Carlos Madeiro

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Com Ciro no muro, PDT racha em apoio a petista e bolsonarista em Fortaleza

Partido liderado no Ceará pelo ex-governador Ciro Gomes, o PDT está rachado no segundo turno da eleição para prefeito de Fortaleza. Depois de o prefeito Sarto (PDT) ter conseguido apenas 11% dos votos válidos e ficar fora do segundo turno, os líderes do partido estão divididos: há apoiadores tanto de Evandro Leitão (PT) quanto de André Fernandes (PL).

E há os que ficaram em cima do muro. Sarto se pronunciou na sexta-feira (11) afirmando que manteria neutralidade no segundo turno.

Ciro até agora não se pronunciou sobre apoios. Sua única fala após o primeiro turno foi um comentário postado na página da juventude do PDT cearense que criticava os nomes do partido que estavam apoiando um bolsonarista, Fernandes, para a prefeitura.

"Não sou, nem serei puxadinho do PT", disse Ciro no comentário, criticando o partido e afirmando que o pior que poderia acontecer em Fortaleza "seria a premiação do maior esquema de corrupção." Apesar do tom antipetista, ele não declarou apoio a Fernandes e se mostra em cima do muro. O post original foi apagado em seguida, mas o print do comentário circulou.

Procurado pela coluna, Ciro não respondeu qual será seu posicionamento no segundo turno de Fortaleza.

Adesão aos dois lados

Na semana passada, vereadores pedetistas com mandato ou eleitos para a próxima legislatura se posicionaram —a maioria deles, a favor de Fernandes. Dos sete nomes eleitos, cinco estão com o candidato do PL e dois com o do PT.

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Entre os que apoiam o bolsonarista está o presidente da Câmara dos Vereadores, Gardel Rolim, que entrou de cabeça na campanha dele, convocando seus eleitores para um "adesivaço"'. "Optamos pelo candidato André Fernandes, que está aberto ao diálogo para construir essa cidade que sonhamos e planejamos", disse em vídeo ao lado de colegas pedetistas.

Na sexta-feira (11), durante comício em Fortaleza, o presidente Lula cutucou Ciro e essa ala pedetista. Sem citar nomes, disse que eles "vão querer se vingar" e evitar a eleição de Evandro Leitão no segundo turno.

Evandro hoje tem contra ele aqueles que xingavam Luizianne [Lins, do PT, ex-prefeita de Fortaleza, que xingavam o Camilo [Santana, ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação]. Alguns, até, que eram amigo do Camilo, e que de repente começaram a falar mal do Camilo, e vocês sabem de quem estou falando. Essa gente não vale muita coisa.
Lula

Lula em comício do candidato Evandro Leitão com o governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana, em Fortaleza
Lula em comício do candidato Evandro Leitão com o governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana, em Fortaleza Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

De todos os apoios de lideranças do PDT anunciados até agora, o mais relevante foi o do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Claudio, candidato derrotado ao governo do Ceará em 2022. Na época, a escolha do seu nome pelo PDT foi o motivo do racha dos irmãos Ciro e Cid Gomes. Preterida, a então governadora Izolda Cela saiu do PDT e foi para o PT, apoiando o rival de Claudio, o petista Elmano de Freitas, que acabou vencendo.

No sábado (12), Claudio postou uma nota no seu Instagram anunciando apoio a Fernandes e justificando que, neste momento, é necessário dar um "voto útil".

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"O nosso estado vive a esse tempo o cenário de uma arrogante e soberba hegemonia política e administrativa, marcada pela perseguição e tentativa de destruição da reputação de instituições e pessoas que não se submetem a esse projeto", disse.

Em contra-ataque, nesta segunda-feira (14), o presidente nacional do PDT, André Figueiredo, divulgou vídeo ao lado de Leitão, anunciando apoio a ele. "Os ideais de [Leonel] Brizola [fundador do partido] têm de estar lado a lado de quem defende a democracia", alfinetou.

Risco e 'vingança'

Nos bastidores, segundo apurou o UOL, o PT entende que o apoio dessa ala pedetista, em especial de Roberto Claudio, a Fernandes é uma retaliação contra as vitórias petistas no Ceará nesses dois anos. Mas também traz uma aposta com cálculo político que visa enfraquecer o PT e, assim, evitar sua hegemonia, com o comando do estado e da capital ao mesmo tempo.

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Além disso, fontes do PT dizem acreditar que há outra aposta em jogo: a de que um eventual governo André Fernandes poderá ser repleto de falhas, abrindo portas para o PDT retornar em 2028.

Para Monalisa Torres, cientista política da Uece (Universidade Estadual do Ceará), a postura de uma ala pedetista à direita remete ainda às eleições de 2022. "Havia desde ali um entendimento de que, para vencer também fora do Ceará, era preciso se desvencilhar de toda e qualquer ligação com o PT local", diz.

Ela também cita um fator pessoal: Evandro Leitão era do PDT em 2022 e teria ajudado, como presidente da Assembleia Legislativa, a implodir a base de apoio da candidatura de Roberto Cláudio, após Izolda perder as prévias.

"As rugas que estamos vendo cada vez mais expostas hoje também remetem àquele momento", avalia.

Para ela, entre todos os políticos pedetistas que declararam apoio ao bolsonarismo, o que corre mais risco de perder capital político é Roberto Claudio, um ex-prefeito que deixou a gestão de Fortaleza bem avaliado e era tido como o melhor quadro do partido na era pós-Gomes.

Ele pode, em alguma medida, estar jogando na lata do lixo a sua própria história, sua trajetória política em 2020, quando era prefeito, pegou a fase inicial da pandemia e foi uma das pessoas que mais sofreu críticas do André Fernandes, que chegou a denunciá-lo em diferentes momentos, questionou a construção do hospital de campanha
Monalisa Torres

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