Com três candidatos na liderança, SP tem eleição mais acirrada em 12 anos

Eleitores vão às urnas neste domingo (6) para definir o próximo prefeito de São Paulo, na disputa mais acirrada dos últimos 12 anos. As pesquisas de intenção de voto mostram um cenário indefinido, com três candidatos empatados tecnicamente na liderança.

O que aconteceu

Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) estão embolados na dianteira e disputam vaga no segundo turno. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (5) mostra empate técnico dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais, entre Boulos (29% dos votos válidos), Nunes (26%) e Marçal (26%). O resultado aponta que uma vitória em primeiro turno é improvável e que não é possível prever quem estará na próxima etapa da corrida municipal.

Cenário de indefinição é semelhante ao da eleição municipal de 2012. Pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana do primeiro turno daquele ano mostrou triplo empate entre José Serra (PSDB), Celso Russomanno (PRB) e Fernando Haddad (PT) na liderança. Serra e Haddad foram para o segundo turno, que terminou com a vitória do petista.

Segundo turno pode ter situações inéditas na eleição paulistana. Caso Nunes fique de fora, será a primeira vez que um prefeito candidato à reeleição não avança para o segundo turno. Se Boulos não chegar à próxima fase da disputa, São Paulo terá o primeiro segundo turno sem um nome da esquerda — em 2016, Haddad concorreu à reeleição, mas a disputa terminou em primeiro turno com a vitória de João Doria.

Estão aptos a votar, neste domingo, 9.322.444 eleitores na cidade. São Paulo tem o maior eleitorado entre as capitais do país, e a maioria dele é feminina: 54%. A outra parcela, 46%, é formada por eleitores do sexo masculino. Os dados atualizados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Efeito Marçal bagunça disputa

Entrada de Pablo Marçal (PRTB) mudou os rumos da eleição e obrigou candidatos a corrigirem rotas de campanhas. Até o início da corrida, previa-se uma disputa polarizada entre Nunes e Boulos, com a reedição do confronto Lula versus Bolsonaro em 2022. No fim, o conflito entre esquerda e direita deu lugar a uma competição travada por Nunes e Marçal pelo voto bolsonarista.

Marçal fez campanha baseada em tom agressivo e mentiras contra adversários. O candidato disse que Tabata foi culpada pela morte do pai por suicídio e acusou Boulos diversas vezes, sem provas, de usar cocaína. Em debates, retomou denúncias de assédio sexual contra Datena e o boletim de ocorrência em que a esposa de Nunes o acusou de violência doméstica. Pelas condutas, foi condenado pela Justiça Eleitoral a apagar diversas postagens das redes e a publicar direitos de resposta dos adversários.

"Marçal dividiu a direita e rachou o bolsonarismo. Parte do bolsonarismo está com Nunes e parte com Marçal. Existe o risco de a gente ter um segundo turno imprevisível. Eu não descarto, até porque o Boulos tem um eleitor mais consolidado, um segundo turno entre Boulos e Marçal, que poderia acentuar a divisão à direita, uma vez que o embate entre o Marçal e o Ricardo Nunes ultrapassou a linha da racionalidade, da diplomacia, de tudo o que a gente imagina de debate civilizado."
Marcos Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas)

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Cadeiradas físicas e verbais

Momento em que Datena agride Marçal
Momento em que Datena agride Marçal Imagem: Reprodução

Disputa foi marcada por episódios inéditos de violência física entre os candidatos. No debate da TV Cultura, Datena desferiu uma cadeirada em Marçal, após ser provocado pelo adversário com acusações de assédio sexual. O debate do Grupo Flow terminou com Duda Lima, marqueteiro de Nunes, agredido com um soco no rosto dado por Nahuel Medina, sócio e videomaker de Marçal.

Eleição teve 11 debates no primeiro turno, número recorde. Anteriormente, a disputa com maior número de debates foi em 2016, com seis encontros entre os candidatos.

