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Eleições municipais 2020: o avanço de DEM, PP e PSD, e o encolhimento de PT, PSDB e MDB

Eleições municipais também foram marcadas pelo fracasso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como cabo eleitoral - Reuters
Eleições municipais também foram marcadas pelo fracasso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como cabo eleitoral Imagem: Reuters

30/11/2020 09h54

O segundo turno das eleições municipais brasileiras consolidou neste domingo (29/11) o mapa do avanço e recuo dos principais partidos do país que já se desenhava no primeiro turno.

Em resumo, siglas que orbitam do centro à direita no espectro político, como DEM, PP, PSD e Republicanos, aumentaram significativamente em 2020 o número de prefeituras conquistadas em relação a 2016, com destaque para capitais e cidades médias e grandes.

Por outro lado, PSDB, MDB e PT foram os principais perdedores nessa comparação de Executivos municipais.

Os tucanos ainda governam a maior população do país, quatro capitais, mas estão cada vez mais limitados a São Paulo. O MDB governará o segundo maior número de habitantes, o maior número de prefeituras (cinco capitais), mas sofreu um recuo de 25% em relação a 2016.

E os petistas, que elegeram prefeitos em quatro capitais em 2012, acabaram sem nenhuma em 2020.

Por fim, não dá para deixar de mencionar o fracasso do presidente Jair Bolsonaro como cabo eleitoral em 2020. Seu principal aliado na disputa, Marcelo Crivella (Republicanos), não conseguiu se reeleger no Rio de Janeiro, e seu filho, Carlos Bolsonaro, teve menos votos para vereador do que em 2016. Para analistas, não é possível decretar o fim do bolsonarismo, mas o presidente demonstrou que perdeu força eleitoral.

Veja abaixo três destaques das urnas.

Partidos de centro e direita lideram vitórias

Três siglas que orbitam no espectro político que vai do centro à direita são as principais vencedores das eleições municipais de 2020.

Em números absolutos, o DEM obteve o maior número de prefeituras em relação a 2016, 197. O partido conquistou quatro capitais (recorde desde 1996) e aumentou em 70% o número de prefeituras em relação a 2016, de 268 para 466, segundo resultados eleitorais preliminares.

A sigla, liderada nacionalmente por Rodrigo Maia (RJ) e ACM Neto (BA), é mais forte no Centro-Oeste e no Sudeste, e mais fraca no Sul.

O PP, com a segunda maior vitória em números absolutos, passou de 495 para 685, um ganho de 190 prefeituras. A força do partido é percebida principalmente no Sul e no Nordeste, e em bem menor grau no Sudeste e no Norte.

A terceira maior vitória em prefeituras foi obtida pelo PSD, capitaneado pelo ex-ministro Gilberto Kassab (SP). O partido passou de 539 para 655 prefeituras em quatro anos, um aumento de 116 cidades, principalmente no Sul, no Nordeste e no Norte. A menor presença relativa da sigla é no Centro-Oeste.

Outro partido que foi bem na disputa foi o Republicanos, ex-PRB, o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus. A sigla perdeu o comando de sua principal cidade, o Rio de Janeiro, mas mais que dobrou o número de municípios governados: 105 para 221.

PP, PSD e Republicanos são partidos do chamado centrão, um bloco informal na Câmara dos Deputados que reúne parlamentares de legendas conservadoras, sem orientação ideológica clara.

Eles são conhecidos menos por suas bandeiras e mais pela característica de se aliar a governos diferentes, independentemente da ideologia. Na prática, integraram a base de apoio no Congresso dos últimos três presidentes: Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.

PSDB concentrado em São Paulo

Em 2020, o PSDB se manteve como o partido que governa a maior população em cidades, mas o partido sofreu um recuo considerável. Caiu de 799 prefeituras em 2016 para 521 neste ano, segundo dados preliminares.

Há quatro anos, o partido elegeu prefeitos em municípios que somavam 49 milhões de habitantes. Neste ano, esse total chega 34 milhões, com um certo fôlego em relação ao segundo colocado, o MDB, com 26 milhões.

A força eleitoral do partido em concentrada em prefeituras no Sudeste e no Centro-Oeste.

Mas um terço do total tucano se resume à capital paulista, com 12 milhões de habitantes, e quase metade da população do Estado, que totaliza 44 milhões. A vitória do atual prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB), deve ter influência sobre o xadrez em torno de uma candidatura do governador paulista, João Doria, à Presidência em 2022.

De um lado, o aliado de Doria conseguiu manter o comando da maior cidade do país. "A eleição de Covas é uma vitória importante para o PSDB porque a eleição de São Paulo tem impacto na política nacional", disse Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em entrevista à BBC News Brasil.

De outro, Covas evitou se associar ao governador durante a campanha eleitoral por causa da alta rejeição de Doria na capital paulista. "Doria foi eleito governador na onda do bolsonarismo, mas esse espírito de 2018 foi brutalmente derrotado nessas eleições, por isso que ele foi escondido", avalia cientista político Carlos Melo, professor do Insper, também em entrevista à BBC News Brasil.

PT encolhe ainda mais nas prefeituras

O PT chegou ao segundo turno em busca de uma recuperação ante o enorme recuo que sofreu na primeira rodada do pleito. A votação de 29/11 poderia garantir pelo menos a presença da sigla em cidades com mais de 200 mil habitantes.

Mas não foi isso que aconteceu.

Com candidatos em 15 das 57 cidades onde houve segundo turno, o PT venceu em quatro delas, nenhuma capital estadual.

Ao fim da apuração, os petistas se saíram vitoriosos em Contagem (MG), Diadema (SP), Juiz de Fora (MG) e Mauá (SP).

De 630 prefeitos eleitos em 2012, a sigla da estrela vermelha passou a 256 em 2016, e 183 este ano, segundo dados preliminares. É o 11º partido com mais prefeitos no país.

"O PT vai ter que se reinventar. O antipetismo ainda continua forte, está claro isso. Essas derrotas mostram que a rejeição ao PT ainda é forte. No segundo turno, vence quem tem menos rejeição", avaliou o cientista político Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em entrevista à BBC News Brasil.

O partido continua como força eleitoral de médio porte em prefeituras no Nordeste, no Norte e no Sul.