Nunes e Boulos derrotam Marçal e vão disputar segundo turno em SP

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) vão disputar o segundo turno das eleições paulistanas no próximo dia 27. Com 100% das urnas apuradas, o prefeito teve 29,48% dos votos válidos (1,8 milhão) e o deputado federal, 29,07% (1,78 milhão).

O resultado das urnas neste domingo (6), o mais acirrado desde a redemocratização, põe de novo a direita e a esquerda em confronto em São Paulo e colocará em campo os padrinhos políticos dos dois candidatos: o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o presidente Lula (PT). O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve um papel tímido na campanha de Nunes e deve aumentar sua presença neste segundo turno.

Pablo Marçal (PRTB), que disputou a liderança com os adversários nas pesquisas, ficou em terceiro lugar, com 28,14% (1,72 milhão) de votos — o equivalente a menos de um ponto percentual de ir para o segundo turno (e menos de 60 mil votos atrás de Boulos. O ex-coach embaralhou a corrida eleitoral e o cenário político da direita com ataques e factoides contra os demais candidatos — o último deles a publicação de um prontuário médico falso contra Boulos.

Tabata Amaral (PSB) ficou em quarto lugar, com 9,91% (605,6 mil votos), e já anunciou neste domingo que votará em Boulos no segundo turno. José Luiz Datena (PSDB) amargou o quinto lugar, com 1,84% (112,3 mil votos). O apresentador era a aposta dos tucanos para fortalecer o partido, que viu sua bancada na Câmara Municipal desaparecer após a debandada dos oito vereadores.

A campanha tímida nas ruas de Datena, que já havia desistido outras cinco vezes de se candidatar, enfraqueceu de vez o PSDB. Já a candidata do PSB, que se lançou à prefeitura pela primeira vez, não conseguiu avançar, apesar de ter crescido nas pesquisas após confrontar os adversários, especialmente Marçal.

Votos brancos somaram, 7,69% do eleitorado (520, 6 mil pessoas) — enquanto os nulos chegaram a 6,74% (456,3 mil eleitores).

Tarcísio é ovacionado em comitê de Nunes

O governador recebeu agradecimento especial do prefeito em pronunciamento na noite deste domingo — enquanto o Bolsonaro só foi citado quando Nunes elogiou o vice, o coronel aposentado da Polícia Militar Ricardo de Mello Araújo (PL), indicado pelo ex-presidente. O discurso teve ainda como alvo Boulos.

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[O eleitor agora terá que escolher] entre a ordem e a desordem, a experiência e inexperiência, a boa gestão e a interrogação, entre o diálogo, a ponderação, o equilíbrio e o radicalismo. Nós demonstramos que o diálogo possibilitou que nós tivéssemos esses avanços todos pela cidade. Em cada canto da cidade, nós temos um trabalho.
Ricardo Nunes (MDB), prefeito

O vice de Nunes havia saído em defesa de Bolsonaro durante a apuração dois votos. "Bolsonaro sempre apostou em Ricardo Nunes e colocou para representar a direita", disse.

Boulos chama Nunes de 'candidato de Jair Bolsonaro'

Boulos também criticou Nunes ao discursar após a apuração e disse esperar que a cidade "vote pela mudança".

Nunes é o candidato que acredita que Bolsonaro fez tudo certo na pandemia, que no primeiro turno se colocou contra a vacina, que acredita que o 8 de Janeiro foi um encontro de senhoras, e não uma tentativa de golpe.
Guilherme Boulos (PSOL)

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Aliados de Boulos comemoram o resultado, mas admitem que esperavam seguir para o segundo turno na liderança. A primeira parte da apuração foi de tensão na sala em que o candidato acompanhava a eleição — o psolista aparecia em 3º lugar até 30% das urnas serem apuradas.

Marçal se pronunciou também na noite deste domingo, se disse feliz com o resultado e afirmou que vai apoiar Nunes caso o prefeito se comprometa a adotar as suas propostas. O emedebista já havia afirmado que aceitaria o apoio do ex-coach.

O empresário disse também que "nunca mais vai disputar a Prefeitura de São Paulo" e que agiu de maneira extrema para conseguir ser conhecido e avançar na campanha. O discurso aconteceu depois de Marçal sair do local onde acompanhou a votação sem falar com apoiadores, que choraram na Paulista.

