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Chanceler cobra reconhecimento por resultado de viagem de Bolsonaro aos EUA

Leandro Prazeres e Talita Marchao

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

20/03/2019 16h45Atualizada em 20/03/2019 17h54

A primeira entrevista coletiva concedida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, após o retorno da comitiva brasileira a Washington foi marcada por um embaixador exaltado que tentou, em vários momentos, mostrar que parte dos resultados considerados como positivos da viagem aos Estados Unidos foi mérito seu. As declarações acontecem após ele ter sido preterido pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) durante a reunião privada entre os presidentes Jair Bolsonaro (PSL) e Donald Trump.

"A gente está tentando fazer um governo com ideias e uma política externa com ideias. Quem não gosta de ideias, não gosta porque a gente tem ideias. Existe uma conexão entre as minhas ideias e os resultados que conseguimos nos EUA. Era isso que eu queria falar. Gostam dos resultados que obtivemos nos Estados Unidos? Então tá! Então reconheçam que parte disso aqui são as ideias que venho desenvolvendo", afirmou.

Para enfatizar sua participação nos resultados da visita, Ernesto fez metáforas até com o Papai Noel. "Uma dimensão curiosa da cobertura da visita é dizer que houve um excelente pacote de resultados e não dizer como o pacote surgiu. Como se estivéssemos caminhando e disséssemos: 'olha...tropecei num pacote. Olha.. a OCDE está aqui. Ih...olha só, aqui tem o Brasil sendo um grande aliado da Otan, que bom. De onde é que caiu isso aqui? Quem será que deixou isso aqui? O Papai Noel?'. Foram muitas pessoas trabalhando", afirmou o chanceler.

Questionado sobre o suposto incômodo por ele não ter participado da reunião privada entre Bolsonaro e Trump, Ernesto disse ter ficado feliz com a participação de Eduardo Bolsonaro no encontro.

"Me senti distinguido [com a participação de Eduardo na reunião] porque ele comunga das mesmas ideias que eu. Fiquei muito feliz. Não teve nada de que eu tenha tido algum problema com isso. Vamos continuar trabalhando em equipe", afirmou.

Ernesto se referia às notícias de que ele teve um "chilique" por Eduardo Bolsonaro, e não ele, ter participado do encontro entre os presidentes. "Também houve o detalhe de que secretário de Estado, Mike Pompeo, não estava presente. Eu sou contraparte do secretário de estado norte-americano, não haveria porquê eu participar", disse o ministro.

Brasil mira OCDE

Perguntado sobre a questão de abrir mão do tratamento diferenciado de "país em desenvolvimento" na OMC (Organização Mundial do Comércio) para conseguir o apoio dos EUA para a candidatura brasileira no ingresso da OCDE, Ernesto disse ainda não saber se os atuais acordos econômicos brasileiros seriam afetados. "O tratamento diferenciado [na OMC] nunca nos tirou de onde nós estávamos, então alguma coisa está errada", disse.

"Isso requer uma preparação técnica, porque a OMC é um labirinto jurídico de acordos e decisões. O que estamos apontando é a determinação, temos que ver exatamente como implementar isso. Mas a determinação é claríssima, é de não nos colocarmos nessa posição de eterno país em desenvolvimento, de assumir a nossa posição de país grande com sua expectativa de desenvolvimento, de crescimento. Mas abandonar essa ótica do 'em desenvolvimento'", explicou o chanceler.

Araújo disse ter feito contatos com interlocutores americanos, incluindo o secretário de Estado dos EUA, para mostrar que "nós tínhamos um novo Brasil". "O Brasil precisava aderir aos dois grandes instrumentos do Ocidente, a OCDE e a Organização do Tratado do Atlântico Norte [Otan]", disse.

Segundo ele, os EUA procuraram a equipe de Bolsonaro antes mesmo da posse para saber se "o Brasil iria cair na velha política externa, que é o que muita gente queria". "Queriam um novo governo, mas com a política externa de sempre."

Araújo destacou então que é a nova imagem do país que o governo quer imprimir é fruto de seu esforço. "E [os EUA] foram testando e viram que esse Brasil era para valer. E eu, pessoalmente, fiz um grande esforço para mostrar que era este o caso, sob orientação do presidente", completou Araújo. Segundo ele, isso é resultado de milhares de horas de reuniões, conversas, palestras, telefonemas, e-mails, WhatsApps. "Não é uma coisa que cai do céu."