários de serem usuários de cocaína. "Faz um exame toxicológico, você vai ver que tem dois que é 'cheirador de cocaína' dos que estão concorrendo aí", disse ele ao público. "Vou revelar no debate, pode aguardar, vou falar lá. Cheirador de cocaína, já para de cheirar para não sair no exame".

Sem apresentar provas, Marçal disse que vai revelar quem são essas pessoas "na hora certa". Ele afirmou aos jornalistas após o evento que, em um dos casos citados, a pessoa chegou a ser internada.

Marçal também disse que Guilherme Boulos (PSOL) aumentou seu patrimônio em 847% em dois anos. Segundo informações divulgadas por Boulos à Justiça Eleitoral, os números procedem, mas não contam a história completa. O patrimônio dele foi de R$ 21.055,07, em 2022, para R$ 199.596,87, em 2024. A diferença é de pouco menos de R$ 180 mil, o equivalente a quatro salários de um deputado federal (R$ 44.008,52), cargo que exerce desde 2023.

O UOL procurou o candidato, mas não teve resposta até a publicação deste texto.

Falas descontextualizadas

O empresário também exibiu um vídeo de uma visita que fez à Venezuela para mostrar o que o país vizinho "está sofrendo hoje". A gravação, no entanto, terminava com Marçal perguntando à câmera: "Graças a Deus a gente já tirou o PT. Por que você vai deixar ele voltar?". Só depois da exibição o empresário informou que as imagens eram de 2022.

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Marçal disse que ofereceram "centenas de milhões" para que ele desistisse da candidatura. Mas, ao ser questionado sobre a declaração, ele se recusou a dar detalhes. "Imagina que eu vou falar para tomar um tiro de graça?", perguntou.

As falas descontextualizadas de Marçal viram cortes publicados nas redes sociais do candidato — e acumulam milhares de curtidas. Segundo a professora e especialista em marketing político, Cláudia Guimarães, o empresário é o candidato mais ativo e familiarizado com as dinâmicas do TikTok. "Ele aproveita ocasiões como essas para gerar conteúdos que reforçam sua mensagem e presença online", explica.

Ele já dominava a plataforma antes da incursão política, utilizando estratégias eficazes como clickbaits e falas adaptadas ao formato do TikTok. Marçal conseguiu criar uma comunidade fortemente engajada, beneficiando-se de uma base sólida construída ao longo do tempo.
Cláudia Guimarães, especialista em marketing político

Candidato vinha adotando estratégia de atacar adversários com declarações falsas e meias-verdades nas redes sociais desde a pré-campanha. Em junho, ele disse que Tabata Amaral (PSB) não poderia ser prefeita por não ser casada e não ter filhos, e inferiu que ela tenha abandonado o pai no Brasil, o que teria motivado o suicídio dele — o que a deputada negou.

Também tive um pai que foi alcoólatra, mas a família ajudou ele e ele deixou o alcoolismo. Ela foi pra Harvard, o pai dela acabou morrendo. Igual imagino que ela pode fazer com o povo de São Paulo.
Pablo Marçal, em entrevista a podcast

Na mesma semana que eu fui aceita em Harvard, ele cometeu suicídio. Foi o momento mais difícil da minha vida. Mas eu estava quando ele morreu, eu não estava fora. Essa baixaria nem sequer faz sentido. [...] É uma falta de caráter absurda, é perverso, é nojento mesmo. É um assunto muito difícil. Vim aqui esclarecer para nenhum cretino vir usar a história do meu pai contra mim novamente.
Tabata Amaral, em vídeo publicado nas redes sociais

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