Topo

Provas do uso de armas químicas na Síria são "indiscutíveis", diz chefe da ONU

Do UOL, em São Paulo

16/09/2013 11h34Atualizada em 16/09/2013 14h05

O relatório feito por inspetores da ONU (Organização das Nações Unidas), que foi apresentado nesta segunda-feira (16), traz evidências do uso do gás sarin no ataque químico contra civis do último dia 21 de agosto nos arredores de Damasco, capital da Síria.

"Os resultados são impressionantes e indiscutíveis. Os fatos falam por si. A Missão das Nações Unidas já confirmou, de forma inequívoca e objetiva, que armas químicas foram usadas na Síria", afirmou, em um comunicado publicado nesta segunda, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

"As amostras ambientais, químicas e médicas que coletamos fornecem evidências claras e convincentes de que mísseis terra-terra contendo o agente neurológico sarin foram utilizados", afirma a primeira página do relatório.

O gás sarin é um líquido sem cor e sem cheiro, usado como arma química, pois ataca o sistema nervoso. O composto é classificado como arma de destruição em massa e tem o uso proibido pela Convenção sobre Armas Químicas, de 1993, da ONU.

Os especialistas da ONU afirmam que, baseados nas evidências encontradas, "a conclusão é que armas químicas foram utilizadas no conflito em curso entre as partes na República Árabe da Síria... contra civis, incluindo crianças, em uma escala relativamente grande".

Segundo o documento, 85% das amostras de sangue testaram positivo para o gás sarin. "Amostras biomédicas foram retiradas de 34 dos 36 pacientes selecionados pela missão que tinham sinais de envenenamento. Quase todas deram positivo para a exposição ao sarin", afirma o documento.

O resultado foi confirmado por avaliações clínicas feitas pelos inspetores. Os sintomas mostram que as vítimas foram expostas ao agente nervoso.

"Um grande número de pacientes afetados foi diagnosticado com intoxicação por um composto organofosforado, e mostrou claramente os sintomas associados com sarin, incluindo perda de consciência, falta de ar, visão turva, inflamação dos olhos, vômitos e convulsões."

A maioria das amostras ambientais também confirmou a utilização de sarin. Além disso, a equipe examinou os foguetes que carregaram os compostos químicos. Todos foram fotografados e medidos. A maioria transportava sarin.

A portas fechadas, no Conselho de Segurança da ONU, Ban disse que o uso de armas químicas na Síria constitui um crime de guerra e exigiu uma resolução que apoie o desmantelamento desse arsenal.

Os especialistas da ONU, que viajaram à Síria no mês passado, não estão autorizados a dizer quem realizou o ataque. O ataque desencadeou ameaças dos Estados Unidos e de outros países ocidentais de uma ofensiva militar contra as forças do presidente Bashar Assad. Os Estados Unidos afirmam que mais de 1.400 pessoas morreram neste incidente.

Embora esta ameaça militar tenha sido abrandada depois que a Rússia e os Estados Unidos entraram em acordo para colocar as armas químicas sírias sob controle internacional, o relatório da ONU deve influenciar quais medidas serão tomadas para fazer Assad cumprir o trato.

Outros ataques químicos

Já a comissão da ONU que investiga violação de direitos humanos na Síria revelou que a entidade investiga 14 possíveis ataques com armas químicas no país.

Segundo o responsável pela Comissão Internacional de Inquérito para a Síria, o brasileiro Paulo Sergio Pinheiro, peritos da ONU ainda não conseguiram determinar quais compostos foram usados nos ataques, e disse que "a grande maioria" das casualidades da guerra civil síria foi provocada por armamentos convencionais.

De acordo com ele, a comissão que estuda o uso de armas químicas no conflito acredita que Bashar al-Assad cometeu crimes de guerra e crimes contra a humanidade, enquanto que os grupos rebeldes são responsáveis apenas por crimes de guerra, "já que a cadeia de comando dos grupos não é clara".

No entanto, ele confirma que os rebeldes estão cometendo mais abusos na Síria.

"Por todo norte da Síria tem havido um aumento de crimes e abusos cometidos por grupos de extremistas armados antigoverno e também um fluxo de entrada de combatentes rebeldes estrangeiros", disse Pinheiro, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

"Brigadas inteiras são agora formadas por combatentes que entraram na Síria. O Al Muhajireen é uma das ativas", acrescentou.

Os investigadores haviam dito anteriormente que combatentes estrangeiros de mais de 10 países, incluindo do Afeganistão e da região russa da Chechênia, assim como forças da Al Nusra, ligada à Al Qaeda, apoiam os rebeldes sírios. O Hezbollah, do Líbano, luta ao lado das forças do governo.

"Agora deve haver mais. A questão é que esses elementos extremos possuem sua própria agenda e certamente não é uma agenda democrática que querem impor", disse o membro da comissão Vitit Muntarbhorn.

Pinheiro, que relata sobre suspeitas de crimes de guerra desde 15 de julho, disse também que o governo sírio continua sua campanha implacável de bombardeios aéreos e de artilharia por todo o país.

Uma bomba incendiária lançada por um avião de guerra do governo sobre uma escola no interior de Aleppo em 26 de agosto matou pelo menos 8 estudantes e 50 sofreram queimaduras horríveis em até 80 por cento do corpo, disse ele, citando relatos de sobreviventes. (Com agências internacionais)