MP cobra da PM investigação de indícios de atuação de PCC na eleição de SP

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo cobrou da Polícia Militar as investigações que apontam indícios de interferência do PCC nas eleições paulistas.

O que aconteceu

Promotoria diz ver com preocupação a atuação do crime organizado nas eleições municipais. O promotor de Justiça do Gaeco, Lincoln Gakiya, afirmou ao UOL que a organização criminosa paulista tem financiado campanhas de prefeitos e vereadores.

Promotor afirma esperar que a PM compartilhe as investigações com o Gaeco. O UOL apurou que o Centro de Inteligência da Polícia Militar do estado vai se reunir com promotores na semana que vem para discutir como os órgãos vão atuar em conjunto.

O serviço de intligência da PM trabalha na sistematização de dados de investigações que apontam interferências do PCC nas eleições. Segundo o coronel Pedro Luís de Souza Lopes, há indícios públicos de atuação da facção criminosa em Mogi das Cruzes, Guarujá e Guarulhos. "Essas cidades têm conexões muito próximas com outros municípios, as regiões têm os mesmos contatos e os mesmos fornecedores, então é possível fazer conexões", disse.

Atuação de órgãos estaduais depende da dimensão dos "achados" nas investigações. O UOL apurou ainda que não há uma estratégia traçada para compartilhar informações obtidas nas investigações em âmbito estadual até o momento — mas a previsão é que a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado participe das ações com foco nas eleições.

Se na capital do estado, há décadas, vemos indícios da participação de criminosos em empresas de ônibus, obviamente, nos causa muita preocupação a influência que essa organização possa ter nas eleições. A disputa licitatória é só o começo.
Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do Gaeco (MP-SP), em referência à suspeita de ligação de empresas de ônibus com o PCC

Investigações em curso

Até o momento há uma investigação em andamento que apura envolvimento do PCC com a administração municipal de Guarulhos. Segundo o promotor do Gaeco, em casos de crimes eleitorais, as investigações devem ser compartilhadas com o Ministério Público Eleitoral e com a Polícia Federal.

Gakiya diz que a interferência do PCC ocorrerá em municípios onde "há baixo risco de punição e deficiência de fiscalização". Ele defende a criação de uma política de "compliance [conformidade] antimáfia". "Os criminosos da organização criminosa já perceberam uma fiscalização deficitária, e as irregularidades são descobertas somente à posteriori. Por isso, é preciso investir em prevenção."

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Operação Fim da Linha em São Paulo revelou a incidência da facção em contratos públicos com empresas do setor de transportes. "O sistema de licitação permite alguns tipos de manobra. O crime já percebeu isso: a possibilidade de disputar empresas e fatias de serviços públicos, as vezes com participação de servidores públicos", afirma.

Promotor diverge de coronel da PM sobre extensão da atuação do PCC no processo eleitoral no estado. Diferentemente do que afirmou Pedro Lopes, durante encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em Recife (PE), Gakiya diz que líderes da facção "não estão preocupados com pequenos municípios" e que os negócios da organização têm ramificações em diversas áreas — como lixo urbano e saúde. "São as licitações milionárias que interessam a eles."

Não se trata de meras suspeitas ou ilações, há materiais que indicam que a organização criminosa está atuando cada vez mais fortemente no branqueamento de capitais, e o financiamento das campanhas é uma forma de fazer isso.
Pedro Luís de Sousa Lopes, coronel da PM em São Paulo

Quanto menor o município, mais vulnerável [ao crime], porque [eles] não têm recursos. Esse é um grande problema, porque a capilaridade impõe mais dificuldade.
Pedro Luís de Sousa Lopes, coronel da PM em São Paulo

Esforços para combater interferência do PCC

Secretário Nacional de Segurança Pública também diz ver com preocupação a presença do crime organizado nas eleições. Em evento realizado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, Mário Sarrubbo afirmou que vai propor a criação de um centro integrado com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para receber informações de inteligência.

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O alto comando da PM se reuniu com o Tribunal Regional Eleitoral. Segundo Lopes, a operação da corporação com foco no processo eleitoral está em curso no estado. "Precisamos ser informados de qualquer tipo de ingerência ou manifestação que possa implicar limitação do processo eleitoral em virtude de prática criminosa dessa natureza. Temos recebido bastante material.".

O chefe da Inteligência da PM diz que o PCC segue a lógica das máfias italianas. "Em algum momento a gente não vai saber o que é crime e o que não é.Se eu não tiver um trabalho de inteligência bem organizado, vou ser surpreendido", afirmou.

O número é muito maior do que eu imaginava, não dá pra falar pra você que são 100, 200 municípios, mas tem vários municípios com indícios muito palpáveis de já há alguma movimentação importante do crime para participar com o financiador de campanha eleitoral.
Pedro Luís de Sousa Lopes, coronel da PM em São Paulo

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