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Golpe ou manobra? Turcos se dividem sobre eventos de sexta, avalia brasileira

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

16/07/2016 17h30

Em Istambul --maior cidade da Turquia-- desde o início do mês, a engenheira brasileira Daiane Tozzi, 30, ficou sabendo que uma tentativa de golpe de Estado estava em curso no país na noite de sexta (15) pelo WhatsApp. “Há um grupo das pessoas da minha empresa que estão na Turquia e recebemos uma mensagem informando que as pontes estavam bloqueadas e que deveríamos todos ir para casa porque ninguém sabia o que estava acontecendo”, contou ao UOL.

“Logo a seguir, também pelo WhatsApp nos informaram que poderia ser um golpe de Estado”. Daiane, que vive em Lisboa, capital portuguesa, está na Turquia em viagem de trabalho. 

Até o momento, autoridades apontam que ao menos 265 pessoas morreram durante os eventos de sexta; 2.800 militares foram detidos. 

Daiane estava em um restaurante quando recebeu as mensagens. “Pude observar que a rua esvaziou-se rapidamente. Ninguém sabia o que estava acontecendo, mas todos tinham algum medo. Em pouco tempo, as ruas estavam vazias. Eu fui logo para casa e não saí até hoje [sábado] à tarde”. Ela está em um flat em um bairro muito próximo da praça Taksim, onde os manifestantes pró-governo se reúnem.

16.jul.2016 - A engenheira brasileira Daiane Tozzi, 30, está em Istambul, na Turquia, desde 4 de julho - Arquivo Pessoal/Daiane Tozzi - Arquivo Pessoal/Daiane Tozzi
A engenheira brasileira Daiane Tozzi, 30, está em Istambul desde 4 de julho
Imagem: Arquivo Pessoal/Daiane Tozzi

A brasileira acompanhou o que acontecia nas ruas do país pela televisão. “Não havia informações coerentes sobre o que estava acontecendo e eu temi por minha segurança. Ao longo da noite, quando a informação do golpe já estava confirmada, o povo começou a sair à rua. Foi inacreditável, uma multidão, carros buzinando e podia-se ouvir também os chamados das mesquitas para as pessoas saírem à rua.”

Medo

O que também causava temor em Daiane era o som de caças militares sobrevoando Istambul. “Todos os canais de televisão estavam transmitindo imagem das manifestações, do bombardeio do Parlamento em Ancara [capital do país] e dos confrontos com os militares. Também foi um pouco assustador perceber que, com as pontes bloqueadas e o aeroporto fechado, ninguém poderia entrar nem sair da cidade. Estávamos presos aqui.”

Porém, parte dos cidadãos turcos não tem certeza absoluta de que os eventos da noite de sexta eram uma tentativa de golpe de Estado, na avaliação da engenheira.

“Há muita gente que acredita que foi golpe, mas também há muita gente que acredita que foi tudo arquitetado pelo presidente. Sobretudo os mais jovens partilham dessa opinião”

Apesar do clima de festa pelas ruas e de o governo turco ter dito que a situação no país está "completamente sob controle", Daiane não tem essa sensação. “Hoje, recebi um SMS do governo turco convocando as pessoas para saírem à rua e manifestarem-se. Todas as pessoas estão recebendo esse SMS! Isso me deixa em dúvida se o governo quer mostrar o apoio popular ou se fortalecer”. Ela também teme uma possível reação dos militares.

Retorno

Apesar de ter planejado voltar a Portugal apenas em 5 de agosto, após os acontecimentos, Daiane já está prestes a deixar a Turquia. “Cancelei todos os meus planos para este fim de semana e permanecerei em casa. Também adiantei o meu regresso a Lisboa”, diz a brasileira. A empresa para a qual ela trabalha está providenciando a viagem de retorno dela. “Porém, não há garantia de segurança no aeroporto. Apenas sairei de Istambul quando houver o mínimo de segurança garantido”.

Com a tensão na Turquia, Daiane viu a preocupação surgir em seus parentes e amigos. “Todos eles disseram pare eu regressar o mais rápido possível. Acredito que eles estavam mais assustados do que eu. Pela TV, parece que os confrontos eram por todo lado, mas a verdade é que foi tudo muito concentrado em determinadas zonas da cidade. Não era algo que estava acontecendo em cada esquina. Na região onde estou, não houve nenhum conflito”.

Contudo, a experiência não a fará desistir de visitar a Turquia futuramente. “Assim que a situação se acalmar, eu voltarei sem nenhum problema.”