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Carta do Exército dos EUA fala em deixar Iraque; governo americano nega

Ahmad al-Rubaye - 2.jan.2020/AFP
Imagem: Ahmad al-Rubaye - 2.jan.2020/AFP

Do UOL, em São Paulo

06/01/2020 17h51Atualizada em 06/01/2020 20h34

Resumo da notícia

  • Carta apontava que Exército dos EUA iria retirar suas tropas do Iraque
  • General e governo americano negaram a carta, que seria um "rascunho"
  • Os EUA negaram que tenham planos de deixar o território iraquiano

Após a divulgação de uma carta do Exército americano que anunciava a retirada das tropas do Iraque, o general do Exército dos EUA, Mark Milley, chefe do Estado-Maior, falou que o documento era um "rascunho mal redigido". "Mal escrita, implica retirada. Não é isso que está acontecendo", disse a um grupo de repórteres, enfatizando que não há planos de retirada.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, também negou que o país tenha planos de deixar a coalizão em território iraquiano. "Não há qualquer decisão de abandonar o Iraque (...). Não adotamos a decisão de sair do Iraque. Ponto", comentou Esper.

Mais cedo, uma carta das Forças Armadas dos Estados Unidos anunciava que iria começar "uma retirada do Iraque segura e eficaz" das forças de coalização antijihadista. A informação foi divulgada pelas agências de notícias Reuters e AFP.

Dois dirigentes militares confirmaram à AFP a autenticidade da carta, assinada pelo comandante das operações militares americanas no Iraque, brigadeiro-general William H. Seely.

"Respeitamos a sua decisão soberana que ordena a nossa partida", escreveu Seely. A carta foi feita um dia depois de o Parlamento iraquiano aprovar uma moção para exigir que o governo do país expulse as tropas estrangeiras do Iraque.

Na carta, o comandante disse que "vai reposicionar suas forças nos próximos dias e semanas para se preparar para o movimento adiante".

Governo americano nega

O governo americano, indagado em Washington sobre o conteúdo da carta, negou a retirada de suas forças no Iraque.

"Não sei o que é essa carta... Estamos tentando descobrir de onde vem isso, o que é isso."

Esper disse que os EUA seguem comprometidos em combater o Estado Islâmico no Iraque, ao lado de seus aliados e parceiros.

Segundo a CNN, um oficial americano disse à emissora que a carta era apenas uma notificação sobre reposicionamento de tropas dentro do país, e não o anúncio de uma retirada.

Coalizão criada contra o EI

A coalizão antijihadista no Iraque é uma força-tarefa composta pelas Forças Armadas americanas com forças iraquianas e de outros países para combater insurreições jihadistas — grupos que pregam a luta do Islã contra "infiéis" de outras religiões — no território iraquiano. Os EUA mantém 5 mil militares no país.

A coalização foi formada para combater o EI (Estado Islâmico), que, em 2014, chegou a dominar um terço do território do Iraque. Após o anúncio da derrota deste grupo terrorista, a coalizão, formada por EUA, Iraque e mais 74 países, passou a combater principalmente outros grupos sunitas radicais concentrados no oeste do país.

Atualmente, o acordo legal entre Bagdá e Washington estabelece que as tropas americanas estão no Iraque "a convite" do governo iraquiano. Desde agosto, por exemplo, a coalizão só pode realizar ataques com autorização do governo iraquiano.

Os sunitas integram a seita islâmica majoritária que influenciava a política iraquiana antes da prisão e morte de Saddam Hussein.

Iraque decide expulsar tropas americanas

No domingo, em resposta ao ataque contra o general Qassim Suleimani, uma das principais lideranças do Irã, ocorrido em Bagdá, capital do país, o Parlamento do Iraque decidiu expulsar as tropas norte-americanas de seu território.

Desde o dia 2 de janeiro —quando um bombardeio feito por um drone americano matou Suleimani e ao menos outras oito pessoas em um aeroporto de Bagdá, capital iraquiana— a tensão entre Estados Unidos e Irã vem aumentando, apesar dos apelos da comunidade internacional para uma saída pacífica para a crise.

Considerado um dos homens mais importantes do seu país, Suleimani era o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã. Ele teve participação direta na guerra da Síria, articulando o apoio iraniano às milícias sírias que combateram o Estado Islâmico e defenderam o regime do presidente Bashar Al Assad.

No domingo, Irã teve homenagens a general morto

AFP

Promessa de vingança

Logo após a morte do general, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, prometeu "vingança implacável" contra os norte-americanos.

"O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes anos (...) Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com seu sangue e a de outros mártires", afirmou o aiatolá Khamenei em sua conta no Twitter, em farsi.

A filha de Suleimani, Zeinab Suleimani, encontrou-se com Khamenei e o presidente iraniano, Hassan Rouhani, no último sábado (4). No encontro, ela pediu aos comandantes do país que seu pai fosse vingado.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, classificou a ação dos EUA como "escalada extremamente perigosa e imprudente".

Retrocesso em acordo nuclear

Em resposta ao ataque americano, o governo iraniano anunciou que não estabeleceria mais limites ao enriquecimento de urânio em seu programa nuclear —as autoridades locais sustentam que o projeto tem fins pacíficos.

Para analistas, o anúncio marca o fim o acordo nuclear firmado entre o Irã e as principais potências militares mundiais (EUA, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha). Em 2015, os iranianos se comprometeram a limitar o enriquecimento de urânio em suas usinas, em troca da reavaliação de sanções econômicas impostas ao país pelo Ocidente.

Trump decidiu, em maio de 2018, romper o trato, impondo novas sanções ao Irã. O presidente norte-americano adotou a justificativa de que o país patrocinava grupos terroristas e estaria perto de obter armas nucleares.

Líderes europeus pedem "responsabilidade"

No domingo (5), os principais líderes europeus divulgaram um comunicado defendendo uma solução pacífica para a relação entre Estados Unidos e Irã.

Angela Merkel (chanceler da Alemanha), Emmanuel Macron (presidente da França) e Boris Johnson (primeiro-ministro do Reino Unido) assinam o comunicado. No texto, o grupo diz estar "profundamente preocupado com o papel negativo que o Irã tem desempenhado na região, particularmente por meio das Guardas Revolucionárias e da unidade al-Quds sob o comando do general Suleimani".

Os líderes europeus não citaram nominalmente os Estados Unidos na nota. Mas pregaram que "é urgente reduzir esta escalada. Apelamos a todas as partes que mostrem máxima moderação e responsabilidade. A atual espiral de violência no Iraque deve terminar. Particularmente, convocamos o Irã a evitar futuras ações violentas ou o apoio a elas", diz o comunicado de Merkel, Macron e Johnson.

(Com AFP e Reuters)