Uma campanha igual a minha, contra o sistema, não tinha garantia [de que iria para o segundo turno].
Pablo Marçal (PRTB)

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Próximos passos de Nunes e Boulos

Com a derrota de Marçal, Nunes e Boulos voltam ao quadro que trabalhavam na pré-campanha. A expectativa das equipes é que os padrinhos políticos — Tarcísio e Bolsonaro para o emedebista e Lula para o psolista — entrem com mais energia nas campanhas a partir de agora. O trio deve abraçar a missão de pedir votos e costurar alianças nas próximas semanas.

Entre os aliados de Nunes, há o consenso de que ele se saiu bem, mas terá que melhorar o desempenho em debates e sabatinas futuros. Nos embates do primeiro turno, apesar de conseguir divulgar sua gestão, acabou sendo o principal alvo de críticas dos adversários.

A expectativa de Nunes no segundo turno é angariar a maior parte dos votos de Marçal e Marina Helena (Novo), que obteve 1,38% dos votos (84,2 mil), em razão da afinidade ideológica entre eles.

Mapa de votação na cidade de São Paulo, por distritos
Mapa de votação na cidade de São Paulo, por distritos Imagem: Reprodução

A periferia continuará sendo o foco dos candidatos para o segundo turno. Os bairros dos extremos leste e sul da capital são responsáveis pelo maior número de eleitores na cidade. Historicamente, partidos de esquerda eram favoritos nessas regiões, mas desde a campanha de João Doria (hoje sem partido), em 2016, tem havido ascensão da direita nessas áreas.

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Neste primeiro turno, Nunes ganhou na maior parte da zona sul de São Paulo, em alguns distritos da zona norte e na Lapa (zona oeste). Boulos saiu vitorioso no extremo da zona leste e da zona oeste — e em Perus e Jaraguá, na zona norte.

Ao lado de Tarcísio, Nunes chega para votar neste domingo na zona sul de São Paulo
Ao lado de Tarcísio, Nunes chega para votar neste domingo na zona sul de São Paulo Imagem: LEANDRO CHEMALLE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

TV, padrinhos políticos e rua

O leque de apoiadores liderado por Tarcísio é trunfo da campanha de Nunes. Tarcísio teve participação constante nas agendas de rua e em ida a cultos com Nunes, também esteve na propaganda na TV e deu conselhos ao emedebista. A coligação do atual prefeito garantiu força política pela cidade — ele reúne 12 partidos, 6 mais que Boulos.

A ascensão de Marçal assustou a equipe de Nunes ao longo da campanha em razão da divisão de votos na direita. Até agosto, o atual prefeito disputava o primeiro lugar nas pesquisas com Boulos. O crescimento do ex-coach nas sondagens exigiu que o candidato à reeleição revisse a estratégia e só foi freado pela propaganda eleitoral na TV — 65% do horário era do emedebista. Nunes apresentou obras, programas e aproveitou também para atacar adversários.

Na campanha de Boulos, os apoios de Lula e da ex-prefeita e candidata a vice Marta Suplicy (PT) foram centrais. O presidente participou de agendas de rua, gravou para o horário eleitoral na TV e articulou apoios. Marta atuou nos bastidores para também atrair votos da periferia. O psolista foi um dos candidatos com mais campanha na rua.

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A campanha por voto útil de apoiadores nos últimos dias foi reforçada. Boulos foi apresentado como o único candidato possível do campo progressista e foi beneficiado pela desidratação das candidaturas de Tabata e Datena. Interlocutores do psolista já previam que uma parcela dos eleitores de ambos poderiam optar pelo voto útil em Boulos para evitar um segundo turno entre Nunes e Marçal.

Lula participa de evento de campanha de Boulos na Paulista, na véspera da eleição
Lula participa de evento de campanha de Boulos na Paulista, na véspera da eleição Imagem: FELIPE MARQUES/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Quem é Ricardo Nunes

É a primeira vez que Nunes, 56, disputa o cargo principal numa eleição municipal. Antes disso, o empresário foi eleito vereador em 2012 e 2016 e vice-prefeito na chapa de Bruno Covas (PSDB) em 2020.

Ele assumiu a prefeitura com a morte de Covas, em 2021, e não se elegeu deputado federal em 2014 e em 2018.

Quem é Guilherme Boulos

É a segunda vez que Boulos, 42, disputa a Prefeitura de São Paulo. Em 2020, ele chegou ao segundo turno com Covas, conseguiu 30%, mas foi derrotado pelo tucano.

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Em 2022 foi eleito deputado federal em São Paulo com mais de 1 milhão de votos. Em 2018, perdeu a disputa para a Presidência da República. Antes disso, foi coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), professor e psicanalista.

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