Episódios de agressão endureceram regras e obrigaram reforço da segurança. Cadeiras foram parafusadas no chão, portar armas no estúdio foi proibido e candidatos e suas equipes foram revistados por detector de metais. As regras passaram a proibir uso de apelidos para adversários, prever advertências e até expulsão do candidato — Marçal e Datena foram retirados de dois debates por descumprir normas.

Tabata ganha relevância

Tabata começou a campanha ofuscada, mas ganhou protagonismo com ataques a Marçal. A candidata foi a primeira a expor, em vídeos nas redes sociais, a proximidade do influenciador com figuras suspeitas de ligação com o PCC. A estratégia foi seguida por adversários como Nunes e Boulos, interessados em brecar o crescimento e aumentar a rejeição ao ex-coach nas pesquisas.

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Com 11% dos votos válidos no último Datafolha, apoio de Tabata ganha relevância em eventual segundo turno. Campanhas podem buscar aliança com a deputada e irão disputar o eleitorado dela. Tabata descartou apoiar algum candidato se ficar de fora da próxima etapa da corrida. "Não vou em palanque de ninguém", disse ela, em entrevista ao Flow.

O ocaso do PSDB

O PSDB deve ficar sem vaga no segundo turno pela primeira vez desde 2012. O partido apostou todas as fichas no apresentador José Luiz Datena, que aparece nas pesquisas com números próximos ao de um candidato nanico. O desempenho reforça o processo de desgaste da sigla, que perdeu o governo do estado na eleição de 2022 e, desde a última janela partidária, não tem nenhum vereador na capital.

Datena levou uma candidatura até o fim, mas se aproxima do pior desempenho do PSDB na capital. Após desistir outras quatro vezes, o apresentador começou a disputa flertando com a liderança nas pesquisas, mas logo viu suas intenções de voto derreterem. No último Datafolha, ele aparece com 4% dos votos válidos. Está atrás de Tabata Amaral, de quem inicialmente seria vice, mas abandonou a parceria para ser candidato pelo PSDB.

Candidatura de Datena se notabilizou por cadeirada em Marçal, símbolo da violência que marcou a eleição. O apresentador fez uma campanha com poucas agendas de rua e aparente desânimo. Disse publicamente que se candidatou na eleição errada, que seu desejo era concorrer ao Senado e chorou na sabatina UOL/Folha ao reconhecer ter tido desempenho aquém do esperado.

As regiões que podem definir a eleição

Quatro das cinco maiores zonas eleitorais de São Paulo ficam na zona sul da cidade. São elas: Piraporinha (1ª), Parelheiros (3ª), Grajaú (4ª) e Pedreira (5ª). Juntas, as regiões somam 858.972 eleitores, de acordo com o TRE-SP. A cidade possui, ao todo, 58 zonas eleitorais.

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Quatro delas espelham o resultado das eleições municipais e presidenciais — seja a vitória da esquerda, do centro ou da direita, desde 2010. Como mostrou o UOL, a zona leste abriga três delas, que funcionam como "bairros-pêndulo".

O resultado das urnas do Itaim Paulista, de Guaianases e do Jardim Helena foi o mesmo que o geral nas últimas sete eleições. Com essa característica e abrigando o maior colegiado eleitoral da cidade (um terço dos eleitores), a zona leste tem concentrado boa parte das agendas dos candidatos à prefeitura.

Levantamento feito pelo UOL mostrou que a zona sul recebeu o maior número de agendas dos candidatos na campanha. A região foi visitada mais de 80 vezes no período.

"Bairros-pêndulo" da cidade repetem a lógica dos "swing states" americanos. Nas eleições dos EUA, os "swing states" (estados-pêndulo) são aqueles nos quais não há maioria democrata ou republicana estabelecida. Em razão dessa característica, eles costumam ser decisivos para o resultado da disputa presidencial.

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