Vitória do PT em Fortaleza pode dar força a Camilo para sucessão de Lula

A eleição de Evandro Leitão (PT) para a Prefeitura de Fortaleza representa uma vitória para o ministro da Educação, Camilo Santana, que busca fortalecer seu nome na lista de sucessores do presidente Lula, segundo avaliação de aliados.

O que aconteceu

Petistas negam um plano B para 2026. Embora esteja cedo para definir, cardeais do partido afirmam que Lula vai disputar a reeleição. O próprio presidente dá declarações que oscilam entre sinalizar aposentadoria ou tentativa de se reeleger para evitar "que um negacionista volte". Mas isso não impede que outros nomes comecem a ser ventilados.

Camilo se empenhou muito na eleição de Leitão. O ministro foi o enviado especial para representar o governo Lula na capital cearense e reforçar a campanha no primeiro e no segundo turnos, participando de peças publicitárias, comícios e carreatas. O chefe da pasta de Educação até tirou férias para ampliar todo o seu capital político no estado que o elegeu senador em 2022, com 57,4% dos votos válidos.

Decisão por pouco mais de 10 mil votos. Leitão obteve 50,38% dos votos (716.133) com 100% das urnas apuradas. Seu adversário, André Fernandes, recebeu 46,62% dos votos (705.295 votos).

Ministro levou Lula a Fortaleza duas vezes. A capital cearense foi uma das maiores cidades em que o PT lançou candidato e onde a disputa estava mais acirrada, o que levou o presidente a visitar o município mais de uma vez.

Baixa influência dos irmãos Ferreira Gomes ajudou a projetar Camilo. Ciro e Cid Gomes apoiaram José Sarto (PDT), que nem foi ao segundo turno. Depois disso, se afastaram da campanha. Também perderam em Sobral, terra natal da família, que expôs um racha interno desde 2022.

Segundo turno foi ainda marcado por um racha no PDT, que viu lideranças se dividirem entre Fernandes e Leitão. A grande surpresa foi a adesão do ex-prefeito Roberto Cláudio à campanha do candidato do PL. O presidente licenciado e o presidente em exercício do PDT, Carlos Lupi e André Figueiredo, respectivamente, declaram apoio a Leitão e criticaram colegas que fizeram o contrário. Leitão deixou o PDT para concorrer pelo PT.

Além da missão de derrotar o bolsonarista André Fernandes (PL), Camilo tenta aumentar seu cacife dentro do PT. Ele busca ser alternativa principalmente entre aqueles que não veem chance de vitória do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já chegou a disputar a Presidência em 2018, quando Lula foi preso, e ainda é visto como uma possibilidade eleitoral por algumas alas da sigla. Ele mesmo não comenta o assunto e diz que a prerrogativa de concorrer em 2026 é de Lula.

PT fará discussão sobre rumos do partido. A executiva nacional do partido deve fazer análises ao longo da semana para discutir inclusive a troca do comando da sigla.

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Camilo precisa crescer para se destacar na lista da sucessão de Lula. A avaliação de caciques do partido é que a eleição em Fortaleza pode ajudar, mas o petista também precisa ter um bom desempenho como ministro da Educação e contar com uma conjuntura política favorável em 2026 ou 2030 para uma eventual disputa à Presidência, o que inclui também o comando da Câmara dos Deputados e do Senado.

Outras fileiras do partido lembram que há outros quadros na fila. Além de Haddad, os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, já foram citados como possíveis nomes para a sucessão de Lula.

Turnê do Pé-de-Meia para ganhar projeção nacional

O ministro da Educação lançou bolsa a estudantes em vários estados brasileiros. Principal vitrine do governo Lula, o programa que paga uma mesada para evitar a evasão escolar de alunos do ensino médio foi anunciado por Camilo de Norte a Sul do país em eventos pomposos, numa tentativa de divulgar a ação e também projetar sua imagem nacionalmente.

O programa, porém, pode acabar virando um problema para o governo. Reportagem do UOL mostrou que o MEC (Ministério da Educação) pagou neste ano R$ 3 bilhões aos beneficiários do Pé-de-Meia fora do Orçamento da União. A área técnica do TCU (Tribunal de Contas da União) recomendou ao ministro Augusto Nardes que instaure investigação "pela necessidade de completo esclarecimento, dada a sua relevância e possibilidade de reincidência".

Ele se dedica à eleição em Fortaleza porque tem compromisso e busca salvar a cidade e suas famílias do risco de ter um extremista irresponsável, como é o adversário do Evandro Leitão. Camilo Santana já conquistou projeção nacional e a ampliará pelo trabalho que vem fazendo no Ministério da Educação com o Pé-de-Meia, o programa de escola integral e a recuperação das universidades e institutos federais.
Alexandre Padilha (PT-SP), ministro das Relações Institucionais

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