Ofensiva francesa avança para o norte do Mali e rebeldes fazem reféns na Argélia
O ministro da Defesa da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou nesta quarta-feira (16) que o Exército francês "está avançando em direção ao norte" do Mali.
Segundo Le Drian, por enquanto a chamada "Operação Cerval", que hoje entra em seu sexto dia, conseguiu impedir o avanço dos rebeldes para o sul, mas enfrenta forte resistência no oeste, "onde se encontram os grupos mais duros, os mais fanáticos, os mais organizados".
A França segue auxiliando a operação contra grupos de rebeldes islâmicos que dominaram o norte do Mali há cerca de nove meses. Os ataques têm sido essencialmente aéreos, mas devem contar agora com blindados.
Esse avanço, segundo a imprensa francesa, implica que as tropas se movam para a cidade de Diabali, a 400 km da capital Bamaco, nas imediações da fronteira com a Mauritânia, tomada na segunda-feira (14) pelos rebeldes. Ontem, forças francesas bombardearam o local.
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Tomada de Diabali e confusão na Argélia
A tomada de Diabali foi comandada pelo argelino Abu Zeid, um dos chefes da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), segundo fonte da segurança regional. A ação acontece depois da base dos rebeldes, no norte do país, ter sido bombardeada no domingo (13). Mais de 60 jihadistas morreram nesse primeiro ataque.
Com a ofensiva, parte dos rebeldes foram para a Argélia, que faz fronteira com o norte do Mali, e invadiram hoje um alojamento de funcionários de instalações petroleiras da BP (British Petroleum) na região de In Aménas, perto da fronteira com a Líbia. Pelo menos uma pessoa morreu, seis ficaram feridas e outras foram feitas reféns. Um combatente contatado por telefone afirmou que os agressores são membros da Al Qaeda, vindos do Mali.
A França conta com 1.700 militares envolvidos na operação, dos quais 800 em solo malinês, e nos próximos dias o contingente pode chegar a 2.500 homens, diz o ministro.
Operação apenas militar
O almirante Édouard Guillaud, do Exército francês, assegurou que o objetivo da operação é puramente militar. "Quando os jihadistas se instalam em uma cidade, aterrorizam a população e tendem a utilizá-la como escudo humano. Nos negamos a deixar que a população corra riscos. Perante a dúvida, não dispararemos; os isolaremos", disse ele, referindo-se às ordens do presidente da França, François Hollande.
Hollande declarou ontem que "a França seguirá tendo forças em terra e ar" para combater os grupos. Os jihadistas anunciaram que atingirão "o coração da França": "A França atacou o Islã. Vamos atingir o coração da França", disse. Abou Dardar, um dos líderes do Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (Mujao).
República do Mali
Capital: Bamaco
População: 15,5 milhões (2012)
Língua oficial: francês
PIB: US$ 17,9 bilhões (2011)
Tamanho: 7º maior país da África
Divisão religiosa: 90% muçulmanos, 1% cristãos
e 9% crenças indígenas
Apoio internacional
Em Nova York (EUA), a França obteve "a compreensão e o apoio" do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou a necessidade de uma reconciliação política.
A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) também declarou apoio à intervenção e disse acreditar que a operação irá acabar com a ameaça dos grupos terroristas, ao mesmo tempo em que frisou que não tem intenção de participar.
Já o secretário-geral da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), Ekmeleddin Ihsanoglu, pediu um cessar-fogo imediato no Mali.
Vários países europeus, entre eles o Reino Unido, e os Estados Unidos dão apoio logístico ao Exército francês, que conta com o respaldo da maior parte da comunidade internacional.
Guerra contra o terrorismo
Desde sexta (11), a França se declarou em "guerra contra o terrorismo" no Mali, após Hollande aceitar pedido de ajuda feito pelo governo da antiga colônia francesa, na quinta (10).
Há uma disputa de forças entre os militares, vinculados ao governo, e os radicais. Os franceses apoiam os militares.
Cerca de 3.000 soldados de países vizinhos ao Mali, no oeste da África, estão se preparando para se juntar às forças francesas, que tomará o lugar da operação francesa.
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, disse que a intervenção será encerrada em "questão de semanas". Ele rejeitou qualquer semelhança entre a operação com a ação dos Estados Unidos contra o Taleban no Afeganistão, que já dura 11 anos.
Os grupos, denominados radicais, invadiram a região norte durante o golpe de Estado de 22 de março de 2012, que derrubou o então presidente Amadou Toumani Touré.
Em apoio aos grupos islâmicos estão integrantes da Al Qaeda, do Magrebe Islâmico (AQMI), e dos movimentos Ansar Dine e Mujao.
Cerca de 150 mil pessoas fugiram do conflito no Mali em direção aos países vizinhos, aponta o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
A organização informou que há cerca de 230 mil deslocados dentro do país. (Com agências internacionais)
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